Agradecimento, Que vida Bela!
Em primeiro lugar quero agradecer a todos os amigos que leram meu texto, O Poder das Palavras, como todo artista, sou insegura, adoro escrever, criar, mas é preciso mostrar e como ainda guardo aquela menina sapeca, que se acha muito inteligente, mas que precisa ouvir isso dos adultos, e se por algum motivo esse adulto me frustrava, amarrava um bode, e ficava triste, desanimada. Vocês foram perfeitos! em me acolher com tamanho carinho, adorei saber detalhes sobre a proibição da escrita, respondi aos comentários, mas infelizmente não foi possível publicá-lo, ainda estou tateando na internet, as vezes me enrolo, mas não desisto e uma hora acabo aprendendo.
Aniversário, ontem foi meu aniversário, e como sou meio chata, tenho poucos amigos, prefiro sempre fazer nesse dia algo muito especial que eu goste muito. Tenho algumas lembranças umas tristes outras deliciosas:
Tenho que falar da primeira festa de aniversário que me lembro, eu devia ter no máximo três anos, minha mãe fez uma festinha, convidou algumas crianças, fez um bolo, docinhos, os refrigerantes eram em garrafas de vidros, (minha mãe se chamava Laura, era uma mulher, alegre, analfabeta, filha De Francisca lá de Bom Jesus do Itabapuama, interior do Rio, perdeu a mãe e o pai, quando tinha uns quatro anos, foi separada dos seus muitos irmãos, uns nove, e foi criada por uma mulher, para ser sua empregada, não tinha registro de nascimento, até os trinta anos não existia legalmente, só ai se autoregistrou e passou a existir, meu pai biológico,trabalhava nas barcas Rio Niteroí e tinha o apelido de Pernambuco, nunca o vi, pois ele sumiu ao saber da gravidez da minha mãe, e a deixou sozinha, nesse Rio de Janeiro dos anos sessenta, ela foi acolhida por vovó e meu novo pai, ele era bicheiro, escrevia para o jogo de bicho, eles me adoravam, papai ficava um tempão lustrando meus sapatos, adorava sair com sua bonequinha loura com cachinhos, na rua as pessoas falava que eu era uma bonequinha e ele sorria todo bobo, mas ele era muito ciumento, minha mãe dava razão, e nessa festa de aniversário, o pau quebrou entre eles, e me vi encima de uma cadeira, na hora dos parabéns, e ele veio da cozinha gritando e quebrando as garrafas de refrigerantes, as pessoas correram, só me lembro do bolo cheio de caco de vidro, e a festa acabou. Um dia perguntei se ele lembrava desse episódio, e ele disse que não, falei então, é mais aquela menininha, quase um bebê, nunca esqueceu. Nunca mais quis festa de aniversário, não abri mão de festejar, mas não queria dividir aquele dia com quem pudesse estragá-lo. Então passei a me presentear com roupas nova, passeios, ou dividir esse dia com uma pessoa amada.
Um desses amores, foi um querido, que eu adorava e ele a mim, estávamos enfeitiçados pelo amor, combinamos que íamos ficar num motel por um longo tempo, e preparamos nossa festa, eu fiz inhoque, ele comprou champanha, e ficamos nos amando, comemos inhoque, que por sinal estavam duros, bebemos champanha, e ele me deu de presente um jogo de panelas de vidro, que na época era meu sonho de consumo, acho que ficamos quase dois dias no motel, viamos desenho na tv, tomávamos banho de hidromassagem, e ficávamos nús o tempo todo, era divino admirar nossos belos corpos, aos vinte poucos anos, esse foi um aniversário que deixou saudade, era uma mistura de prazer, alegria, realização, amar e ser amada.
O outro foi comemorar com um amor argentino, lá em Boenos Aires, era um lindo amor, nos conhecemos em Copacabana em um carnaval, eu estava fantasiada de passista de escola de samba, na entrada do Centro Comercial de Copacabana, divulgava as roupas de uma loja de fantasias no segundo ou terceiro andar, ele me viu e se encantou, quis conversar, mas falei que estava trabalhando e não podia ficar de papo, ele se afastou, e quando terminei o horário combinado, estava ele no ponto do ônibus, se aproximou e me cantou, não dei bola e falei, - estou sempre no posto três, a gente se vê, e fui pra minha casa, que na época era um pensionato para moças, na Rua Marechal Cantuária, na Urca. O mês de fevereiro ou março passou e ao final minha amiga que era freguesa da loja, disse que um rapaz argentino ia todos os dias lá para saber notícias minha, e o único contato que a dona da loja tinha, era essa amiga, fiquei curiosa, que homem é esse? liguei e ele veio, Enrique, Quiqui, seu apelido, tinha perdido a mãe e o pai, morava na casa deles sozinho, sua tia morava em baixo, ele trabalhava como funcionário público, tocava percussão em uma banda, nos fins de semana, adorava o Brasil, sua cultura, sabia mais português do que eu, conhecia a nossa música, vinha para o Rio todos os anos em suas férias. Fomos para o Largo do Machado, era uma noite linda de verão, ele estava tão feliz por me achar que dançamos no meio da rua, e o sexo foi divino, foi um amor pra muitos anos, eu aqui ficava sem ninguém, namorávamos por telefone, cartas, fitas k7, e um dia ele me convidou, juntei dinheiro e como presente de aniversário pedi dinheiro aos meus amigos, eu ia a Boenos Aires, ele me ensinou um caminho mais barato, ir para Uruguiana, atravessar a fronteira num ônibus local e em Passo de los Libre pegar um ônibus até B. Aires.
