FICÇÃO - REALIDADE - NATURALISMO - SOBRENATURALISMO
 
Pergunto-me porque não gosto de filmes de ficção e a única resposta que encontro é a de que não tenho paciência para o Irrealismo. Quando jovem, sonhei com vários ideais, que nunca passaram disso. Recordo-me do tempo em que marcava o alarme do meu relógio para as 6h da manhã, para poder ficar a ‘sonhar’ até às 06h:45m, hora exata a que deveria levantar-me. Tenho ainda presente os sonhos, um por um, que esperava realizar.
 
Entretanto …,
 

O chão que pisei durante vários longos anos, esteve sempre cheio de pedras que me magoaram muito os pés. Pedras reais, ponteagudas. Aprendi a tentar defender-me delas e não foi nunca, na ficção, que eu procurei camuflar as dores que ainda hoje sinto. Os meus pés ainda hoje sangram, quando outras pedras vão surgindo, deixando-me  magoada, ferida, mas continuo com o ar de quem não tem mais medo de coisa alguma. A minha mente, embora cansada, não está exausta. Não tem é espaço para passar do real ao imaginário.  
 
Os ácidos que sinto no estômago são provenientes de frutos envenenados, amargos, convidando-me a comê-los, em qualquer ângulo, em cada esquina daquele mundo irreal com que sonhei. Eu os devorei. Não importa porque fui atraída por eles, o que importa é que me envenenaram. Estou cheia de lições aprendidas em dias de tempestade e dor, mas ainda não vislumbro algumas respostas que gostaria de ter conseguido, depois de tantas reflexões sobre os meus porquês. O tempo urge e eu não sou senhora do meu tempo. Já não tenho mais idade para conquistar seja o que fôr, todavia, ainda quero dar, dar muito.
 
Continua a ser enorme a minha necessidade de olhar bem para o chão em que caminho. Poderia pensar “que já não valerá colocar trancas na porta quando a casa já foi roubada”, mas sou da opinião de que  nunca será tarde para tentar seja o que fôr.  Faço parte dum grupo que vive mal. No meu viver mal não há lugar para males materiais.  Muitas vezes me pergunto porque é que a evolução do mundo não toma o sentido correto. Talvez a resposta esteja, exactamente, na existência de muitos frutos envenenados e de muitos os tentados por eles. Os frutos que me tentaram, aparentemente responderiam às mil perguntas que fui fazendo à vida, no sentido de encontrar soluções para os problemas que me afligiam e que exigiam uma solução que só eu deveria tentar encontrar, para poder viver. Embora a imoralidade e a indecência não tivessem nunca feito parte da minha forma de estar na vida, em alguns frutos que me foram oferecidos havia muito disso escondido, camuflado. Apanhei semelhante indigestão, que toda a fé que pudesse ter agarrada a mim, por muitos anos, foi dando lugar a um respeito enorme por toda e qualquer religião, mas eliminou de mim a fé em milagres ou qualquer tipo de crença. Respeito a vida maravilhosa como descrita na biografia de santos, verdadeiros exemplos a serem seguidos por qualquer ser humano, mas excluí da minha mente a possibilidade de admitir sequer de que eles possam fazer milagres. Todavia, o meu respeito por toda a crença vem da minha aceitação indubitável de que nada sei. Mas não sinto mais em mim aquilo que me fazia acreditar, com fé, nessas coisas. A força de que precisei e preciso para viver e encarar os desencantos ou mesmo para solucionar os meus problemas, vou procurá-la "na minha" Natureza,  aquela que me comanda, embora exigindo de mim muito respeito por Ela. É Nela que eu tenho encontrado resposta para muitas coisas que eu esperava me caíssem do céu, quando era jovem. Há muitos anos que arregacei as mangas e parti para uma luta feroz, por vezes impensável, por vezes irreflectida. Cada vez que empreendia um novo caminho, abriam-se inúmeras portas, dando-me a honra de várias entradas. Foi na sua escolha que nem sempre tive sucesso. Mas foi na minha calma aceitação de que nada se faz sem um grande esforço – para o qual nem todos estão preparados – que eu aprendi a não desistir de lutar, deixando-me deliciosamente amarrada à Vida, através da Natureza.

Dum grande desgaste de tudo o que é superfluo, utópico, irreal, superficial, brotou forte em mim um grande apego à Vida Natural. Daí defender que:
 
- É urgente plantar novas árvores, que dêem frutos saudáveis, não venenosos.
- É urgente viver naturalmente.
- É urgente olharmos para o Universo e reflectirmos no quanto ele tem de belo.
- É urgente colocarmos em nós a questão se estaremos a retribuir com Amor, a benção de estarmos vivos.
- É urgente sabermos reconhecer o valor do que de bom nos é oferecido pela Natureza,  para que tentemos neutralizar o mal que possam ter-nos feito todos os frutos envenenados que acreditámos pudessem ser-nos benéficos.
-É urgente lavarmos as feridas deixadas em nós, com tudo quanto a Natureza nos oferece de   salutar.
 
Na Natureza não há Ficção. Há, isso sim, uma Realidade que deve acompanhar-nos em qualquer momento, em qualquer instante, em qualquer tentação. É nessa Realidade que iremos encontrar a melhor cura para os males do Coração, da Mente e do Corpo, mesmo quando, não admitindo esta minha convicção, se navega entre uma e outra.
 
Imagem de Costa Brava - Espanha
 
Maria Letra
Enviado por Maria Letra em 12/05/2011
Reeditado em 04/04/2014
Código do texto: T2965927
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