Dias Difíceis

Nossa como esperei por esse momento, meu cérebro já estava ficando maluco de tantas palavras que iam e viam sem poder sair, pois a porta, ou “janela” estava trancada, aí se batiam e se tornavam doloridas, assim como foram meus dias naquela terrível escuridão tortuosa e desfocada.

Tenho gravado todos os momentos daqueles felizes e infelizes dias de agonia e graças a Deus, assim provo que tenho uma memória sadia, pois não perdi um único instante do que me ocorrera, atenção, percepção e memória, acho que Priscila podia me dar um 10 hoje, subjetivamente sei o que significam.

Foi um final de semana triste, na sexta me aborreci bastante com coisas da vida, e ele assim se seguiu, com dores de cabeça e umas luzes na lateral dos olhos, era como feixes, mas atribuía a algo espiritual, e as dores de cabeças a período menstrual, tive um sonho bastante inusitado, sonhei que estava na casa de minha avó materna (sempre que sonho com essa casa algo acontece comigo é como um aviso) e tudo estava escurecendo, aí entrava no banheiro e a escuridão ia aumentando e algo como um bicho esquisito começou a sair de dentro do ralo, a escuridão aumentava, foi então que aporta se abriu trazendo com ela a claridade de volta e o Marcus me arrastou de lá. Então acordei na Segunda com uma impressão ruim e com uma nuvem negra em minha visão, pensei que fosse a lente e não dei tanta atenção, mas a impressão ruim continuava, até comentei com Marcus que tinha sonhado com ele, mas não tive como contar o sonho face às atribulações da aula. Na terça feira a nuvem já estava maior e não enxergava uma parte de meu dedo ao colocá-lo diante de minha vista direita, pensei ser a lente, e continuei trabalhando com dificuldade, a noite, na Faculdade foi que pude ter uma maior dimensão do meu problema, pois comecei a enxergar as pessoas com a face esquerda desfigurada e aí aquela impressão tomou a proporção de um medo tão maior que tive vontade de chorar, em relato escrito no mesmo dia para Ita, onde em um bilhete contei o que ocorria, no final da aula Prof. Rafael fez um teste de visão periférica e pude atestar a gravidade da situação, intimamente, sabia que algo estava errado.

Não dormir!!

Na quarta corri atrás de um atendimento médico, pois não tenho plano de saúde e no momento nem mesmo grana,salvo uma atendente que foi um anjo enviado por Deus,que conseguiu uma consulta para mim com um valor abaixo do que estava encontrando.

O médico foi categórico e chegou a ser cruel, atestou o descolamento da retina do olho direito, com o comprometimento da mácula e disse-me que talvez fosse irreversível devido ao tamanho do meu grau, que a cirurgia era muito cara e que eu deveria procurar um especialista com urgência!!!

Imaginem como fiquei, aliás, não dá para imaginar, me senti em um buraco negro no universo e me afundei, pensei nas palavras, na poesia, nos livros,em minha mãe, nos rostos, no trabalho e principalmente na minha faculdade, meu sonho, minha vida!!!Foi o primeiro lugar que pedi a Bernardo para me levar, queria o abraço e alento de meus amigos, e quem sabe uma esperança brotasse em meio a meu desespero que tentava abalar minha fé.

E assim no dia seguinte começava a luta para conseguir um especialista, porém haviam dois obstáculos: um feriado e a falta de grana, mas houve toda mobilização por parte de meus amigos e familiares para que eu conseguisse o mais rápido possível ser atendida, pois o tempo era meu maior inimigo.

Aquele feriado foi terrível, esperava e lutava em minha dualidade, acreditar que vai dar certo ou lembrar-se das palavras categóricas daquele oftalmo que deixou minha alma arrasada.

Pensava, meu Deus não me deixe sucumbir, daí-me forças e Ele me mostrava que estava comigo a cada telefonema ou visita de meus amigos mais que especiais, que me levantavam e de certo modo clareava aquela escuridão existente não só em meus olhos, mas em meu ser.

Era difícil ficar deitada a todo tempo, elétrica como sou, era quase uma tortura, sem poder ir a claridade, pois doía meus olhos , não podia sequer sentar, ler, nem se pudesse, não enxergava nada!!Até para andar tinha certa dificuldade, pois o olho afetado era o que mais eu enxergava, o esquerdo só possuo 20% da visão e minha lente não é adequada, por tanto uma visão limitadíssima.

Dependia quase que totalmente de outras pessoas e graças a Deus tinha com quem contar. Ás vezes era inevitável à tristeza, pois ficar sem escrever era uma espécie de dilaceramento, doía fundo mesmo, como ficava sem nada para fazer me vinha o medo de jamais voltar a enxergar, e em minhas conversas com Deus, o perguntava: é essa a tua vontade?Se for, tenho que ser resignada, mas meu coração respondia, jamais iria dar-lhe a alegria que tens em escrever, o fascínio e o amor que dá formas as letras e a dedicação e luta da realização de seu sonho e por puro capricho ou algo maior,tirá-lo de você, talvez queira sim, uma reforma íntima vindo da nova forma a qual enxergará o mundo e as pessoas que o compõem.

Procurei então me ocupar de coisas legais, transformar de alguma forma aquele pesadelo e poder retirar algo de bom, e graças a Deus podia escutar meus poemas, ouvir Clarice, Pessoa, Drumonnd, eles suavizava minha dor,ouvia as orações de Chico e me fortalecia a cada dia.

E assim, graças a esses anjos de luz que Deus colocou em minha vida, pude fazer minha consulta e sem hesitar devido ao valor e com o aconselhamento de meus amigos, no dia 06 de Maio de 2009, renovei meu ser e tive a certeza de que estamos sempre amparados por seres especiais e iluminados, ao qual faço questão de agradecer com o mais profundo de minha alma e do meu coração e dizê-los que se não fosse por vocês, essas linhas não seriam escritas e permaneceria na escuridão, sem ter nada de material para dar-lhes dou a minha vida em eterna gratidão.

Agora entendo o sonho, a escuridão era o descolamento da retina se aproximando, e Marcos a representação de vocês meus grandes e eternos amigos e familiares.

“E como diz meu amigo Nietzsche, “É preciso ter caos e frenesi dentro de si para dar à luz uma estrela dançante.”

Siarom

22/05/2009

Alanna Siarom
Enviado por Alanna Siarom em 18/08/2010
Reeditado em 05/12/2015
Código do texto: T2445688
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