M E M O R I A L
Júlio Cezar Moura de Oliveira .’.
Da cidade onde nasci
As origens civilizadoras do município de Maranguape datam do século XVII, quando os holandeses em busca de ouro começaram uma expedição para a Serra da Aratanha, e chegou até a Serra de Maranguape. No período a tribo existente era a potiguar.
Tornou-se povoamento somente no século XIX, com a chegada do português Joaquim Lopes de Abreu que, por doação do governo na metrópole, entrou no domínio de algumas sesmarias, incorporando-as a outras anteriormente compradas.
Em pouco tempo o arruado à margem do riacho Pirapora, em torno de uma capelinha, construída para atender às necessidades religiosas dos moradores, que se ocupavam nas atividades agrícolas, especialmente na cultura do café. Em 1851-1852 a produção de café da província era obtida quase toda nas serras de Maranguape.
Nasci nesta maravilhosa cidade que compõe a região metropolitana de Fortaleza. Sua distância com a capital cearense é de 27 km, sendo uma cidade no sopé da serra de mesmo nome, onde resguarda o principal cartão postal de nosso espaço geográfico. A serra é um soerguimento cristalino com forma de escarpa. Sua altitude é de 930 metros. Tendo uma população com mais 110 mil habitantes, distribuídos por dezoito distritos. Com uma extensão territorial de 591 km2.
Da formação da família
Minha família surgiu do casamento de dois primos distantes (tanto no grau de parentesco como na distancia física) meu pai morava em Caucaia e veio cuidar de minha tia (irmã de meu pai) que havia ficado viúva com oitos sobrinhos menores para ele educar. Minha mãe nasceu na comunidade de Tabatinga com distância ao centro de Maranguape de aproximadamente 8 km.
O primeiro encontro dos dois aconteceu na comunidade da Outra Banda (um bairro próximo ao centro da cidade). Na ocasião estavam acontecendo uma novena (costume peculiar da época).
Meu pai (Sr. José Paz), era um comerciante bem sucedido em nossa comunidade, não visitou os bancos escolares, mas tornou-se um doutor pela escola da vida. Tinha uma veia poética provavelmente herdada de seu pai ( Sr. Júlio Ambrosio). Além disso, era um fino compositor que procurava inspirações na sua vida modesta e cheia de romances dos sertões cearense ao qual visitou.
Minha mãe (D. Valquíria Paz) pouco esteve nos bancos escolares, desde cedo teve que trabalhar para ajudar no sustento da família. Com muito esforço tornou-se uma excelente profissional no ramos da beleza estética, bem como, uma excelente mãe, uma espetacular dona de casa, que sempre soube cuidar e educar seus filhos para a vida.
Devo salientar da importância singular do nascimento dos meus dois filhos, Júlio o mais velho com 15 anos e o Túlio com 22 dias de nascido. Estes dois me fortalecem para que eu possa continuar lutando pelas coisas e as pessoas que realmente valem à pena.
Da formação escolar
Meus pais souberam motivar e direcionar seus dois filhos para a vida acadêmica. Meus primeiros passos acadêmicos foram na Escola de 1º grau Manoel Severo Barbosa, digam-se de passagem, bastante dolorosos, uma vez que no jardim da infância fui forçado a ser destro. Talvez isto tenha dificultado a minha alfabetização e até hoje a minha escrita. No começo tive dificuldades em aprender a ler e escrever. Mas se fosse para começar sem sobra de dúvidas voltaria a me matricular lá.
Na minha cidade havia a Professora aposentada, D. Teresinha, que usava o método da cartilha do ABC, com este método ela garantia que em poucos meses os seus cursistas descobririam o mundo das palavras. Suas aulas aconteciam no contra turno. Geralmente à tarde para que estudava pela manhã como era o meu caso.
Incrivelmente aprendi a ler no decorrer de oito meses, então vieram meus primeiros problemas escolares, “a caligrafia que ninguém queria entender”. Para reverter tal situação vieram os cadernos de caligrafia, que creio não terem me ajudado quase nada.
