Na manhã que eu nasci chovia pra cacete, temporal do brabo ! Raios, trovões, muita lama, tudo inundado. E aí a parteira avisou, este bichinho tá encruado ! Minha avó feiticeira, macumbeira de quatro costados, quimbandeira famosa fez promessa pros Santos pedindo os seus cuidados. Iemanjá foi a primeira e a ela fui destinado, muita pipoca depois, Omulú então se achegou, Xangô apareceu depois, só pra ficar complicado ! Mamãe Oxum se enamorou e até hoje está do meu lado. Assim que eu nasci, abriu um sol cristalino e a vida estava ai consumada.
Filho de operários, infância pobre, de pés descalços, moleque de rua, morei em favela (antigamente se chamava morro!), adolescente problema, tipo bem desajustado, caí na vida muito cedo, a primeira vez aos quatorze, exuberante priminha, quase fui violentado, no final ela teve pena e me tratou com cuidado.
Estudante brilhante, dos mais inquietos, escolas públicas da vida, aos dezoito subversivo, levei até porrada! Minha mãe também comunista, depois virei anarquista, nos dois sentidos, é claro ! Sempre fui artista, a música e a poesia a gritar dilaceradas por ser então um cabra tão descuidado que não levava nada a sério e que não honrava o seu dom. Mergulhei bem fundo aos vinte, muita ervas, viagens, por quatro anos drogado, depois parei assustado, já estava vendo e falando com seres estranhos, engraçados... Muita inquietude presente, muita cachaça, aguardente, alcoólatra confesso, dos vinte aos quarenta e aí parei de repente, pancreatite, cirrose, quase morri ou me matei! Melhor nem pensar ! Alguma coisa lá dentro meu deu força e aí eu voltei a vida, só para mostrar para esta gente, o quanto é duro matar aquele que nasceu "coroado"!
Algumas mulheres importantes me ensinaram tudo o que eu sei. Grandes e maravilhosas mulheres, angelicais, feiticeiras, mestras, protetoras e parceiras, responsáveis na minha vida por muita dor e prazer. Sou casado já fazem, ou já faz 25 anos, grande mulher, dedicada, tenho uma filha com 20, geneticamente inquieta, já cursei três faculdade, nenhuma delas terminei. Hoje sou um ser mais ou menos apaziguado, espírita convicto, que caminha por suas crenças e se acha um homem sem fé.
Vários concurso públicos, em dois eu passei, PETROBRAS foi uma escola ! Lá vi a morte bem de perto, depois virei um bancário e virei gerente de gente, virei um profissional conceituado, hoje considerado ultrapassado, mas ainda assim um mestre para muitos que por aqui vão passando em busca de aprendizado naquilo que eu mais sei.
Faltam ainda dezesseis meses, logo me transformo num aposentado e aí mergulhar nesta que vai ser a minha melhor viagem, música, poesia e meus quadros e sem esquecer das pessoas, quero me dedicar a caridade como um bom cristão e espírita, fazer o que eu sempre sonhei.
As entidades que me trouxeram, ainda estão do meu lado ! São belas, amigas e responsáveis por toda a força que eu tenho, por tanta compreensão conquistada e desconfio seriamente por alguns belos poemas que pela graça de Deus eu fui capaz de escrever.
Mais não posso dizer ! Muitos segredos guardados, alguns transformo em poemas, outros ainda cristalizados e a espera que eu possa trazer para as pessoas as coisas boas que eu aprendi ao viver.


naldovelho@superig.com.br
http://www.neupoesias.hpg.ig.com.br/naldo/indice.htm

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Minhas Escritas



COISAS TÃO PLENAS

Trago comigo coisas tão plenas,
Prosas em versos, cantigas, poemas,
Serenas mensagens de amor e saudade,
Vivências que a vida preservou para mim.


Trago braçadas de rosas vermelhas
E os braços feridos, espinhos, certezas,
Brancos crisântemos, delicados jasmins,
Mistura de essências de um sagrado jardim.

Trago comigo histórias de vida,
Trilhas abertas em horas incertas,
As mãos calejadas por aparar as arestas
No esculpir dos sonhos que ousei projetar.

Trago comigo frutas tão tenras,
O vinho extraído na inclemência do tempo,
O suor e sol na colheita do sal
E um sorriso nos olhos pra poder te ofertar.

Trago comigo o segredo dos magos,
Desfaço embaraços, armadilhas, feitiços
E das ervas trago o bálsamo, a cura precisa
Pros males que o homem teima em criar.

Trago comigo a força dos ventos,
Do ciclo das águas trago a clareza,
Também trago um hino à vida que temos
E a certeza de um dia nos reencontrar.

NaldoVelho




TIRA O DEDO DA FERIDA

Tira o dedo da ferida!
Tira as lascas de unha
Que você deixou
Em minhas costas cravadas
E que toda a vez que você chama
Doem e inflamam.
Tira os espinhos da roseira,
Que vieram com a flor primeira,
Eles arranham e sangram!
Tira o esqueleto da dispensa,
O amuleto do pescoço
E aquele retrato amarelado,
Da cabeceira da cama.
Tira as carpideiras da sala,
De chorar já tão cansadas,
Por conta de tantas partidas.
Aproveita e apaga o meu nome
Da pedra fria e empoeirada
Por tanta espera, desiludida.
Tira o vestido preto
E o solidéu circunspectro
Que você costuma em usar,
Tira?
Tira as farpas que por tanto tempo,
Sem nenhum constrangimento,
Você lançou sobre mim.
Não existe o amor derradeiro,
Sempre é o tempo que temos
Para sonhar, para ousar e para amar.
Tira o trinco da janela,
Chama o sol pra bem perto,
Arruma de vez sua cama
E sorria que a vida se assanha
E traz descobertas tamanhas,
Você nem vai acreditar !


Autor: NaldoVelho


O CAMINHO CONTRÁRIO
NALDOVELHO


Quem me dera poder viajar,

atravessar um oceano e meio,

fazer o caminho contrário,

invadir Lisboa de assalto,

gritando o teu nome bem alto,

revelar o que eu sinto por ti.

Quem dera os teus olhos castanhos,

pudessem ver o tamanho

da saudade que eu trago em meu peito

e a beleza deste sonho que eu choro,

e que diariamente eu imploro

que o tempo me leve de volta

pra poder dizer que te amo.

Trás dos Montes, Leiria Grande, te quero !

Pois sei que ainda sou o teu dono,

e sei que ainda levas minha marcas,

por mais que negues meu sonho,

por mais que digas não quero !

Os teus olhos me dizem ao contrário,

e o tremor das minhas pernas

denunciam o segredo

que eu guardo e que hoje revelo:

tu ainda és dona de tudo

que o meu coração possa almejar.