Nenhum adeus pode apagar

Antes de mais nada, quero dizer que este texto será escrito e apresentado de uma forma diferente. Apesar de eu já ter me dado muito bem escrevendo crônicas [ou não tão bem assim...], eu sempre quis escrever textos de uma forma mais coloquial, mais como uma "conversa", sabem? Por isso, vou tentar fazê-lo neste texto. Menos formalidade. Espero que gostem. Se não gostarem, me avisem, para que eu possa parar antes de fazer de novo.

Meus textos têm sido menos constantes novamente, eu sei. Agora, por mais que eu acredite que consigo e gosto de escrever, ainda, vez por outra, encontro a mesma barreira que me manteve em um estado de letargia criativa por tanto tempo: o desânimo. E o desânimo é um sentimento bem complexo de se entender e, ainda mais, de se evitar.

No meu caso, não é bem um simples desânimo. Não têm me acontecido grandes coisas ruins ultimamente. As coisas vão bem, tudo está calmo. Mas ainda assim, constantemente me vem essa vontade de simplesmente não fazer nada. De ficar deitado na cama o dia inteiro, ou o desejo incontrolável de caminhar por horas, com o fone de ouvido no máximo e completamente desligado do mundo.

E isso não é muito bom. Parar de vez em quando, tirar umas férias da correria do dia a dia é até aceitável. Saudável, na verdade. Nós temos de reservar um certo tempo da nossa rotina para dar aquela relaxada, pra desacelerar e tal. Mas isso não pode ser uma constante. Tem de ser uma exceção, não a regra.

E é por isso que eu vinha tentando combater essa minha falta de vontade. Desde que eu terminei o conto d'A Carta, eu senti um vazio quanto a minha capacidade criativa. Parecia que eu já não tinha nada mais a dizer. Mas era bobagem, eu ainda tinha coisas a dizer. Ainda há coisas que maculam a minha mente, mesmo que subconscientemente. E são essas coisas que, reservadas, começam a minar minhas forças e a me desanimar.

Bem, por mais patético que eu considere, me parece muito óbvio que o meu problema atual é, pasmem, "dor de cotovelo".

Eu lhes confesso que acho isso tremendamente ridículo. Não consigo conceber que eu sofra por tanto tempo por causa de uma paixonite mal resolvida. Por mais que eu pregue por aí que era minha alma gêmea e afins... Mas ainda assim. Não se pode ficar parado no tempo, chorando pelos cantos. Sim?

Pois bem. Hoje, estava eu viajando de ônibus, após fazer uns exames admissionais para um emprego que começarei daqui alguns dias, ligeiramente cansado e decididamente faminto. Corpo enfraquecido, mente enfadada. Vocês conseguem imaginar o que acontece, certo? Essa combinação te faz, invariavelmente, sucumbir aos sentimentos menos "positivos" que se tem. E foi o que me aconteceu. Quando percebi, já estava pensando... na razão da minha dor de cotovelo.

E daí lá estava eu, cada vez mais triste, chafurdando nas memórias ressequidas de um passado aconchegante e remoendo os sonhos destruídos de um futuro que jamais aconteceu. Engraçado que quando eu sou acometido por essas sessões de "terapia auto-destrutiva de rememorar o passado", eu sempre me pego vendo imagens em preto e branco. Não sei o porquê, mas sempre associo a ditacuja lá com cenas em preto e branco.... Enfim.

Num determinado ponto, estava eu, divagando sobre o que me acontecera e o que deixara de acontecer quando, em meio ao refrão da música "Pra Te Lembrar", do Caetano Veloso [sim, eu ouço Caetano Veloso quando com dor de cotovelo], eu escuto uns versos que me fazem ter uma epifania:

"...Ao te ver sorrindo...

Mais leve que o ar...

Tão doce de olhar...

Que nenhuum Adeus vai apagar."

E daí, "BANG". Entendi.

Nenhum adeus pode apagar, certo? Não era isso que estava acontecendo comigo? Por mais que tenha havido um adeus, que nós tenhamos decidido seguir caminhos diferentes, ou, no caso, que ela tenha decidido por nós dois, o que nós vivemos ainda existe, certo?

Existiu e, ainda hoje, existe. Na minha memória. Na dela, talvez. Do jeito que ela bebe, provavelmente já esqueceu...

É tudo uma questão de interpretação. Eu posso ver o lado meio vazio do copo e pensar: "puxa vida, nós vivemos tantas coisas boas e agora acabou."

Ou, posso tomar vergonha na cara, parar de ficar remoendo o passado, notar o lado meio cheio do copo e pensar: "é, acabou. Mas nós vivemos tantas coisas boas!"

Tão simples. Não há como apagar as coisas que aconteceram. Em preto e branco ou coloridas, as nossas memórias ainda existirão. Claro, lobotomia sempre é uma opção, mas enfim... Vamos nos manter nas opções que não me obriguem a abdicar da sanidade...

Enfim. Não posso continuar com essa dor de cotovelo. Eu fui largado pela garota mais incrível que já conheci? Não.

Eu tive a garota mais incrível que já conheci. E, sabe-se lá o porquê, ela me largou.

Paciência, amigão. Bola pra frente.

Ou pelo menos é isso que eu quero pensar.

O problema dos meus sentimentos bons, das minhas empolgações é que, assim como os seus contrapontos ruins, elas também acabam.

Animador...