Peguei minha mochila, algumas roupas, entre elas meias pretas, cinta ligas, calcinha fio dental, vermelha com peninhas, levei azeitonas em lata, pão de forma, goibada, laranjas, biscoitos, vinho, abridor. Nas paradas do ônibus eu não descia, não podia gastar dinheiro, que estava contado, observei que um rapaz lá na outra cadeira, também não descia, ele era argentino, tímido, fui lá e perguntei porque ele não descia? ele disse que estava sem dinheiro, então o convidei para participar do meu pequeno banquete, ele aceitou, veio para o meu lado, abri um pano de prato pus goiabada dentro do pão, descasquei laranjas e nos banqueteamos, ele me contou que era estudante de engenharia civil, que tinha uma namorada carioca, e estava retornando das ferias, falei que ia para B.A. e não tinha a menor idéia de como chegar lá, ele me tranqüilizou dizendo que ia pra lá e me colocava no ônibus, ficamos juntos o resto da viagem. Quando chegamos em Uruguaiana, o ônibus local já não estava mais rodando, ele falou vamos a pé, respondi que sim, e pude observar a beleza do céu, naquela linda noite de lua cheia e muitas estrelas, lá embaixo da ponte as águas do rio correndo, aquele céu, os carros e aqueles jovens a pé, me senti num filme de amor, e pensei como eu era feliz, livre, sair do país a pé em busca de um amor, eu o queria meu marido, seria capaz de viver na Argentina.
Já estava tarde e o ônibus também já tinha partido, só restara espera o trem que sairia mais tarde, compramos as passagens, esperamos algumas horas e finalmente o trem chegou, era tudo tão diferente, após alguns passos o português sumiu, e eu era a estrangeira, eu falava e os outros me olhavam admirados, entravam pessoas pobres, com ar cansado, vendedores oferecendo água caliente e mandarinas, não sei se é assim que se escreve, mas era assim que eu ouvia. Fazia um frio que era amenizado com um jato de ar quente que saía do canto do trem, os bancos eram duros e cabiam três pessoas, numa hora uma senhora me vendo cansada, como uma avó, falou - deita aqui, deitei a cabeça no seu colo e dormi, ao acordar senti vontade de ir ao banheiro, chegando lá tomei um susto, não tinha vaso sanitário, só um buraco no chão onde dava pra ver os trilhos correndo, tratei de segurar e tentar mirar o buraco, foi muito engraçado. Após longas horas naquele trem, finalmente chegamos em B.A, mas as portas não abriam, meu amigo olhou pra mim, apontou a janela e lá fomos nós, saímos pela janela, lá fora tinha umas mulheres linda e muito bem arrumadas, nos olhava tentando entender e nós riamos muito como adolescentes que eramos, ele me acompanhou até o ônibus que passava no bairro Avellaneda, falou com o motorista e ele fez que sim ao ver o endereço, desci praticamente na porta do sobrado do meu amado. Eu disse que ia mas a mais de um mês, ele não sabia qual seria o dia, toquei a campainha e ele desceu, me olhou e recebi o abraço mais gostoso da minha vida, foram quinze dias de prazer, alegria, conheci gente nova. Sua tia preparou um jantar especial para mim, conheci seu primos e tios, e a noite fomos apara sua casa no andar de cima, lá era uma casa aconchegante e triste, tinha dois quartos, um grande com cama de casal, e o outro com aparelho de som, muitos discos e k7, instrumentos musicais, máquina de escrever, quadros, muitos livros, tinha uma copa grande onde vi um geladeira pintada de preto, foi ele que pintou sua dor, pois perdeu seu pai com câncer, ele aplicava a morfina. Era carinhoso e me adorava, eu o amava, eramos ambos sozinhos no mundo, sensíveis e porque então não ficávamos juntos? Ele era portenho, jamais se casaria com a sua brasileira. A minha liberdade o envolvia e ao mesmo tempo não cabia ali. Um dia o recebi após o trabalho, vestida apenas com minha calcinha vermelha a cinta liga preta um sutiã preto uma maquilagem forte, com uma pinta no rosto, perfume, luz vermelha acesa... quando abri a porta e o recebi, ele levou um susto e disse entra se minha tia te vê... ele enlouqueceu de tesão, mas isso é certo o assustou, afinal que louca era eu? Esse amor também não deu certo, mas vamos combinar quem não gostaria de sentir o que senti naqueles quinze dias de lua de mel com meu portenho amado? E esse presente de aniversário ficou e nunca sairá da minha mente...Vou parar por aqui, outro dia termino essa história que vivi e adoro tê-la vivido. Um dia fomos ao telhado da casa e ele tirou uma foto minha, montada em uma vassoura como uma bruxa, apontando a lua, naquela hora eu pensei que aquele era um momento feliz da minha vida, e como uma parada no tempo, sempre que eu quisesse poderia voltar na memória e relembrar aqueles dias felizes, que um dia seria passado, e sempre que preciso me abastecer de amor e felicidade, fecho os olhos e volto naquele ponto que separei em mim.
Glória Cris