O MICHELANGELO EMPRESÁRIO

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Notas Biográficas

 

Quando ouvimos ou lemos algo sobre Michelangelo, a imagem que nos vem à mente é a de um gênio solitário preso entre a agonia e o êxtase, deitado de costas num andaime, isolado, a pintar. Porém, documentos encontrados recentemente, nos arquivos de Florença e Pisa, desmistificam totalmente essa imagem romântica. Esses documentos nos revelam uma nova imagem de Michelangelo: O Empresário; exatamente como alguns executivos de hoje.

Michel era homem culto, de bom gosto, viajava em classe executiva (na época de mula), ou, na falta desta, de primeira classe (a cavalo). Vestia-se elegantemente (de preto), bebia vinho trebianno e comia peras florentinas. Foi o principal executivo de uma pequena para média empresa: sua oficina — que de tempos em tempos prestava contas a presidentes de conselhos muito exigentes: os papas.

Opondo-se ao mito romântico do Michelangelo isolado na execução de sua obra, os documentos contam-nos que, na verdade, o artista raramente trabalhava sozinho. Pelo menos treze pessoas ajudaram-no a pintar o teto da Capela Sistina; e mais de vinte participaram do entalhe dos túmulos de mármore da Capela Médici em Florença. Durante os 18 anos que passou construindo a Biblioteca Laurenciana, em Florença, também supervisionou uma equipe de, pelo menos, duzentas pessoas. Esses números estão nos documentos encontrados, porque Michelangelo registrava todas as semanas os nomes de seus auxiliares, os dias trabalhados e o salário de cada um. Alguns deles eram tão conhecidos do artista, que ele os chamava pelo apelido (como Mosca, Cenoura, Esquisitão, Gatuno etc.). Ademais, Michelangelo conhecia muito bem seu pessoal; em suas anotações constava que: Michele era o tipo irresponsável e trapaceiro, Rubecchio um desgraçado total, Pietro um almofadinha. Mesmo quando alguns de seus trabalhadores o decepcionavam ele jamais os despedia: “É preciso ter paciência”, escreveu, comentando uma obra de má qualidade.

Seus funcionários usufruíam de muitas vantagens, tais como: horários flexíveis, bom salário e segurança no emprego (a não ser quando um de seus patrocinadores morria e interrompia a verba destinada ao projeto). Muitos de seus artesões tinham de dez a trinta anos de serviços prestados ao mestre.

Esses relacionamentos informais com seus artesões garantiam a estabilidade no trabalho e o controle de qualidade das obras. Mas quando Francesco lhe apresentou uma escultura mal feita, Michelangelo, imediatamente suspendeu o pagamento e anotou: "Não quero lhe dar mais serviço se ele não cumprir o que prometeu".

Recrutava a elite de escultores de mármore para que realizassem sua visão. Solucionava os problemas e resolvia os impasses que sempre apareciam. Passava dias entrando e saindo das linhas de montagem e trabalhava quase todos os sábados e a maioria dos feriados. Como um verdadeiro executivo Michelangelo controlava e envolvia-se em tudo. "Para supervisionar os escultores trabalhando preciso de cem olhos, escreveu."

Na construção da Igreja de San Lorenzo, prédio mais grandioso de Florença, organizou um sistema de transporte com trenó e bois para trazer os blocos de mármores das pedreiras alpinas (que ainda hoje se mantém praticamente inacessíveis). Selecionava e inspecionava todo o material que chegava, discutia os preços com os carregadores e fazia desenhos até mesmo dos mínimos detalhes; depois virava o papel para fazer os cálculos, redigir uma carta ou mesmo uma poesia.

Michelangelo morreu com quase noventa anos (1564), mas renasceu para a história como um gênio criador e agora como um sábio executivo que se sentia à vontade tanto no mundano como no sublime. Cometeu falhas é certo, mas teve um êxito extraordinário em tudo o que fez e continua tendo até hoje. ®Sérgio.

Veja também: (clique no link)

Michelangelo e Os Chifres de Moisés.

A Máxima de Leonardo Da Vinci.

A Máxima de Salvador Dali.

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Nota: Este texto foi extraído, traduzido e adaptado de: Michelangelo at San Lorenzo: The Genius as Entrepreneur — William E. Wallace — (Cambridge University Press)

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