“O mio nomi é Pimpinello Rizoni, ma podi me tratá só di Pimpinello. O Orra meu! Io sô da Móca! O Rizoni é só perquê tenho pelo rizo uno amore piú grandi.

Io nó nasci na Intália, sô apena neto de intaliano e d’ispanhó. Come giá dice, io nasci na Móca, naqüela qui chiamavam di Móca-baxa, precizamenti na Rua Coroné Bento Pires, qui ainda fica nas ridondezas do inízio da Avenita Radiá Lesti, bem atráis do hospitale D. Pedro II, pertinho de la rua da Paz, qui oggi si chiama Lirismo. Fô nessas due rua ondi vivi os primo ani de la mia vita. Qui ani!

Vivi la mia infanzia nessas rua qui falê, ma la mia adolecênzia e gioventú vivi e morê na rua Conselhero Juó Arfredo, travessa da rua dela Móca, nas imediaciones dela Rua Piratininga, lá nas ridondezas dela rua Dona Ana Neri, ondi ainda si situa la famoza churraria da sodoza Dona Dolores. Orra meu! Qui churro! Para sê mai ezato, io vivi per tutta ridondeza da estensioni interinha do bairro e da cumpridona Rua da Móca.

Oggi, giá passê di mezzo sécolo de idadi, ma me considero cum la testa di um bambino. Nasci na mia caza, im 3 di julhio de 1947, no após guérre. E nasci nas mano di una boluda e buona sinhora qui si chiamava Dona Giozefina, qui, naqüeli tempino e naqüela regió da Móca, era a partera di tutta la genti qui ia ganhá nenê, e, claro, mia mamma, qui també si chiamava Dolores – qui mamma! –, non pudia querê sê deferente.

Memo mi considerando um bambino, mia vita istá quasi compreta: giá iscrevi uno libro, tive filhios e giá plantê moltas árvore. Questo é mio segondo libro qui iscrevo. O primo, qui iscrevi, nó iscrevi come Pimpinello Rizoni, e si, come Guido Carlos Piva, mio nomi di batismo. Essi primo libro si chiama “Talvez poesias...”, totalmenti iscrito im portuguêis, bem deferente desti, qui, come dice, é iscrito solamenti im mocanhês

Fonte:http://www.portaldamooca.com.br/personalidades_guido5.htm



Obra literária:
1998 – Talvez Poesias... Produção independente - Temas variados
1999 – “Orra meu! O a canto da Mooca”! Livro de poesias macarrônicas imitando o linguajar dos primeiros imigrantes que foram morar em São Paulo.
2002 _ CAFÁ COM LEITE, BISCOITOS E POESIA _ E-BOOK _ Temas variados LiVro eletronicamente editado em parceria com o ite literário CÁ ENTRE NÓS.

Sites com trabalhos do Autor:
http://www.vivapoesiaviva.kit.net
http://www.guidopiva.kit.net
http://www.bvcaestamosnos.hpg.ig.com.br/guido/guido.htm

Para quem ainda não sabe:
O dialeto MOCANHÊS, é uma linguagem macarrônica que imita a fala dos primeiros imigrantes italianos que vieram morar, em princípios do século passado, no tradicional bairro da Mooca e em tantos outros onde mais se concentraram para viver em São Paulo.

***

Minhas Escritas



O QUI TÁ DRENTO VALI MAI

“La aparenzia é papé di bala:
Somenti quando si disembrúlhia é qui vá si sabê o qui tê drento!”


Nó só é di galo qui manhéci os dia
nem só di luna qui a nótte chega
Entri nótte e dia, entre sole e luna
tê os galo mudo qui nos canta mai...

Nó é só os grito qui nos faiz o medo
nem só o silenzio qui nos traiz a Paiz
Tê tantos grito qui si cala cedo
come tê murmúrio qui nos fala mai

O frágile e o forti faiz la aparênzia
multo qui tá drento nó si decha vê
têm tanto chero qui nó tê essênzia

come tê prefume qui nó chera mai
Per los camino la vita vá si disfazendo
ma o qui tá drento nunca si disfaiz!

PIMPINELLO RIZONI
O poeta da Mooca


TRADUÇÃO

O QUE ESTÁ DENTRO VALE MAIS

“A aparência é papel de bala:
Somente quando se desembrulha é que se sabe o que há dentro!”

Não é só de galo que amanhece os dias
Nem só de lua que a noite chega
Entre noite e dia, entre sol e lua
Há galos mudos que nos cantam mais!

