O Homem Invisível

Nunca imaginei como seria ser invisível. Como seria passar despercebido por todos. Antes tinha meu espaço, meu lugar, meus amigos, minha família, meu trabalho. Acredito que também jamais percebi quem era aqueles homens, mulheres e crianças, seres “humanos invisíveis” que moravam nas ruas, até estar (ou desaparecer) com eles.

Um dos maiores medos do homem pós-moderno é o de ir e vir e não ser percebido. Vivemos dias em que os holofotes da exposição são buscados, a fama, o sucesso, o reconhecimento e etc. Em nome de um minuto de aparição pública e/ou na mídia, muitos acabam vendendo todos os princípios, morais, éticos, religiosos e culturais.

Não é possível para você que ler experimentar a sensação de ser “invisível”, de ser rejeitado ao entrar em um restaurante, de ser expulso dos lugares públicos, simplesmente por não fazer parte da sociedade que valoriza mais as coisas do que as pessoas.

Onde durmo não é mais frio do que o coração daqueles que por mim passam. O meu dia é tão vazio. Ninguém jamais me perguntou por que estou nas ruas? Por que não tenho onde morar? Por que não tenho roupas limpas? Por que às vezes não tomo banho? Por que não tenho uma família?

Neste meu mundo fora da realidade dos transeuntes, tão próximo, porém com barreiras intransponíveis... Não tenho nome, não tenho endereço, não tenho um lugar para ir, também não sei de onde vim nem para onde vou! Um homem invisível não pode ser alguém, pois não há como ser um ser social, quando não há nenhum grupo para eu me relacionar, somente os outros invisíveis desta sociedade excluidora que torna homens descartáveis, menos preciosos do que argila e metal.

Condenaram-me a sob-viver. Sou obrigado a comer com os ratos. Dormir nos esgotos. Nos lugares mais terríveis. Pergunto-me: O que fiz para ser assim tratado? Por que sou obrigado a roubar para pegar em algum dinheiro? Por que não posso trabalhar? Por que me reduziram a este lixo que não pode ser reciclado? Junto lixo para ser reutilizado, mas não há espaço para mim. Por que preciso permanecer apodrecendo aqui neste lixo? O que fizeram de mim? Será que além de mim alguém ainda me ver?

Eu não nasci assim. Eu não cresci assim. Eu não pedi para ser isso... Não suporto mais ser um Homem Invisível!

Luciano Costa (30/05/2010)