8) Adolescência
Depois de estudar durante dez anos na Escola Estadual Alberto José Ismael, a três quadras da minha casa, em 1994, aos 15 anos, iniciei o Ensino Médio na Escola Estadual Monsenhor Gonçalves. Esta era bem longe, tinha que acordar muito cedo e pegar dois ônibus. As aulas iniciavam às 7h.
Naquele ano, eu ainda fazia o curso de Espanhol iniciado em 1992, na Escola Estadual Cenobelino de Barros Serra. Foram ao todo três anos de curso. Mal sabia eu que esta língua me seria tão útil, como contarei mais adiante.
Em alguns semestres as aulas eram aos sábados, em outros às terças e quintas ou então concentrado às quartas. De toda forma, como não tinha ônibus de casa até a escola, era quase uma hora de caminhada.
Outra coisa que me lembro bem é que aos 16 anos assumi minha primeira função de liderança na ONG budista em que participo. Fui nomeado responsável de bloco. E me esforçava diligentemente para cumprir o meu papel da melhor forma possível.
Diferentemente de hoje, naquela época era mais demorado para se passar de uma função a outra. Ou então havia algo comigo em particular que me fazia ficar mais tempo numa mesma função. De toda forma, dois anos depois, com 18 anos, assumi como líder de comunidade. Minha comunidade se chamava Renascença e tinha um grande sucesso nas atividades, conseguindo atingir o comparecimento de cerca de 80 pessoas nas reuniões de palestra. A comunidade foi crescendo tanto que em pouco tempo já possuía 5 blocos.
Naquela época, o meu maior objetivo era ingressar numa boa universidade. Percebi que fazendo o colegial nunca escola pública, seria bem difícil criar condições de passar no vestibular. Então, orei e agi.
No final do primeiro ano, soube de um concurso de bolsas numa escola particular. Prestei e consegui uma boa porcentagem de desconto. Mas ainda assim era difícil pagar a mensalidade. Minha mãe então, no seu auge da benevolência, começou trabalhar lavando roupas para poder ajudar nas despesas. Creio que jamais conseguirei saldar esta dívida com ela.
Fiz o segundo e o terceiro colegial nesta escola particular. Foram anos muito difíceis. Não era nada fácil acompanhar quem sempre estudou em boas escolas. Além disso, o complexo de inferioridade tomava conta de mim. Sentia-me o pobre estudando entre os ricos, aquele que estava sempre correndo para tentar alcançar os privilegiados. Mesmo assim, continuava me esforçando. Estudava e estudava sem desviar o mínimo os olhos do meu objetivo.
Os bolsistas estudavam à tarde. De manhã, havia aulas de redação, informática, plantão de dúvidas. À noite, eu ia direto para a Biblioteca Municipal estudar até fechar às 22h. Era apostila que não acabava mais. O terrível sentimento de não estar em dia com a matéria não passava nunca.
Nesta época também, eu participava da banda juvenil masculina da ONG budista, chamada Taiyo Ongakutai. Na verdade, a banda ainda não era oficial. Fui um dos cinco pioneiros do ano de 1994 que ajudaram a fundar a banda oficialmente em 1999.
Lembro-me saudosamente da época em que levava o grande e pesado estojo com o saxofone para a escola, de ônibus, para de lá ir direto aos ensaios à noite...
Um episódio doloroso dessa época aconteceu quando uma colega de classe me pediu que a ajudasse numa matéria que estava com dificuldade. Fomos então da escola para a sua casa estudar. A mãe dela nos levou num carro novo e super chique. Jantamos na casa da avó, um palácio deslumbrante. Fiquei extasiado com tantas coisas bonitas que vi. Quando eles me deixaram em casa, entrei na casa do meu avô, que mora na casa da frente, com vergonha de adentrar no longo e escuro corredor da minha humilde edícula.
Num belo dia, ou melhor, no dia do meu aniversário, eles resolvem me fazer uma visita surpresa – minha colega, a mãe, os avós. Minha casa nesta época era tão humilde que dava vergonha. Não tinha sofá ou cadeiras para as visitas, os móveis eram todos quebrados, paredes sem pintura, assoalho só no contrapiso... bom, sobre a casa que vivia antigamente eu já contei em outro texto, poupo-lhe aqui dos detalhes. Eu não estava em casa no momento que eles chegaram. Resumindo: não os encontrei. Mas minha mãe me contou detalhadamente a cara de espanto que eles fizeram e os olhares atentos que lançaram por todos os recantos daquele lugar habitado por minha família. Eles nunca imaginaram que minha casa seria daquele jeito. Como sofri com isso...
Bom, mas este texto é só para contar sobre a minha adolescência. A infância, a casa e outros episódios já estão narrados e descritos em outras crônicas, veja lá. Então, prosseguindo, para finalizar...
Com tanto esforço, estudando e orando para acumular boa sorte na vida, consegui ingressar em duas universidades estaduais – a UNESP de Rio Preto e a Universidade Estadual de Londrina (UEL), no curso de Ciência da Computação, sem precisar fazer o cursinho pré-vestibular. Foi uma alegria indescritível! O maior sonho da minha adolescência concretizado!
Em tempo: a incrível utilidade do curso de Espanhol que falei no início é porque escolhi esse idioma para a prova de língua estrangeira no vestibular da UEL, em que passei. E também doze anos depois do curso, em 2006, parti para a Espanha para um estágio acadêmico de seis meses na cidade de Valência.
Até o próximo!