Um Tema Completo

Abril de 1995

Eu sei mil coisas e nunca soube de nada. Tenho quatro anos, moro com meus pais e tenho um irmão mais novo. Eu não sei dizer ao certo se era quarta, quinta ou sexta, mas sei que toda a visão desse dia é um homem de bigode num fusca azul, desesperado virando a esquina acho que essa é a concepção da frase “noticia ruim nunca vem sozinha” realmente, ela veio acompanhada com um velho gordo, bigodudo num fusca azul. É como um fleche, segundos antes eu estava ali virando a esquina, segundos depois eu estava de meia brincando no apartamento ao lado. Não é como se houvesse uma verdade ou um entendimento, não é como se fosse me privar, mas é como me ensinar a mentir.

Janeiro de 2008

Tarde quente. Cinco dias se passaram desde o inicio de alguma coisa. Tenho 16 anos, moro com uma família procriada, não sei de mil coisas e sempre soube tudo, mas sei que tenho muito mais que dois olhos que não vêem nada. Acho que era sexta ou sábado. Minha visão ampla da situação se apaga como uma olhada do futuro mal resolvido.

Todos dizem tudo, mas nada significa nada. Acalmar o desespero era tardio. Sorriso, sorrir... Eu esperava, todos esperavam e só temiam algo pior. Eu sei que agora eu tenho mais compreensão, mas é como me ensinar a mentir de novo, de novo e de novo.

Qualificar uma compreensão como algo para maiores essa é a raiz de proteção madura. Anos e anos se passam e o que as pessoas sentem é saudade do passado, eu sou um menino órfão, eu sou um menino solitário porque para as pessoas se alguém não tem um mapa é porque não tem pernas.

Agosto de 2009

Eu acho que quero dois carros, acho que cansei de andar, bem... Vou chamar um táxi. Tenho 17 anos, moro numa fachada procriada, tenho minhas membranas intactas, e meus olhos castanhos esverdeados não atraem multidões. Eu acho que esse complemento “esverdeado” é só um atrativo para a pessoa que é feia é quer ter um atrativo, bem... Eu sou feio e quero ter um atrativo, minhas longas pernas brancas papel estão à disposição da cortina que as cobre. É apenas formidável se passaram treze anos é não tenho traços familiares. Eu nunca implorei por isso e apenas paguei pela verdade e mesmo com tantas coisas talvez eu ainda me case e jogue a culpa de todo o meu fracasso na minha provavelmente infeliz esposa.

Um casamento quando destruído a culpa é da mulher, mas se a culpa perante a lei humana é do homem mesmo assim a culpa é da mulher. Vou ter cinqüenta anos, beijar a mesma boca, olhar os mesmos olhos, usufruir o mesmo corpo, e não vou ter amor nem próprio e nem conjugal. Irei gastar todo o meu salário com prazeres homicidas, viverei mais, mais ou menos uns cinqüenta anos e morrerei culpando milhões de temas completos incluindo a vida ou até mesmo a morte.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 27/05/2011
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