Oxalá significa luz (oxa) branca (alá); é um deus masculino, o primeiro filho de Olodumaré – o deus supremo e criador do Universo.

Alguns dos vários outros nomes de Oxalá são: Lembá, Kassulembá, Lambaranganga, Lembadilè, Oulissa, Oulisasa, Obatalá, Orisànlá, Orixalá; essa variedade nominal expressa aspectos míticos da personalidade pluri ou transdimensional do arquétipo Oxalá.

Na língua iorubá, Oxalá tem o nome de Alámòrere, ou seja, “proprietário da boa argila”: aqui está evidente a correspondência entre Oxalá e o deus Cuidado.

Segundo a mitologia africana, Olodumaré deu a Oxalá a incumbência de criar o planeta Terra; antes, porém, de dar-se à criação da Terra algumas exigências lhes foram impostas. Uma delas era reverenciar com oferendas Exu – o orixá mensageiro dos deuses.

Entre as virtudes de Oxalá estava a teimosia pela qual se recusou a fazer oferendas ao orixá Exu.

Ao transpor a porta do Além, Oxalá é vigiado por Exu – furioso porque não recebeu as oferendas que lhe eram devidas.

Por causa da desobediência de Oxalá, o orixá Exu resolveu castigá-lo, encantando-o com uma grandiosa sede. Para saciá-la, o primeiro filho de Olodumaré usou seu cajado para furar o tronco de uma árvore de dendê da qual escorreu um saboroso líquido – vinho de palma feito pela fermentação da seiva da palmeira.

Oxalá, ao saciar sua sede com vinho de palma, embriagou-se, adormecendo.  

Eis a divina mundanidade dos orixás expressando a sua condição de arquétipos, formados nas vivências e experiências coletivas e ancestrais dos povos.

Odudua, aproveitando-se da embriaguez e do adormecimento de Oxalá, rouba-lhe o “saco da criação”. Eis uma referência ao caráter criativo do homem, particularmente quanto ao escroto (saco) aonde se formam e se diferenciam os espermatozóides.

Olodumaré autorizou Odudua a criar o planeta Terra.

Com o “saco da criação”, Odudua deixou o mundo do Além-Terra e, ao ver uma imensidão de água, deixou cair sobre ela o conteúdo do “saco da criação”: a terra. Nasceram, pois, os montes sobre os quais Odudua espalhou inúmeras galinhas para ciscarem e espalharem aquela terra.

Com o passar do tempo, toda a água foi coberta de terra e, daí, nasceram as cidades dos Orixás.

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Ao acordar, Oxalá recebeu a penalidade de nunca mais poder tomar vinho de palma; porém, a ele foi dada uma outra missão: criar todos os seres vivos para habitarem a terra.

E, eis a fusão entre o mito do Cuidado e o mito de Oxalá: do barro, Oxalá modelou os seres humanos e cujas diferentes características se devem ao fato de que o Orixá ainda estava sob o efeito do vinho de palma.

A diversidade das raças e das etnias humanas deve-se aos efeitos da embriaguez de Oxalá.

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Da união Oxalá e Iemanjá (Yemoja) nasceram a maioria dos (ou todos os) orixás iorubanos. Segundo a mitologia africana, os filhos do casal nasceram do estômago de Iemanjá – talvez uma ancestral e africana afirmação mítica do parto cirúrgico (a cesariana).

Dadá, Xangô, Ogum, Olocum, Olossá, Oiá, Oxum, Obá, Oco, Oxossi, Oquê, Ajê Xalugá, Omolu, Orum, Oxu são filhos do casal Oxalá – Iemanjá.

Havendo criado os seres vivos do mundo, Oxalá se recolhe ao seu reino, ao lado de sua esposa.

A cor e a vela de Oxalá são brancas; para saudá-lo se diz “Epa, babá”, ou seja, “Salve, pai!”; a tradição lhe consagra a sexta-feira como dia de homenagem.

A integração do animi na personalidade masculina de Oxalá é vista nas ocasionais representações de ser um deus ora feminino ou andrógino, as vezes velho (Oxalufã) e, noutras vezes, jovem (Oxaguiã).

Oxaguiã e Oxalufã, aspectos do ciclo da vida de Oxalá, são tidos como seus filhos: referem-se às estações da vida de todo homem.

Talvez se possa afirmar que Oxaguiã, Oxalufã e Oxalá são a expressão do processo de individuação masculina: o primeiro, a integração dos arquétipos anima-animus; o segundo, a integração do arquétipo andrógino; o terceiro, a integração do arquétipo animi.

Oxaguiã, expressando a manhã da vida, é o deus da expansão e da fartura durante o ano todo; Oxalufã, expressando a tarde da vida, é o deus guerreiro e valente; Oxalá, expressando a noite da vida (a experiência da madureza), é o deus da harmonia, da pureza, da paz, da respeitabilidade.

Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 23/10/2010
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