CINQUENTA ANOS DE AMOR DE DEDICAÇÃO
CINQUENTA ANOS DE AMOR DE DEDICAÇÃO
No dia 14 de junho de 2010, familiares e amigos da catalana Sarah Abrahão participaram de mais uma homenagem que colegas de trabalho e autoridades lhe fizeram, no Senado Federal. Desta vez o evento, que ocorreu na Biblioteca Acadêmico Luiz Viana Filho, teve como ponto central a comemoração dos cinquenta anos de serviços prestados àquela Casa Legislativa por ela e por outro servidor, o Sr. Antonio Araujo.
Do currículo da homenageada, consta que se formou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, ingressou no Senado Federal através de concurso público, em junho de 1960, quando tomou posse no Setor de Contabilidade, transferindo-se para Brasília junto com a mudança da Capital, cidade em que mora até hoje.
Sua trajetória profissional, reconhecida e aplaudida por colaboradores, políticos e autoridades em posição de destaque no Senado e fora dele, sempre esteve baseada na competência, dedicação, consciência da importância do seu papel, enquanto servidora e cidadã, e nas ações voltadas para o interesse público. Ao se definir para o Jornal de Senado, em fevereiro, ela ressalta dois pontos que considero relevantes. Primeiro que vê o Senado como sua casa. Esclarece que lá aprendeu o verdadeiro significado da palavra Instituição, e a importância da Democracia no desenvolvimento do País, e da Educação como forma de corrigir os desníveis sociais. Foi nessa linha que sempre trabalhou desde os tempos de Auxiliar Legislativo até hoje como Assessora da Presidência. Dentre suas promoções funcionais, destacam-se duas: a de Assistente da Secretaria Geral da Mesa, a partir de 1966, cargo criado especialmente para ela e aprovado em plenário, como reconhecimento pelo seu trabalho; e a de Secretária Geral da Mesa, cargo no qual se aposentou em 1980. Nesse período, prestou ainda assessoria ao Vice-Presidente da República, Dr. Pedro Aleixo, quando, nessa qualidade, presidia também o Congresso Nacional. Ressalte-se que foi a primeira mulher a ser nomeada, e por duas vezes seguidas, ao mais elevado cargo do Poder Legislativo.
O segundo ponto, mais pessoal, é a atenção para com a família e as suas origens. Esse seu lado eu conheço melhor. Nunca se esquece das dificuldades porque passaram seus pais para criar os sete filhos, em Catalão. Conta que seu pai, Abrahão André, era mascate e viajava pelas roças vendendo mercadorias no lombo de um cavalo para sustentar a casa, enquanto sua mãe, Julieta, cuidava heroicamente da educação dos filhos. O que acho mais interessante nela é a maneira carinhosa com que conversa com todos, independentemente da idade, situação social ou intelectual. Sempre tem uma história bonita de alguém da família para contar e que a gente ainda não sabia. Fala para os amigos e colaboradores do Senado sobre sua cidade natal com tanto orgulho que Angélica Passarinho de Mesquita, atual Secretária Legislativa, assim a descreveu no evento: “... da bucólica Catalão, jamais se esqueceu...”, e, poeticamente, a comparou às águas dos rios que cruzam o município, levando fertilidade e esperança a todos à sua volta.
Durante a homenagem na Biblioteca, vários oradores se revezaram para relatar um pouco do que aprenderam e observaram com Sarah (é assim que todos a chamam), desde que passaram a desfrutar da sua convivência.
Cláudia Lyra, atual Secretária Geral da Mesa, também nos contou sobre uma situação ao mesmo tempo corajosa e engraçada, que aconteceu às vésperas de uma solenidade nacional, que seria realizada em sessão conjunta do Congresso. Sarah havia preparado o roteiro da solenidade, que também marcava a primeira visita do Presidente Médici às duas Casas do Legislativo. No detalhamento do roteiro, constava que a sessão conjunta seria presidida pelo Presidente do Senado. Para ciência, enviou uma cópia ao Embaixador, Chefe do Cerimonial da Presidência da República, que a convocou, juntamente com o Diretor do Senado, para esclarecer que a sessão seria presidida pelo Presidente da República e não pelo presidente do Senado, prerrogativa que constava de um Decreto em vigor. Calmamente, Sarah contestou:
- Benzinho, isto não pode. Decreto não é maior que a Constituição. Só quem pode presidir as sessões do Congresso Nacional é o Presidente do Senado.
