Coisas simples e felizes

Era a quarta-feira pós-feriado em que eu estava em Rio Preto para uma palestra na Unesp. Ao voltar para casa, convidei a mamãe: “Vamos caminhar?”

E ela: “Ai, estou muito cansada hoje...”

Eu: “Tudo bem.” E fui me trocar. Quando eu estava de saída, ela disse “nós já vamos?”

E eu: “Ah, você vai? Que bom!”

Ela: “Acha que eu perderia a oportunidade de desfrutar da sua companhia?!”

Comovente mesmo. Caminhamos animadamente por cerca de uma hora, dialogando até.

No dia seguinte, ela trabalhou e não a encontrei na hora do almoço. Deixei então um bilhete: “Mamãe, muito obrigado pelo almoço, estava uma delícia. O suco também! Vamos no cinema hoje? Beijos!”

Quando eu ainda estava no carro, voltando para casa da Unesp, ela me liga: “Que horas você quer ir no cinema? E assistir o que?” Se nem me esperou chegar em casa, é porque ficou ansiosa.

Eu: “Pode ser qualquer hora e a gente vê o que está passando... vamos?”

Achei que ela fosse dizer que ficaria com muito sono até a hora do filme acabar, como já havia dito outras vezes. Mas ela aceitou sim ir comigo!

Convidei também o papai, mas ele não quis. Ela se produziu toda e me perguntou se estava bem (querendo elogio, coisa de mulher). Eu disse que ela estava “super bem”!

No caminho, ela me perguntou o que é que deu em mim para convidá-la a ir ao cinema. E eu disse que queria a sua companhia, ué.

Antes de entrar na sala do cinema, deu tempo de tomarmos um café expresso na Livraria Nobel do Plaza Shopping. Chique, né?

Assistimos “Comer, Rezar, Amar”, na sessão das 21h30. Tarde, de fato. Mas em nenhum momento ela reclamou ou demonstrou insatisfação com alguma coisa.

Ela me contou da diferença do cinema em que ia, mais de 30 anos atrás. E que só recentemente assistiu a “Avatar”, passando todas essas décadas sem ir ao cinema. Faltou-lhe oportunidade, ou convite.

Não ficou demonstrando alegria, creio que para deixar tudo natural, sabe. Mas pelas poucas coisas que falou, percebi que ficou muito feliz sim! No dia seguinte, ao nos despedirmos na volta para Catalão, ela disse, num tom ao mesmo tempo delicado e profundo: “Brigada por ter me convidado para ir ao cinema.” Fiquei com o coração comovido de consideração...

Eu que lhe agradeço por tudo que já fez por mim...

(Catalão, 08/11/2010)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 18/12/2010
Reeditado em 18/12/2010
Código do texto: T2678904
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