DE JORNALEIRO A JORNALISTA - uma história de vida (OUTROS ACONTECIMENTOS POLÍTICOS, SOCIAIS E PROFISSIONAIS)

Criou a Apetram, depois o Sinetram, mais tarde, com Aviz do Amaral Valente, fundou e passou a presidir à Federação das Empresas de Trans-portes Rodoviários da Região Norte – Fetranorte, ajudou a criar as insti-tuições SEST/SENAT, que a elas preside até os dias de hoje. Fui assessor de imprensa na Apetram, assessor de imprensa do Sinetram e depois superintendente no Sinetram, substituindo o Dr. Maury de Macedo Brin-gel, e diretor do SEST e do SENAT, duas instituições criadas por decreto do presidente Itamar Franco e presidida pela Confederação Nacional do Transporte.

Francisco Bezerra teve tudo para ser suplente do senador Fábio Luce-na e não aceitou. Áureo Melo aceitou e terminou o mandato de Fábio no Senado, depois que ele se suicidou. Perdeu suas duas empresas de ôni-bus, mas não se abateu, embora tenha perdido em duas canetadas U$ 15 milhões. Costuma dizer que através do SEST e do SENAT tem maiores e melhores condições de ajudar o povo carente. Convivo com ele há mais de 25 anos.

Um dia, às vésperas do Natal, as empresas dele cassadas, fui até o es-critório e lhe disse que estava sem dinheiro. Ele respondeu que tinha no bolso R$ 50 reais. Se eu quisesse a metade do valor, podia entrar no carro dele. Ele ia trocar o dinheiro. Aceitei. Nunca mais esqueci esse seu gesto e nem me sai da memória a cena daquele dia.

A HISTÓRIA DA EMPRESA SANTA LUZIA

Em fevereiro de 1978, Francisco Bezerra iniciou um trabalho de revi-talização da empresa – Viação da Amazônia Ltda - VIAMA, antiga Ana Cássia, de propriedade do empresário Cassiano Cirilo Anunciação, o “Batará”. Na época, era prefeito de Manaus nomeado por Henock da Silva Reis, filho de um padeiro em Manacapuru, trazido para Manaus por André Vidal de Araújo, o coronel de Exército Jorge Teixeira de Oliveira, que tinha grandes problemas com o Cassiano, principalmente devido à gestão comportamental na condução da empresa. Eram necessárias me-didas mais modernas para gerir uma empresa de transportes coletivos, coisa que o Cassiano não conseguia fazer.

A empresa Ana Cássia foi vendida para o então Deputado Federal Francisco de Oliveira Rocha, que logo colocou o nome de Viação da Amazônia Ltda. Ele mudou o nome de Ana Cássia para VIAMA. O BEA – Banco do Estado do Amazonas, o avalista do negócio, indicou Francis-co Bezerra, funcionário do Banco, para a Gestão Financeira da Empresa. O já empresário convidou o senhor Cid da Veiga Soares para o auxiliar na tarefa. Depois de vários levantamentos no Grupo Rocha, decidiram vender a Viação Alvorada, do DF e a Viação Itaguaí Ltda., do Rio de Janeiro, ficando só a VIAMA, em Manaus, pois assim, teria mais credibi-lidade a gestão.

Depois da venda as duas empresas, foram pleiteadas junto ao BEA as linhas que tinham sido transferidas em caráter precário para a Soltur, e Francisco de Oliveira Rocha ficou com participação acionária na nova empresa: Francisco Bezerra ficou com 70% e Cid Soares, com 30%. Havia um outro sócio, Enock Bezerra, que foi devidamente indenizado por Francisco Bezerra e Cid Soares.

Depois de dezoito anos fazendo a revitalização da Empresa Santa Lu-zia, houve uma cisão societária na empresa, dividida por três sócios. Cid Soares havia contraído dívidas junto ao BEA e não tinha como pagar. Francisco Saldanha Bezerra indenizou-o e ele deixou a sociedade, isto ao longo de anos, após tomar várias medidas saneadoras. O outro sócio, Enoch Bezerra, foi devidamente indenizado por Francisco Bezerra e pelo Cid Veiga. Desta cisão, nasceu a nova empresa com o nome de Viação Santa Luzia Ltda., uma homenagem prestada ao bairro onde ficava a garagem. Mais tarde, convidou sua esposa, Zilmar Bezerra e seu filho, João Bezerra para comporem a sociedade da empresa.

