E, por si, move.

Memórias de minha infância.

Ninguém neste mundo tem o direito de, diante de outra pessoa, falar sobre aquilo

que ainda não viveu desesperadamente.

Portanto, se esse for o seu caso, recomendo-lhe: quitus.

"Por sí mesmo, vá". Disse-me meu pai, um dia, deixando-me sozinho, ladeira abaixo, guidão na mão. Em cima daquela bicicleta, lá fui eu com os olhos fixados na roda e nos buracos; ao mesmo tempo, vivendo o estar caminhando e temeroso quanto à queda possibilíssima. Não teve como. Naquele instante tive que descobrir que o segredo da arte era pedalar. Foi o que desesperadamente fiz. Ví, desde então, que a ladeira não era tão íngreme como pensava e que, a cada momento e com cada pedalada a minha bicicleta ganhava força, ganhava impulso e ia. De repente, o guidão não vibrava mais, doido, como fizera até então. Também, a roda se assossegou em cima da linha reta imaginária que pude traçar para ela à sua frente e à minha. Neste momento, também descobrí que podia erguer a cabeça e olhar para os lados, para o mundo mais amplo que até agora evitara, e pude, finalmente, admitir para mim mesmo, sem a necessidade de pai e mãe, que sabia andar de bicicleta.

22/05/2005

Abenon Menegassi