UM POETA TIPICAMENTE PAULISTANO

Adoniran Barbosa nasceu em 06 de agosto de 1910, em Valinhos, SP. Foi um colecionador nato de apelidos. Seu verdadeiro nome era João Rubinato - mas cada situação por ele vivida o transformava num novo personagem numa nova história. Ele nos conta a vida de um típico paulistano, filho de imigrantes italianos, a sobrevivência do paulistano comum numa metrópole que corre, range e solta fumaça por suas ventas. Através de suas músicas, canta passagens dessa vida sofrida, miserável, juntando o paradoxo bom humor / realidade - para quê lamúrias?

Tirou de seu dia a dia a ideia e os personagens de suas músicas. Iracema nasceu de uma notícia de jornal - quando uma mulher havia sido atropelada na Avenida São João. Adoniran nasceu e morreu pobre - todo o dinheiro que ganhou gastou ajudando ou comemorando sucessos com os amigos - seu combustível era a realidade - porque então querer viver fora dela? Talvez soubesse que o valor maior de suas canções eram interpretações como a de Elis ou Clara Nunes.

Foi um grande colecionador de amigos, com seu jeito simples de fala rouca, contador nato de histórias, conquistava o pessoal do bairro, dos frequentadores dos botecos onde se sentava para compor o que os cariocas reverenciaram como o único verdadeiro samba de São Paulo.

Trabalhou em cinema e a partir de 1950 o grupo Demônios da Garoa passou a gravar diversas composições suas. Seu primeiro sucesso foi "Saudosa Maloca", de 1951. Seu estilo é caracterizado pelo linguajar típico dos imigrantes italianos do Brás, quase sempre com teor cômico e revelando a vida na periferia. Entre seus maiores sucessos estão "Trem das Onze", "Samba do Arnesto", "Tiro ao Álvaro" e "Bom Dia, Tristeza", em parceria com Vinicius de Moraes.

Samba do Arnesto

Adoniran Barbosa

O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás

Nós fumos não encontremos ninguém

Nós voltermos com uma baita de uma reiva

Da outra vez nós num vai mais

Nós não semos tatu!

No outro dia encontremo com o Arnesto

Que pediu desculpas mais nós não aceitemos

Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa

Mas você devia ter ponhado um recado na porta

Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperá

Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância,

Assinado em cruz porque não sei escrever"

Arnesto