O Primeiro Encontro

“Nos encontramos à noite, passeamos por aí…” (Carlos Colla)

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Sexta-feira, à noite, me arrumei e saí, tranquila e confiante no lema “vamos nos ver, sim, e no mínimo seremos amigos”.

Quando desci do ônibus, liguei para ele. Eu não tinha reconhecido, mas ele já estava lá, do outro lado da rua, bebendo uma cerveja. Enquanto esperava para atravessar a rua, fiquei olhando e me perguntei: o que uma coisinha linda daquelas pode querer comigo? Perguntei e respondi: Nada, Babi. Vamos nos divertir, mas sem expectativas, porque com certeza não vai acontecer nada”.

Cheguei perto e nos cumprimentamos. Eu estava muito sem graça e ele começou a puxar assunto, para quebrar o gelo. Um papo muito tenso, pelo menos para mim. Parecia que o encontro ia terminar em quinze minutos. Mas a conversa foi fluindo e decidimos entrar. Escolhemos uma mesa perto do palco, pedimos um balde de cerveja e a conversa continuava. Muita conversa, como sempre tinha sido no MSN. A grande diferença é que agora eu estava muito perto daquela boca e daquele sorriso lindo, e isto estava me deixando zonza. Infelizmente aquilo tudo não era para o meu bico e o máximo que eu podia fazer era aproveitar o momento.

Apesar da música, continuávamos conversando, e precisávamos falar bem perto um do outro para poder entender. Cada vez que eu saía do pé do ouvido dele, quando ele vinha para o pé do meu ouvido, nossas bocas passavam muito perto uma da outra e, nossa, como era difícil me segurar!

De repente ele foi ao banheiro. Pedi mais um balde de cervejas e comecei a dançar. Quando ele voltou, em vez de se sentar – lembro que ele tinha dito “eu não danço” -, começou a dançar comigo.

Já tínhamos bebido bastante e quando percebi estávamos nos beijando de um jeito que arrepiou até os cabelinhos do dedão do meu pé. Eu sempre achei que aqueles pêlos chatos não serviam para nada, mas naquele momento eles mostraram para quê servem: são indicadores de nível de emoção. Desde o pé até a cabeça, todos os pêlos do meu corpo ficaram arrepiados. Fiquei tonta, literalmente, e comecei a passar mal.

Nos sentamos para eu poder respirar melhor. Ele fez carinhos em mim e disse: “fica calma, você não vai passar mal. Olha pra cima.” Tão delicado. Em vez de dizer ‘vomitar’, dizia ‘passar mal’, como se daquele estágio eu ainda pudesse ficar pior. Eu disse “vou sim”, e deitei a cabeça sobre a mesa.

Chegou a hora em que não deu mais pra segurar. Virei para o outro lado e vomitei muito. Ele devia estar muito assustado (eu, no lugar dele, já teria saído correndo), mas ficou segurando minha cabeça.

Depois ele me explicou que se alguém segurando minha testa, fazendo força para cima, enquanto eu vomitava, eu faria menos força, ou qualquer coisa parecida. Não lembro, mesmo. Na hora só conseguia pensar no vexame que eu estava protagonizando.

Depois de sujar muito o chão, apaguei por minutos. Então ele me chamou para irmos embora. Já estava um pouco melhor (dormir sempre faz bem, né?) e ficamos conversando do lado de fora. Ai, gente, bêbado faz coisas horríveis! Estava conversando com ele em inglês, imagina!

Primeiro encontro, fico bêbada, passo mal e depois converso em inglês. Fico imaginando o que ele estava pensando naquela hora. Algo como “que mulher maluca, tô doido para ir embora.”

Mas como prometia o nick que ele usou no chat, ele foi muito carinhoso. E paciente, eu falei um monte de besteiras e ele teve uma paciência enorme comigo.

Quando o dia estava amanhecendo, tive a certeza de que não nos veríamos mais. Ele disse que eu estava errada, pegou seu ônibus e foi embora.

Fiquei parada ainda um instante, olhando o ônibus voltar para o Rio. Quase enfiei a cabeça na parede de raiva por ter perdido uma chance tão legal. Mas a vida é assim, não que eu tenha que aceitar, mas acho que já me acostumei.