Ao que o Embaixador perguntou:
- Dra. Sarah, a senhora quer vir trabalhar conosco?
Então me lembrei que “bem”, “benzinho”, “benzinha” são expressões típicas da nossa região, e que ela sempre usa quando está falando conosco em casa ou no trabalho.
Segundo o pessoal que trabalha com Sarah, “pode” e “não pode” são expressões que demonstram o seu conhecimento pleno e seguro do conteúdo das leis e regulamentos, que ajudou a elaborar e quer ver cumpridos.
Ouvimos durante a cerimônia algumas outras histórias sobre sua atuação e os vários apelidos carinhosos que os colegas lhe atribuem: Guru, Raiz, Mãe do Regimento.
Em seu discurso, o Presidente José Sarney, lhe concedeu mais um título: o de sua professora. Contou que, ao assumir o Senado há trinta e seis anos, antes de tomar qualquer decisão, ia ouvi-la. Em discussões polêmicas sobre algum assunto, interrompia a reunião, dizendo: “Preliminarmente, vamos ouvir a Sarah”. Declarou que sentia segurança quanto ao conhecimento que ela detém sobre a história das leis, do regimento da Casa e do entrelaçamento do Legislativo com os demais Poderes.
Certa vez, escrevi sobre os filhos ilustres de Catalão que saíram pelo mundo afora, dos quais não tivemos mais notícias.
Pois bem, eis aí um nome e um pouco da brilhante história de vida de uma dessas pessoas que vive e trabalha logo ali, em Brasília.
Texto publicado em 23/06/2010 no Diário de Catalão.
CINQUENTA ANOS DE AMOR DE DEDICAÇÃO
No dia 14 de junho de 2010, familiares e amigos da catalana Sarah Abrahão participaram de mais uma homenagem que colegas de trabalho e autoridades lhe fizeram, no Senado Federal. Desta vez o evento, que ocorreu na Biblioteca Acadêmico Luiz Viana Filho, teve como ponto central a comemoração dos cinquenta anos de serviços prestados àquela Casa Legislativa por ela e por outro servidor, o Sr. Antonio Araujo.
Do currículo da homenageada, consta que se formou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, ingressou no Senado Federal através de concurso público, em junho de 1960, quando tomou posse no Setor de Contabilidade, transferindo-se para Brasília junto com a mudança da Capital, cidade em que mora até hoje.
Sua trajetória profissional, reconhecida e aplaudida por colaboradores, políticos e autoridades em posição de destaque no Senado e fora dele, sempre esteve baseada na competência, dedicação, consciência da importância do seu papel, enquanto servidora e cidadã, e nas ações voltadas para o interesse público. Ao se definir para o Jornal de Senado, em fevereiro, ela ressalta dois pontos que considero relevantes. Primeiro que vê o Senado como sua casa. Esclarece que lá aprendeu o verdadeiro significado da palavra Instituição, e a importância da Democracia no desenvolvimento do País, e da Educação como forma de corrigir os desníveis sociais. Foi nessa linha que sempre trabalhou desde os tempos de Auxiliar Legislativo até hoje como Assessora da Presidência. Dentre suas promoções funcionais, destacam-se duas: a de Assistente da Secretaria Geral da Mesa, a partir de 1966, cargo criado especialmente para ela e aprovado em plenário, como reconhecimento pelo seu trabalho; e a de Secretária Geral da Mesa, cargo no qual se aposentou em 1980. Nesse período, prestou ainda assessoria ao Vice-Presidente da República, Dr. Pedro Aleixo, quando, nessa qualidade, presidia também o Congresso Nacional. Ressalte-se que foi a primeira mulher a ser nomeada, e por duas vezes seguidas, ao mais elevado cargo do Poder Legislativo.