Na segunda série do ensino fundamental, entrei nas estatísticas estaduais como desistente. Isto se deu por que a professora titular teve que tirar uma licença para tratamento de saúde e a professora substituta era bastante nervosa. Na quarta serie, tive que repetir o ano por indução de minha professora, a mesma achou por bem convencer a minha mãe que eu não estava preparado para a série seguinte, tinha dificuldades em matemática. Isto me chocou profundamente, então jurei que jamais deixaria a minha vida nas mãos dos outros exceto quando a razão dos fatos levasse a isto.
Nos anos seguintes estudei pra valer, tirei todas as dúvidas com os livros que tinha em casa. Até colocava as professoras em cheque com meus questionamentos, geralmente estudava um capitulo a frente delas para saber se elas estavam ou não falando os fatos verdadeiros. Foi assim até o fim do meu ensino fundamental. No sétimo ano conheci um amigo de meu pai, o Tenente do exército Francisco Fernandes dos Reis, o qual era mais conhecido como Doutor. Este era um homem de poucas palavras, mas de muitas ações. Tinha um coração enorme. Não sei por que ele resolveu ajuda-me no conhecimento matemático
Tinha uma admiração pela hierarquia militar, então resolvi conversar com Doutor Reis, sobre a suposta intenção de torna-me um oficial do exército. Seu primeiro passo foi me entregar três livros de matemática para que eu pudesse estudá-los. As minhas tardes eram destinadas a tirar as dúvidas dos conteúdos com ele. Assim no oitavo ano tinha acumulado conhecimento profundo das ciências dos números.
Meus sonhos de ser militar foram esquecidos, não tinha vocação a carreira, mas o conhecimento adquirido proporcionou-me uma condição privilegiada. Terminei com louvor o ensino fundamental. Fui matriculado no Colégio Estadual Anchieta para cursar o ensino médio. Os primeiros dias na nova escola foram terríveis. Faltava carteira, banheiros sujos, sala sem ventilação, professores despreparados e desmotivados que me proporcionaram grandes angustias.
Não fiquei esperando mudanças milagrosas, comecei a exigir dos professores que ministrassem as aulas e não ficassem somente falando coisas que não tinha nenhum interesse para as nossas vidas escolares. Os professores sentindo-se prejudicados por minhas exigências começaram a me pressionar, dificultando ao máximo as provas.
No meu primeiro ano do ensino médio, houve uma greve que durou basicamente 120 dias, meus pais resolveram matricular-me no Colégio São José, uma unidade escolar particular. Quando cheguei à nova escola tive que estudar triplicado para acompanhar os conteúdos. O sistema de ensino era diferente e me exigiam novas posturas e bastante disciplina nos estudos. Fui aos poucos me motivando e tornei-me o primeiro da sala.
Na nova escola tive grandes mestres, os quais me mostraram novos rumos. Aprendi os conhecimentos suficientes para passar no vestibular. Para vida, quase nada. Meu primeiro vestibular por sugestão de minha mãe foi para medicina, fiquei entre os dez primeiros classificáveis. Gostei do resultado no fundo sabia que não tinha vocação para gerar o sofrimento alheio.
No ano seguinte tentei para Geografia por indicação de um colega de sala e não foi que eu passei bem colocado. Comecei o curso na Universidade Estadual do Ceará. Lá sim tive grandes mentores que auxiliaram em minhas futuras escolhas acadêmicas. Conheci muita gente, mas fiz poucos amigos que considera até hoje. Logo que comecei o curso acadêmico conseguir um contrato temporário para ministrar aulas de ciências e matemática.
A escola a qual eu estava lotado era justamente aquela que eu tinha feito todo o ensino fundamental. Nesta escola tive uma grande diretora, a Professora Cleófas Carvalho, que me ensinou todos os passos administrativos de uma sala de aula. Tenho muita gratidão por esta professora. Que com humildade e sabedoria pode me ensinar a educar pessoas.
Voltando a vida acadêmica tive uma professora que revolucionou o meu modo de pensar e de agir. A professora Maria Hercília Coelho Mota. Ela ministrou as disciplinas de didática I e II e estrutura do ensino fundamental e médio. A professora Hercília não costumava ministrar sua aula sozinha, ela nos chamava a responsabilidade de acompanhá-la em seus raciocínios. Imediatamente nos direcionou para estudarmos uma das correntes pedagógicas e realizarmos uma aula seguindo aquela postura. Isto foi fantástico. Este e apenas um exemplo de como ela era e de como e vivenciava minha vida acadêmica.