Não é só o grito que nos faz o medo
Nem só o silêncio que nos traz a Paz
Há tantos gritos que se calam cedo
Como murmúrios que nos falam mais!

O frágil e o forte fazem a diferença
Muito do que está dentro não se deixa ver
Há tanto cheiro que não tem essência

Como há perfume que não cheira mais!
Pelos caminhos a vida vai se desfazendo
Mas o que está dentro nunca se desfaz!

GUIDO CARLOS PIVA

1/5/2002




A NOITE DE DESESPERO

O velho relógio soa três horas da madrugada. Nico, angustiado, já está há quatro rebuscando todas as gavetas de sua casa. Contudo, por mais que se angustie, não consegue achar o que procura.
A noite está tenebrosa! O vento zune pelas frestas das janelas. Go-tas de chuva forte sapateiam freneticamente no telhado da cozinha. Nas paredes desbotadas, relâmpagos provocam nuanças de luz e sombra, sombra e luz! As lâmpadas estalam, piscam em meio aos ribombares da forte trovoada. Nico, mesmo apavorado ante à noite sinistra, avidamen-te continua a buscar, a rebuscar; a procurar pelos cantos, por todos os lugares possíveis e imagináveis de sua velha cozinha. É inútil! A sua in-sana e desesperada busca é em vão. De súbito, um estrondo, um cla-rão, acompanhado de um piar estridente de coruja, fazem com que Nico se sobressalte! Assustado, apressadamente retorna ao seu quarto de dormir.
Sofregamente volta a procurar, a remexer na gaveta de seu criado-mudo; nas de seu guarda-roupa, nas de sua velha camiseira. Não con-segue encontrar. Desanimado, vencido pelo cansaço, senta-se angustia-do em sua cama desarrumada. Seu olhar, enternecido, passa a vaguear pelo ambiente de seu quarto: o abajur, o criado-mudo, o porta-retrato... A foto de Tina, a sua amada!
A lembrança de Tina faz com que ele mergulhe em recordações. E-mociona-se! Sente saudades dos tempos outrora felizes! Uma lágrima escorre pelo seu rosto abatido. Uma depressiva nostalgia passa a tomar conta de seu debilitado ser. Seus pensamentos passam a se misturar em sua mente. O suave rosto de Tina passa a esboçar um desenho dis-torcido em sua mente confusa. Passa a vislumbrá-la sentada na poltro-na no canto do quarto. Bela! Como nos velhos tempos. O mesmo rosto, os mesmos gestos delicados... As mesmas mãos, os mesmos dedos en-treabertos segurando com suavidade o cigarro fumegante. A mesma boca vermelha, carnuda. Os mesmos círculos de fumaça pelo ar. O mesmo perfume... O mesmo cheiro forte de tabaco. Ah!... Que belos momentos àqueles ao lado de Tina, a sua companheira! A doce visão faz aumentar à intensidade da vontade de encontrar o que procura. Ni-co sua frio. O seu peito passa a estremecer a cada batida de seu cora-ção. Desespera-se! Sôfrego, extremamente angustiado, retorna a pro-curar em todos os cantos da casa, é inútil: não consegue achar o que procura! O tempo vai passando, e o seu desespero aumentando... cada vez mais!
Um total e profundo silêncio passa a pairar por todo ambiente da casa. A chuva forte cessa. Somente um pingar de gotas acompanha o ritmo de seu resfolegar ofegante. Sua aflição aumenta. Confunde-se! Passa a falar consigo mesmo: “Onde meu Deus? Onde poderia estar? Onde!” Não consegue mais concatenar seus pensamentos. Está prestes a desfalecer. Em estado de extrema letargia, passa a ouvir o tiqueta-quear de seu velho relógio... O badalar do passar das horas: Quatro... Cinco... Seis... Amanhece...
Os primeiros raios de sol começam a vazar pelas frinchas do telhado da varanda. Sente frio, medo. Seus ouvidos zumbem. Delira! Nico tenta recuperar-se. Ouve vozes... Passos à frente de sua casa. Está delirando! Uma febre passa a tomar conta do seu corpo. Depressivo, volta à cozi-nha: quer beber água, talvez uma xícara de café. Sua boca está seca! Sente tremores, tenta recuperar o seu ânimo. Está sem forças. Sua mente volta a ter um novo momento de lucidez. A custo, cambaleante, levanta-se e decide fazer um café. Acende o seu velho fogão enquanto continua a perguntar-se compulsivamente: “Onde poderia estar?” A sua tentativa em lembrar, em achar, continua sendo em vão!
Com a xícara de café, Nico, ainda cambaleante, recosta-se no sofá estampado da varanda. Fecha os olhos embaciados pela noite mal dor-mida. Seus pensamentos voltam a se misturar. Volta a falar consigo mesmo: _ “Onde, meu Deus! Onde poderia estar? Onde?” Seu sofri-mento chega aos limites do suportável. Não agüenta mais tanto sofri-mento. Respira com dificuldade. Envolve-se em mórbidos pensamentos. A sua visão se turva. Entrega-se ao seu imenso torpor...
Subitamente, dá um salto! Arregala os olhos. Põem-se em pé. Grita: _ “Nãoooo!” Humilha-se. Chora copiosamente! Blasfema-se! Revolta-se! Em lágrimas retorna rapidamente à cozinha. Num gesto desesperado, avidamente debruça-se e... sobre o fogão, abre o gás...
Com o rosto transtornado, sequioso, trêmulo, acende um cigarro. Após uma longa e profunda tragada, dá um sorriso de satisfação e ex-clama triunfante: “Por fim... como pude não me ter lembrado! A noite toda procurando e sequer consegui encontrar um palito que pudesse acender este meu” bendito “cigarro! Que prazer! Como pude não me lembrar do acendedor elétrico? Como? Aaaahhh! Enfim... Terminou o meu sofrimento!...” e, com o mesmo gesto do momento que havia vis-lumbrado a sua saudosa e doce Tina, calmo, satisfeito, passa a dar ba-foradas de fumaça em direção ao teto.
Dois círculos se entrelaçam, e... Como num sonho, balançados e dis-torcidos pelo vento, formam uma única palavra em pleno ar: “NICO...TINA!!!”

