Cláudio Manuel da Costa
Cláudio Manuel da Costa, advogado, magistrado e poeta, nasceu em Vila do Ribeirão do Carmo [hoje, Mariana], em 5 de junho de 1729, e faleceu em Ouro Preto, MG, em 4 de julho de 1789. É o patrono da Cadeira n. 8, por escolha do fundador Alberto de Oliveira.
Era filho de João Gonçalves da Costa, lavrador e minerador, e de Teresa Ribeiro de Alvarenga. Fez os primeiros estudos em Vila Rica; passou depois ao Rio de Janeiro, onde cursou Filosofia no Colégio dos Jesuítas. Em 1749, aos vinte anos de idade, seguiu para Lisboa e daí para Coimbra, em cuja Universidade se formou em Cânones, em 1753. Ali publicou, em opúsculos, pelo menos três poemas, Munúsculo métrico, Labirinto de amor e o Epicédio consagrado à memória de Frei Gaspar da Encarnação. Nesses livros, a marca poética do Barroco seiscentista é evidente, nos cultismos, conceitismos e formalismos caraterísticos daquele estilo.
Nos Apontamentos enviados em 3 de novembro de 1759 ao Dr. João Borges de Barros, censor da Academia Brasílica dos Renascidos, da qual havia sido eleito sócio correspondente, e que se destinavam ao Catálogo dos Acadêmicos, diz ele que, "de 1753 a 1754", voltou a Vila Rica, onde viveu o resto da vida como advogado e minerador.
De 1762 a 1765 foi secretário do Governo da Província e, de 1769 a 1773, juiz medidor de terras da Câmara de Vila Rica, que era então a capital da Província, importante setor de mineração do século XVIII e centro de intensa vida intelectual. Cláudio Manuel da Costa ali chegou a fundar uma Arcádia chamada Colônia Ultramarina, cuja instalação teria sido em 4 de setembro de 1768, com outra sessão em 5 de dezembro, na qual fez representar o drama musicado O parnaso obsequioso. Foi buscar nos cânones do Arcadismo vigente muitos elementos típicos, tais como o bucolismo, os pastores e as ninfas. Adotou o nome arcádico de Glauceste Satúrnio. Ainda em Portugal sentira de perto o aspecto renovador do Arcadismo, implantado com a fundação da Arcádia Lusitana em 1756. A publicação em 1768 das Obras constitui o marco inicial do lirismo arcádico no Brasil.
Depois compôs o poema épico Vila Rica, pronto em 1773 mas publicado somente em 1839, em Ouro Preto. O respectivo "fundamento histórico" havia sido dado a lume pelo jornal O Patriota, do Rio de Janeiro, em 1813, sob o título de "Memória histórica e geográfica da descoberta das Minas". É a descrição da epopéia dos bandeirantes paulistas no desbravamento dos sertões e suas lutas com os emboabas indígenas, até a fundação da cidade de Vila Rica. O poema é importante porque, apesar de fiel aos cânones do Arcadismo, destaca-se pela temática brasileira, conferindo a Cláudio Manuel da Costa o título maior de fundar uma literatura que significasse a incorporação o Brasil à cultura do Ocidente.
Nas décadas de 70 e 80, escreveu várias poesias em que mostra preocupação com problemas políticos e sociais, publicadas na maior parte por Ramiz Galvão em 1895. A partir de 1782 ligou-se de estreita amizade com Tomás Antonio Gonzaga, e por certo exerceu influência literária sobre ele, ao menos como estímulo. Nas Cartas chilenas, cuja autoria chegou a ser atribuída por alguns críticos a Cláudio Manuel da Costa, possivelmente auxiliou o amigo. A exegese magistralmente conduzida por Afonso Arinos de Melo Franco, em sua edição das Cartas chilenas (1940), apura que a Cláudio Manuel da Costa deve ser atribuída apenas a Epístola que as precede, e ao seu companheiro de letras Tomás Antonio Gonzaga a autoria das Cartas.
Na década de 80, fez parte da Câmara de Vila Rica como juiz ordinário. Era homem de prol, com bens de fortuna, senhor de três fazendas, quando foi envolvido na Inconfidência, a que daria um apoio sentimental. Preso, foi interrogado uma só vez pelos juízes da Alçada, em 2 de julho de 1789. Atemorizou-se no interrogatório, comprometeu os amigos e, por certo desesperado em conseqüência, suicidou-se no cubículo da Casa dos Contos, onde fora encerrado, aos 60 anos de idade, em julho de 1789. Era solteiro e deixou filhos naturais.
Obras:
Munúsculo métrico (1751); Epicédio em memória de Frei Gaspar da Encarnação (1753); Labirinto de amor (1753); Obras (1768); Vila Rica (1839); Foram reunidas em Obras poéticas (1903), contendo a reimpressão do que deixou inédito ou esparso, e um estudo sobre a sua vida e obras, por João Ribeiro.