A minha amada mae, a quarta de 13 irmaos de uma pobre família de um subúrbio do Rio de Janeiro. Filha de autodidactas e socialistas natos, onde a miseria imperava e o amor superava as desgraças impostas por um governo ditador, porque ali havia um verdadeiro lar.
 
Cresceu como uma vaca de presépio e muito cedo aprendeu a sobreviver, sem lembranças de menina ou sonhos adolescentes. Mas sempre teve uma família unida e feliz.
 
Feliz quando, era paparicada por sua avó materna enquanto lutava contra a febre tifoidea aos 13 anos de idade, pouco depois da segunda guerra mundial.
 
Feliz ao chegar a casa, depois de trabalhar em uma fabrica de tecidos em Deodoro. Estudar a noite no centro da cidade e regressar de pé num trem lotado da Central do Brasil, mas consciente que chegaria a sua casa.
Certa que seu pai a esperaria na estação, com seus enormes lábios rouxos e respiração debilitada por uma bronquitis adquirida sendo torturado como prisioneiro político.
 
Feliz porque era sexta-feira à noite e sua mãe a esperava com uma sopa de legumes e depois escutar no rádio de válvulas uma novela de terror e no dia seguinte, toda a família se reunia e escutavam a Vicente Celestino a espera do momento culminante onde ele cantava Granada.
 
Feliz ao casar-se com Pedro no ano de 1954, sofrer no dia 18 de março de 1966,quando foi brutalmente vitimado por um infarte fulminante, morrendo em seus braços, ficando sozinha com suas cinco filhas, a maior com apenas 11 anos de idade.
 
Sofrendo ao saber que estava desenganada pelos médicos com uma tuberculose e feliz por não ser um câncer nos dois pulmões. Tendo que ser internada num sanatório e ver suas filhas divididas num Leilão dos Macacos, sem data marcada para reve-las.