BIOGRAFIA DE UMA SAUDADE - SEU NOME É SOLIDÃO

Seu nome é solidão.

Acordei triste, estava sozinho e, com saudades de você.

Nem sei por que insisto com esta saudade maluca...

Já estou velho, cabelos brancos, males se aproximam rapidamente. O diabetes vai tomando conta. Cobra-me os excessos geneticamente... Genética é o barco indestrutivo, feito de material resistente e sagaz. Serve para, fazer-me lembrar que o passado existiu e ainda, mesmo que eu não queira, acaba se tornando presente. Não deveria preocupar-me com isso, mas... mas como não, se tenho a sua ausência presente?

Já estou ciente da falta que você faz. Tenho clareza de, ao acordar, você não vai estar. Insistência sem sentido, a não ser o vazio deixado com sua ausência. Incoerência minha; se existe a ausência, logo não pode deixar de existir algo, o vazio; e é o sentimento forte de alguém fraco.

Alias, há tempos venho, pelo menos, tentando ter a visão de sua imagem em meu cérebro, nem isso acontece. Não sabia que amar tanto modificava o DNA, mudando peremptoriamente a estrutura celular...

Talvez, se vasculhar o meu íntimo, procurar direito, verei as modificações feitas, há em cada parte do meu interior, raízes, raízes que já fazem parte de mim. Ás vezes brotam nelas, flores. Por outras, como a roseira, espinhos. Se eu quiser desfrutar desta beleza florida, preciso antes ter arranhado o espírito para enxergar você.

Íris que hoje começa a falhar, tem você por regra de vida, tudo registrar sem permissão pedir... Onde está a imagem dela? Já sei.

Perdeu-se no tempo. No tempo da nova velhice em mim.

Nem tão nova!