Totalmente refeito de sua desesperada e sofrida noite, aproxima-se e escancara a janela de sua sala. Depara-se com o seu vizinho, o Sr. A-nunciato, que, na rua, calmamente rega as plantas do jardim.
— Bom dia Sr. Anunciato!... Ouviu o temporal desta madrugada? Po-xa! Que chuva... Não!
— Temporal!... Chuva. Como Nico!... Você deve estar ficando louco! Hoje está fazendo vinte dias que não chove... É justamente por esse motivo que estou regando as minhas plantas!

O que sobrou da história:

“O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE”:
O “NÃO” FUMAR... ÀS VEZES, PODE CAUSAR ALUCINAÇÃO!

GUIDO CARLOS PIVA

2/2/2002




TRAVESSIA E FUNERAL

Caminho!... Comigo pensamentos!
Penso, caminho, penso...
Piso em poças de chuva forte.
Penso, caminho,penso...
Das janelas saem desalentos...
um cheiro de pachorra em pleno ar.
Passo a passo, passo a praça...
nela, o mesmo jovem sem ilusâo.
O mesmo banco, a mesma estátua,
o mesmo velho de barba rala...
o mesmo olhar sem dizer nada
o mesmo jeito que diz: por quê?
Penso, caminho, penso...
Que faz um homem na mesma praça?
Que faz um jovem sem ter tesão?
Empilham-se dias, os anos passam...
o tempo passa, a vida passa...
o sol e lua acumulam rugas.
Será fuga? Não sei por quê?
Caminho!... Comigo pensamentos!
Penso, caminho, penso...
passo a passo, outra praça passo,
barrigas gordas estão em fila,
placentas flácidas estouram fáceis!
Um outro velho!Um outro jovem!
O mundo tosse... o jovem tosse
O velho tosse... retorce a dor.
Crianças respiram tosse,
tossem, tossem tossem...
a mesma tosse que o velho tem!
Caminho, penso, caminho penso...
Por que crianças tossem?
Tossem, tossem, tossem...
a mesma tosse que o velho tem?
Se o velho morre...
por que crianças têm que morrer?
Quantas irão morrer?
Muitas? Também não sei!
Caminho!... Comigo pensamentos!
passo a passo, o tempo passa...
Tempos de vida sonsa.
Desapegos, desempregos, vão e vem...
Crítica, metacrítica, política,
teses, feses, reveses...
juras, loucuras, fissuras,
tempos de joão-ninguém!
Caminho, penso, caminho, penso...
pelas janelas jorram desânimos,
meu canto morre na travessia.
os pusilânimes se escondem em becos,
há egoísmo do próprio ser,
Há covardia, há agonia,
há medo de se comprometer!
Mais um velho.Um jovem!
Jazem num canto,
Um canto triste refaz o dia,
o mesmo canto sem poesia,
um desencanto, um canto, um pranto!
Quantos se esconderão nos cantos?
Quantos esconderão seus prantos?
Quantos? Também não sei!
Caminho!... Comigo pensamentos!
Passo a passo, passo o subúrbio.
Subúrbio?! Nem sei se ainda existe!
Subúrbio triste!
Fábricas já não apitam...
barulho não fazem mais!
Mais um jovem sentado à porta,
não mais se importa de ir e vir
O mesmo olhar dos outos jovens
o mesmo olhar sem ter tesão...
a mesmo canto, a mesma tosse,
o mesmo cuspe de podridão!
Caminho, penso, caminho, penso...
Cadê os homens?
Cadê as leis que regem homens?
Cadê os homens que fazem leis?
Será que há lei? Também não sei!
Tudo é esquelético, maléfico...
antipoético, fétido, cadavérico!
Caminho, penso, caminho, penso...
vejo suspenso um "outdoor"...
vai haver festa na praça acima!
o que interessa pro jovem agora
Pra que a festa? Se a vida foi?
Caminho penso, caminho, penso...
Que festa é essa?
Pra quem a festa?
Como ter festa com esta vida?
se a vida em festa não é vivida,
se a festa em vida não é real...
Fazer a festa pra morte em vida
não é mais festa... é funeral!

