Eu

Não sei ao certo se sou homem ou sombra de alguém...

Nem se a vida me convém...

Pois estou as vezes vivo por sorte...

E se por vontade de Deus, sou forte...

Me revoltam as pequenas coisas que sou e tenho que aturar...

Tenho pena dos que sorriem por fora...

E se amarguram com o sucesso alheio por dentro...

As vezes tento ser paciente com os que se perdem nos seus próprios desejos...

Muitas vezes ignoro aos que de mim tentam fazer de degrau...

Noutras eu me rendo a quem não tem o que dar...

Nem mesmo um sorriso sincero...

Tenho receios como todos...

Mas não me deixo morrer na praia...

Sofro pelos que são maus...

Não pelo que fazem aos outros...

Mas pelo que posso fazer com eles...

Sou da realidade...

Abomino a falsidade...

Corro muitos das maledicências...

Se for pra falar, que seja na presença...

Rio dos que só exigem e nada tem pra dar de si...

Acredito nas equivalências...

Prezo pela cor do olhar, não a física, mas a que irradia...

Mas não fecho os olhos para os que não me sabem olhar...

Sou dono do meu coração...

Mas só até alguém me encontrar...

Não sou santo...

Mas não me vendo pro Diabo...

Deus está sempre comigo...

Eu que indigno as vezes não me lembro dEle...

Choro quando uma criança sente dor...

Ou perde a vida por falta de amor...

Tento pedir do outro só aquilo que poderia eu dar...

Mas exijo de mim mesmo bem mais do que em mim está...

Gargalhadas são deboches involuntários da vida...

E a vida não ri de nós...

Ela só nos conserva os dentes...

E as vezes faz uma traquinagem...

Sou a cor do mar nos dias quentes...

Mas perigo pra os descrentes...

Que o mar não leva ninguém...

Pois as respostas podem ser piores que o afogar das águas...

Cometo os mesmos erros de meus pais...

E por descuido, as vezes, muito mais...

Vaidade as vezes vem...

Mas não vivo por ela nem pra ela...

Sou o ser mais velho dentro de mim...

E o mais jovem que sorris...

Minhas próprias razões tento controlar...

Mas aos meus pensamentos e desejos tento deixar voar...

Das pessoas sujas nem conhecimento tomo...

Não vou viver por viver e ser morno...

Na diferença de pensar quero ser o meio do ponderar...

Intermediário das razões e senhor do calar...

Não queria, mas já fui erro na vida alheia...

E disso quero me manter distante...

Me libertar somente e não ser isso novamente...

Faço meus horários...

São confusos meus diários...

Não economizo vida...

Apenas deixo-me viver...

E viver é correr riscos...

Não me importam as coisas mesquinhas...

Mas cuido bem das minhas...

Sejam elas de necessidade ou até as de vontade...

Só não queria ser o mesmo todo dia...

Nem fazer chorar aos que me amam...

Quero descansar do meu próprio perdão...

Fugir da minha realidade sem me atirar ao chão...

Nem ser lembrado como aquele que apenas se foi, morreu...

Queria um mundo só meu...

Mas aí é querer ser Deus...

E isso por si só já é dos piores pecados...

Não é sentir-me cercado, nem melhor que alguém...

É só agradecer a Deus por não ser igual...

Aos que do amor nada vêem...

JCRS
Enviado por JCRS em 08/03/2011
Reeditado em 01/10/2011
Código do texto: T2834509
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