Partiu Salvadora Lopes

Salvadora Lopes Peres, ou Salvadora Lopes Rodrigues, militante comunista, líder operária e sindical, faleceu no dia 19 de dezembro de 2006 em Sorocaba. Primeira vereadora eleita na cidade, em 1947, não tomou posse por sua militância comunista.

Em 1952 foi expulsa do Partido Comunista por não se coadunar com as alianças espúrias para fins eleitoreiros. Mesmo assim, Salvadora Lopes continuou sua militância ao lado do povo e morreu sem perder o dom da indignação.

Partiu Salvadora Lopes

Estávamos acostumados com sua indignação e a sua existência para nós era uma agradável referência. Desmentindo o presidente Lula, que num dos seus recentes discursos disse da incompatibilidade entre a crença num mundo socialmente justo com o amadurecimento do militante social, Salvadora Lopes Peres (ou Salvadora Lopes Rodrigues) foi um exemplo de coerência e ideal até o fim de sua vida, ocorrido ontem (19 de dezembro de 2006).

Dia triste, dia em que tudo perdeu a sua graça. Os dedos correram pelo teclado do computador tentando expressar em palavras algum sentimento. Inútil. Nada, nenhuma frase ou palavra era suficiente para descrever a dor de tamanha perda.

Sentimo-nos desamparados. O exemplo vivo de dedicação às justas causas já não está mais presente entre nós. Salvadora não passou um segundo sequer a vergonha de se acomodar, como diria Maiakovski. Ou mesmo, não perdeu o dom sagrado da indignação, conforme Bakunin. Até o fim de sua vida ousou criticar, denunciar, lutar... Dizia que um de suas maiores frustrações era não ter mais saúde para se pronunciar para o povo em palanques como muitas vezes fez, especialmente nas décadas de 1940 e 50. Também, não podia mais escrever devido a dificuldades de visão e das mãos.

Nascida em 1918, em Avaré, Salvadora começou a trabalhar com dez anos de idade nas fábricas têxteis de Sorocaba.

Salvadora Lopes foi um ícone das lutas sociais e femininas. Depois da professora Francisca Silveira Queiróz (primeira candidata sorocabana à vereança, em 1936), Salvadora e um pequeno e seleto grupo de mulheres foram as primeiras candidatas para ocupar a Câmara Municipal de Sorocaba após a ditadura de Vargas. Nesse ano, 1947, Salvadora foi a primeira mulher eleita para o cargo, não assumindo por ter sido cassada devido sua militância comunista.

Mesmo não sendo eleita, participou ativamente das lutas operárias e políticas que se travaram em Sorocaba nos anos seguintes. Rigorosa e séria, criticou o Partido Comunista quando este realizou alianças espúrias para alcançar fins eleitorais (nada é novo debaixo do Sol, dizia o Eclesiastes). Por essa postura, foi expulsa do Partidão, mas nem por isso se calou.

Em fins da década de 1950 e durante a ditadura militar, Salvadora Lopes esteve vez ou outra denunciando os desmandos, a exploração, a opressão...

No início desta nossa década Salvadora Lopes recebeu inúmeras homenagens e reconhecimento, tendo sido homenageada pela Câmara Municipal de Sorocaba e também de Avaré, sua cidade natal.

A sua partida é muito triste. Perdemos uma companheira. O que nos conforta é o fato de sabermos que ela combateu o bom combate e por isso a ela está reservada a coroa dos justos.

Por Carlos Carvalho Cavalheiro 20/12/2006 às 17:22

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Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 20/12/2006
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