Projeto Ficha Limpa, votação
Ontem eu estive no Congresso Nacional para acompanhar a votação do Projeto Ficha Limpa – que impede que um homicida, um latrocida, ou um corrupto se candidate para representar o povo, na nossa forma representativa de democracia. Não posso negar que no mínimo, foi um grande aprendizado, o qual pretendo compartilhar.
Para aqueles que afirmam que o Projeto Ficha Limpa – PLP de 1993 (sim tem dezessete anos que essa lei está sendo enrolada no Congresso) vai esvaziar a casa representante dos interesses da nação, a resposta simples e clara é: não! Vai apenas substituir as figuras marcadas que estão lá fazendo negócios a custa das expectativas e necessidades urgentes de uma nação.
Pois então, eu estava lá, acompanhado de mais meia dúzia de gatos pingados, e o que posso dizer é que no mínimo foi interessante estar lá. Primeiro ponto é dificílimo chegar às “Galerias” (o local de onde podemos acompanhar a seção). Antes de encontrar o corredor, através de uma porta quase fechada em um canto aparentemente em eterna reforma, pedindo orientação duas ou três pessoas haviam me dito que eu não poderia entrar na seção pois eu estava sem terno. Até que um nobre cavalheiro me ensinou o pedregoso caminho para a Galeria, lugar onde pode se entrar sem terno, e acompanhar o zoológico, a feira, que uma plenária no Congresso.
Estavam votando as emendas, chamadas destaques, que efetivamente descaracterizavam todo o projeto Ficha Limpa, uma a respeito dos colegiados, outro que permitia que o candidato processado consiga na justiça uma decisão de efeito suspensivo para se eleger, ou seja, todos. O que retira a validade da referida lei. Fato é que essa lei só passaria com essa pequena emenda, pois a maioria dos que a votavam tinham se elegido com dinheiro podre. Nossa Câmara e o presídio tem como diferença somente o tratamento que recebem seus interno, e os ternos, de resto, tudo igual.
O mais interessante contudo é a cara de pau, da infeliz atitude da maioria ali. Votando pelo “sim”, os deputados votavam a favor da emenda que descaracterizava o projeto. Cada deputado fez um discurso completamente diferente, e alguns até emocionados, mas todos votaram pelo “sim”. Uns foram categoricamente a favor da emenda defendendo que a democracia deve ser leniente com o fato de que bandidos e assassinos possam se candidatar. Outros, menos enlouquecidos, defendiam a necessidade do Projeto Ficha Limpa e a moralização da Casa, mas todos votavam sim.
Um fazia um discurso e diz “sim”, outro atacava esse, dizendo o completo oposto, e emocionado, também votava “sim”. Uma tremenda peça clown, um espetáculo que se não fosse triste, bem poderia ser muito engraçado. É uma ofensa a qualquer pessoa o que eles fazem. As duas emendas foram aprovadas: O Projeto Ficha Limpa é só fachada.
A posição da galeria, de onde qualquer pessoa pode assistir às votações, é pelo menos interessante: ao menos uma congratulação ao honrado Niemeyer. Ficamos no andar de cima assistindo em baixo um grande teatro feito para a população brasileira e para eles mesmos. Enquanto um deputado fala ao microfone todos os outros estão conversando em panelinhas, num frenesi que bem parece que estão rapidamente vendendo o Brasil. Ganhando dinheiro vendendo o que não é deles, isso no mínimo é apropriação indébita, para não dizer que são um bando de ladrões. A maioria bradando pela democracia, esta, que representa o grande volume de dinheiro que entra nos seus bolsos.
A democracia é algo importante, sim! A mais importante. A democracia plena, talvez uma utopia. As utopias são importantes. São metas, conjunto de princípios e ideais que devem ser buscadas sempre. Atingi-las significa atingir a plenitude da realização do ser humano sobre o planeta. A democracia também é um exercício, de aprimoramento das instituições, reflexo de uma educação completa que permita ao homem compreender todos os processos sociais dentro de sua unidade, o corpo social como um organismo do qual todos dependemos e fazemos parte.
Perguntei a um colega o que ele tinha achado da plenária, e ele me respondeu que nunca mais bebia na vida. A sensação ali realmente é de que ninguém leva esse país a sério! Pois deveriam, aqueles velhos abutres que se penduram à política por não oferecer educação ao povo, e assim tira o poder de suas mãos, e o transporta aos volumes financeiros de campanhas que promete quimeras à um povo faminto e desesperado porque não tem informação nem conhecimento.
Mas eu sou otimista, acredito no poder da informação e do conhecimento, e se nossos representantes não querem cedê-la ao povo, ela vai chegar de qualquer maneira, mais lenta, mas vai chegar. Pois não se enganem, a verdade, ninguém pode calar. E todos estes que agora pensam que estão saindo “ganhando” ainda vão ser lembrados pela história como grandes covardes, piadas. Suas memórias farão jus ao que construíram em vida.
A força da vida, não se enganem, é poderosa, caso contrário não estaríamos aqui.
Esse texto não está bloqueado, quem quiser, e achar importante pode copiar – parte ou o todo, e repassar a vontade, como bem quiser. Se alguém lembrar de citar o autor. Nossa! Obrigado. Mas se esquecer também não tem problema, o que eu vi ontem me assustou - eu moro em Brasília e nunca tinha ido lá – essa experiência tem de ser compartilhada, pensei. Informação é poder, que ela circule livre então.