O Melhor Conselho
Antes de começar o texto propriamente dito, eu gostaria de alertá-los para algumas questões acerca dos meus escritos...
Como eu já disse inúmeras vezes, ultimamente eu ando incapacitado de escrever algo decente. A minha dor de cotovelo não me permite me concentrar em coisas interessantes e dissertar sobre as mesmas. Estou incapacitado, com minhas energias minadas. Nada muito grave, suponho que seja temporário. Mas ainda assim, não me vejo capaz de escrever algo útil para vocês.
Por isso, para aqueles que ainda não perceberam, eu gostaria de deixar claro que a qualidade dos meus textos atuais tende a ser bem menor do que a dos antigos. Não que eu considere os meus textos anteriores como grandes obras ou algo do gênero. Mas mesmo que de baixa qualidade, eles eram melhores do que estes que eu lhes apresento atualmente. Enquanto meus trabalhos forem classificados como biografias, vocês não precisam esperar nada de espantoso. Será apenas um desabafo desqualificado.
Confesso que, normalmente, eu não escreveria nada. Mas, como uma amiga minha me disse indiretamente uma vez, "escrever é um exorcísmo", e eu pretendo usá-lo. Enquanto for possível desabafar por meio de palavras, eu o farei.
Mas ainda assim, quero avisá-los para que ninguém perca o seu tempo lendo textos enfadonhos.
Bem, estão avisados...
E agora, falando do conselho propriamente dito. Nestes últimos dias, eu tive de fazer uma viagem a trabalho, para a cidade onde eu conheci a tal garota que me fez "tanto mal", por assim dizer.
Até citei a tal viagem na minha última postagem. Foi ao retornar daquela viagem que eu tive a epifania acerca das lembranças que nenhum adeus apagará.
Mas bem, a tal viagem foi... digamos... complicada para mim. Complicada no sentido de me trazer muitas lembranças felizes e, por serem lembranças, dolorosas.
E desde que eu voltei da tal empreitada, tenho me sentido cabisbaixo, derrotado. Na fossa.
Normal, suponho. Todos têm essas fases de desolação, descontentamento, sorvete, cobertores, tardes chuvosas, pijamas deploraveis, cabelo desarrumado e filmes românticos. Nada mais natural. Mas ainda assim, não me parecia a coisa certa a fazer.
Sei lá, passar dias sofrendo pelos cantos por uma paixão mal resolvida. É uma atitude de derrotado, não?
Eu vinha tentando esquecer tudo, tocar a bola pra frente, superar o sofrimento e melhorar. Sim, tentei de todas as maneiras. Tentei ocupar a cabeça com literatura, cinema, jogos e afins. Até adiantou, confesso. Mas só na hora em que se está executando a dita tarefa. Quando eu fechava o livro, ou via encerrar-se a sessão do cinema, os sentimentos obscuros voltavam ao topo da minha mente, ocupando-a e me arrastando novamente para a tal fossa. E isso já estava começando a me desanimar, se é que eu poderia ficar ainda mais desanimado. Foi então que eu resolvi recorrer a uma solução que, a meu ver, não é das melhores: desabafar com um amigo.
Bom, eu não considero uma boa alternativa por dois motivos: Confiar nas pessoas e ficar em divida com elas.
Mesquinharia de minha parte, eu sei. Amizades são exatamente isso, não? Confiar e estar lá quando for necessário. Eu sei disso. Mas é por isso que eu evito ter os tais "amigos". Amizade exige proximidade e esta normalmente resulta em sofrimento. E poxa vida, a última amizade séria que eu tive terminou em uma paixão unilateral e em uma dor de cotovelo que me impede de escrever. Convenhamos, né. Eu tenho meus motivos para temer amizades.
Mas enfim, cedi à necessidade e fui conversar com uma amiga. E para meu espanto, tal ação me ajudou.
Essa amiga, uma das poucas que me restou, sempre me pareceu uma pessoa com uma visão diferenciada das coisas. Tal como eu, por assim dizer. Nossa amizade começou, um bom tempo atrás, justamente pelas experiências ruins que nós partilhávamos. Cobranças exacerbadas, amigos intragáveis, sentimentos de solidão e tantas outras coisas. Como eu era mais velho, eu costumava ver nela as "porcarias" que um dia eu já sentira. E, à época, eu me sentia como uma pessoa em dívida com a sociedade. E eu vi nela, uma possibilidade de... sei lá, fazer uma boa ação. E o que no início era só uma tarefa para mim, logo se tornou uma parceria. As nossas semelhanças podiam ser limitadas pelos traumas e um ou outro gosto parecido, como a banda favoríta e alguns filmes. Mas ainda assim, nossa amizade florescia de forma interessante.
Digo "florescia", no pretérito, pois não posso afirmar que ela ainda se desenvolva.
Se há uma bobagem da minha cabeça desvairada da qual eu me arrependa, é a de não ter dado o devido valor para aquela amizade em particular. Hoje em dia, a nossa convivência é uma mera centelha do que fora outrora, mesmo que nós façamos parecer que não.
Mas enfim, deixando a dissecação de lado, voltemos ao conselho que ela me deu:
"- Aline, sinceramente, eu já não aguento mais essa dor de cotovelo sem fim.
- Pois então, já pensou em viver essa tristeza toda de uma vez? Sofrer tudo o que há para sofrer de uma vez, parar de ignorar a dor que você está sentindo e lidar apropriadamente com o que quer que esteja te afetando?"
Poxa, como é que eu não havia pensado nisso? A gente perde tanto tempo do presente pensando no futuro, não?
Eu perdi, sei lá, uma semana tentando ignorar a dor que eu sentia, pensando em o que fazer quando ela passasse, quando seria muito mais simples apenas vivenciá-la e esperar que ela sumisse.
Um conselho tão simples e, ainda assim, tão interessante. Me senti na obrigação de seguí-lo. Estou na fossa, oficialmente. E sabem, é até legal. Quer dizer, te obriga a ser sincero consigo mesmo. "Eu estou com dor de cotovelo. Tô fechado pra balanço. É, é verdade."
Encarar o monstro faz com que ele parece até menos assustador. Ainda dói, é verdade, mas agora já não parece uma penitência sem fim.
Então, é nessas horas, nesses conselhos idiotas que nós não conseguimos perceber, que se nota o quão a calhar pode vir uma amizade. Você pode viver sozinho. Pode ser feliz sozinho. Pode fazer o que quiser. Mas poxa... É tão mais fácil fazer em equipe...
Pense nisso.
E enquanto estiver fazendo-o, me traz um pote de sorvete, sim?