O segundo ponto, mais pessoal, é a atenção para com a família e as suas origens. Esse seu lado eu conheço melhor. Nunca se esquece das dificuldades porque passaram seus pais para criar os sete filhos, em Catalão. Conta que seu pai, Abrahão André, era mascate e viajava pelas roças vendendo mercadorias no lombo de um cavalo para sustentar a casa, enquanto sua mãe, Julieta, cuidava heroicamente da educação dos filhos. O que acho mais interessante nela é a maneira carinhosa com que conversa com todos, independentemente da idade, situação social ou intelectual. Sempre tem uma história bonita de alguém da família para contar e que a gente ainda não sabia. Fala para os amigos e colaboradores do Senado sobre sua cidade natal com tanto orgulho que Angélica Passarinho de Mesquita, atual Secretária Legislativa, assim a descreveu no evento: “... da bucólica Catalão, jamais se esqueceu...”, e, poeticamente, a comparou às águas dos rios que cruzam o município, levando fertilidade e esperança a todos à sua volta.
Durante a homenagem na Biblioteca, vários oradores se revezaram para relatar um pouco do que aprenderam e observaram com Sarah (é assim que todos a chamam), desde que passaram a desfrutar da sua convivência.
Cláudia Lyra, atual Secretária Geral da Mesa, também nos contou sobre uma situação ao mesmo tempo corajosa e engraçada, que aconteceu às vésperas de uma solenidade nacional, que seria realizada em sessão conjunta do Congresso. Sarah havia preparado o roteiro da solenidade, que também marcava a primeira visita do Presidente Médici às duas Casas do Legislativo. No detalhamento do roteiro, constava que a sessão conjunta seria presidida pelo Presidente do Senado. Para ciência, enviou uma cópia ao Embaixador, Chefe do Cerimonial da Presidência da República, que a convocou, juntamente com o Diretor do Senado, para esclarecer que a sessão seria presidida pelo Presidente da República e não pelo presidente do Senado, prerrogativa que constava de um Decreto em vigor. Calmamente, Sarah contestou:
- Benzinho, isto não pode. Decreto não é maior que a Constituição. Só quem pode presidir as sessões do Congresso Nacional é o Presidente do Senado.
Ao que o Embaixador perguntou:
- Dra. Sarah, a senhora quer vir trabalhar conosco?
Então me lembrei que “bem”, “benzinho”, “benzinha” são expressões típicas da nossa região, e que ela sempre usa quando está falando conosco em casa ou no trabalho.
Segundo o pessoal que trabalha com Sarah, “pode” e “não pode” são expressões que demonstram o seu conhecimento pleno e seguro do conteúdo das leis e regulamentos, que ajudou a elaborar e quer ver cumpridos.
Ouvimos durante a cerimônia algumas outras histórias sobre sua atuação e os vários apelidos carinhosos que os colegas lhe atribuem: Guru, Raiz, Mãe do Regimento.
Em seu discurso, o Presidente José Sarney, lhe concedeu mais um título: o de sua professora. Contou que, ao assumir o Senado há trinta e seis anos, antes de tomar qualquer decisão, ia ouvi-la. Em discussões polêmicas sobre algum assunto, interrompia a reunião, dizendo: “Preliminarmente, vamos ouvir a Sarah”. Declarou que sentia segurança quanto ao conhecimento que ela detém sobre a história das leis, do regimento da Casa e do entrelaçamento do Legislativo com os demais Poderes.
Certa vez, escrevi sobre os filhos ilustres de Catalão que saíram pelo mundo afora, dos quais não tivemos mais notícias.
Pois bem, eis aí um nome e um pouco da brilhante história de vida de uma dessas pessoas que vive e trabalha logo ali, em Brasília.
Texto publicado em 23/06/2010 no Diário de Catalão.