Caminho, penso, caminho, penso...
passo a passo, repasso a vida
a vida é muda, a vida é surda!
Caminho...penso, caminho, penso...
O que mais posso fazer?

GUIDO CARLOS PIVA



CAFÉ COM POESIA

Quando a morte em toc, toc,
Bater à porta lá de casa...
Quero estar desprevenido
Quero estar fazendo nada.

Quando entrar em minha sala
Quero estar de bem com a vida
Não irei olhar seu rosto
Nem ouvir a sua fala.
Apenas quero que aceite
Como meu último deleite
Poder morrer em alegria...

Tomar café com leite
Com biscoito e poesia!

GUIDO CARLOS PIVA
LIVRO: "CAFÉ COM LEITE, BISCOITO E POESIA"



EU SOU UM MENINO

Eu sou menino, aqui no peito,
Que brinca ainda de gude e bola...
Eu tenho a chama que pula corda,
Que come hambúrguer com coca-cola...
Eu tenho a chama que chama a vida.
Eu vivo, vivo... Não sei morrer.
Que importa o corpo que cambaleia,
Que franze a testa, esfola o jeito?
Eu sou menino aqui no peito!

Que importa o tempo? Não envelheço!
Se morro fora, renasço dentro!

GUIDO CARLOS PIVA





SILÊNCIO!...

Uma esmola de vento canta
Uma cor caramelo brilha
A tarde vai estendendo a noite
O sol se enrola e pisca...

O lusco vai e volta
O fusco vem e fica
Na rua um poeta espia
No céu uma cadente risca.

Silêncio!
O dia adormece longe...
A noite escurece o dia

Silêncio!
O poeta sonha!
Está nascendo uma poesia!

30/9/2002

***

Guido Carlos Piva, poetinha da Mooca

NESTE MOMENTO EM QUE SEI DE PARTIDA
O TEU RISO DE PIMPINELLO DA MOOCA
O TEU CORAÇÃO FINALMENTE LIBERTADO
MAS O MEU TÃO DOLORIDAMENTE ENVOLTO
EM TRÉVAS DE MÁGOA E DE PRANTO
COMO DIZER-TE ADEUS, AMIGO E COMPANHEIRO?!
COMO ACALMAR NA ALMA A DOR, EM MIM CALANDO FUNDO?!
COMO ACREDITAR, NO ÂMAGO DO EU IDÊNTICO
QUE TU, POETA IRMÃO, ÉS NOUTRO MUNDO?!
COMO DIZER-TE ADEUS?! AJUDA-ME, MEU ANJO!

TANTAS NOTÍCIAS VEJO, PORÉM ESPERO
ESCUTAR SEMPRE E DE NOVO O TEU CANTO!

PIMPINELLO RISONNI, AH QUE DÓI TANTO
ESTE MOMENTO EM QUE NEM MAIS ME É PERMITIDO
COMO FOI SEMPRE, CHORAR E RIR SOBRE O TEU OMBRO
OH MEU ETERNO AMIGO, POETA GUIDO!

TI AMO.
BACCINNI SUR TUO ALLE, MEU ANJO
Maria Petronilho 
15/12/2003