Do trabalho
No meio do meu curso fui convidado a lecionar no Colégio Estadual Anchieta à disciplina de Geografia. Aceitei. Lá conheci uma coordenadora pedagógica, a Professora Lidia Coelho, que me ensinou os tramites legais do ensino médio. Não foi muito fácil enfrentar o novo rumo que escolhi para mim. Como desafio inicial foi justamente no meu primeiro dia de aula ministrar geografia para uma turma de terceiro ano. Digam-se de passagem era a melhor turma da escola. De imediato o nervosismo toma-me por alguns instantes depois relaxei e foi um ano maravilhoso para mim.
Os quatro anos do meu curso acadêmico se passaram rapidamente, conclui e em seguida fui convidado a trabalhar em um projeto do governo federal em parceria com o governo estadual – PROFORMAÇÃO - programa de formação de professores leigos que estavam em sala de aula. No PROFORMAÇÃO tive a oportunidade de ministrar aulas em quase todo o estado do Ceará. Na ocasião também viajava bastante para as capacitações intermináveis.
No termino do PROFORMAÇÃO, por estimulo de um colega professor, senti necessidade de ter uma pós-graduação. Fiz a pós-graduação em Metodologia do ensino fundamental e médio pela Universidade Vale do Acaraú. O curso era ministrado ao sábado e nas férias de julho. Foi um ano e meio de muito sacrifício, pois tinha pouco tempo para mim e para minha família que sempre me apoiava em minhas decisões. Tive professores fantásticos no pós. Isto vez com que me motivasse mais ainda para ser professores de escola pública do estado do Ceará.
No ano que terminei a Pós graduação foi aberto concurso público para professor em nosso estado. Não hesitei em prestar concurso, passei bem colocado e fui lotado em duas escolas de Maranguape, a Escola de Ensino Fundamental e Médio Santa Rita e o Colégio Estadual Anchieta. No estágio probatório tive que abandonar o curso de Matemáticas que estava fazendo na Universidade Federal do Ceará.
No período ainda do estágio probatório fui convidado a ser coordenador Pedagógico no Colégio Estadual Anchieta. Fiz o concurso público para tais fins. Fui aprovado. O núcleo gestor da época era composto pelo Professor Dias (Diretor geral) Professor Naizio (Coordenador de Articulação e gestão) e por mim (Coordenador pedagógico). Por falta de apoio fiquei sendo meramente um burocrático e meus trabalhos pedagógicos ficaram a desejar. Aprendi muito naquele período. Quando terminou o mandato, fui lotado na CREDE 1, no suporte técnico do ensino. Local onde adquiri conhecimentos que auxiliaram a chegar até aqui e estar novamente gestor.
Na atualidade
Atualmente estou cursando outra pós-graduação em Gestão e Avaliação em educação pública pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Para efeito de conclusão desta especialização deverei optar por um tema de estudo ao qual deverei elaborar um plano de estudo para fins legais.
O tema por mim escolhido foi: a formação de professores e o estabelecimento de padrões de desempenho e certificação docente. A meu ver é o que está mais próximo de minhas vivências como gestor. Poderia escrever sobre outra temática. O curso me proporcionou condições para escreve sobre vários temas.
Tenho enfrentado a todo o momento a falta de vontade e de qualificação dos professores em mudar para melhor a realidade dos jovens ao qual supostamente deveríamos estar ensinando. Ensinando o que? Ninguém ensina nada que não sabe, ou se sabe, não é o suficiente para si, imagine para os outros.
As escolas públicas de um modo geral ficaram a mercê de professores que estão mais interessadas em receber do que doar. Temos que acabar com este biótipo de docentes que fazem da educação apenas um pico, ou que tem traumas e que querem descontar nos seus alunos. Chega desses pactos medíocres que tornaram as escolas públicas como são hoje.
Espero poder ajudar à escola onde estou lotado a melhorar o método de ensino e aprendizagem, formando uma nova cultura. Espero ainda poder ajudar meus colegas de labutar a compreender a realidade.