VIAÇÃO SANTA LÚCIA

A Viação Santa Lúcia Ltda nasceu de parte adquirida da Ostur Trans-portes, de propriedade do senhor Osmar Vieira da Costa, em sociedade com Luiz Roberto Caldeira, Paulo Queiroz e Maury de Macedo Bringel. Maury Bringel foi convidado para comandar a nova empresa. Ela operou até o ano de 1993 quando, no mês de Abril, por motivos puramente políticos, foi cassada pelo então prefeito de Manaus, Eduardo Braga.

Além destas empresas, Francisco Saldanha Bezerra fundou a empresa Viação Amazonense de Transporte Ltda.

A VIMAM, que tinha um sócio paraense, foi vendida para José Hen-rique de Oliveira, que a rebatizou de Vitória Régia Ltda.

DIRETOR DO SEST/SENAT POR DOZE ANOS

Formado em Serviço Social em 1995, administrei o SEST/SENAT desde o processo de aquisição do terreno para a sua construção, fui no-meado depois diretor, quando a Unidade ficou pronta, recebi todos os móveis e, junto com o diretor financeiro da época, indicado também pelo presidente da Fetranorte, fizemos a contratação de todos os funcionários.

Dando aula na Faculdade Nilton Lins, no curso de Serviço Social, em uma sexta-feira à noite, perdi totalmente minha audição. Na segunda-feira, ainda sem ouvir, procurei um médico que me recomendou procu-rar um cardiologista e receitou os remédios que não comprei. Fui ao escritório da Fetranorte e comuniquei meu problema ao presidente Fran-cisco Bezerra. No expediente da tarde, procurei o cardiologista Edward Costa Júnior. Após os exames, disse que:

- No coração você também não tem nada, mas por via das dúvidas, vou lhe passar um pedido de tomografia computadorizada. Caso o seu Plano de Saúde não aceite a requisição e não a autorize, você procura um neurologista e pede para ele te pedir uma nova tomografia.

Não foi necessário. O Plano de Saúde aceitou, autorizou e fui para ca-sa almoçar. Depois do almoço, procurei a empresa para realizar a tomo-grafia. Saí da MAGISCAM direto para a internação. Eu tinha um coágu-lo na minha cabeça, de mais ou menos dois centímetros e meio. Ao ver minha tomografia, o médico pensou que eu tinha tido um derrame cere-bral, mas como eu movimentava e falava normalmente, pediu uma resso-nância magnética para ter um diagnóstico mais preciso. Mas o resultado não foi nada animador e o médico disse que não sabia o que eu tinha e recomendou uma cirurgia de emergência.

Na condição de representante da Fetranorte, tinha presidido por duas vezes a Comissão Estadual de Emprego, que administrava os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, no Amazonas. Só deixei a direção do SEST/SENAT para fazer uma cirurgia de craniotomia para drenagem de um empieme subdural bilateral, inicialmente pelo médico Dr. José Vieira. Depois, o médico peruano Dr. Dante Luis Garcia Rivera prosseguiu meus atendimentos e cirurgias posteriores. Já operei por sete vezes, sendo cinco vezes em Manaus e duas em São Paulo, no Hospital São Joaquim, da Beneficiência Portuguesa. Na quarta crâniotomia a que foi submetido, mandei realizar um exame histoquímico, realizado somen-te em São Paulo, na clínica do Dr. Carlos Bacchi, em do material reco-lhido em Botucatu. Recebi como resposta que eu estava com leiomios-sarcoma de alto grau (câncer). Não acreditei no resultado do exame do médico especialista, Carlos Bacchi, consultor de faculdades internacio-nais, mas viajei para São Paulo para fazer revisão de lâmina. O resultado deu negativo em três laboratórios diferentes. No Hospital Português São Joaquim, fui atendido pelos médicos Drs. Antonio Almeida e Dra. Valé-ria. Môio.

Como diretor do SEST-SENAT, formei uma equipe profissional co-mandada pela psicóloga Vera Lúcia, mais tarde substituída pela pedago-ga Ana Quadros da Silva. Durante esse período, fazíamos muitos convê-nios com órgãos públicos, inclusive com a Secretaria de Estado do Tra-balho e Bem-Estar-Social, administrada pela assistente social Maryse Mendes, para desenvolver o projeto “Serviço Civil Voluntário”. Com esse trabalho, Unidade Manaus do SEST/SENAT recebeu vários prê-mios, um a nível nacional.

Depois, tendo por prefeito Alfredo Nascimento, voltamos a ter um convênio com a Prefeitura para desenvolver o programa “Criança Urgen-te”, que retirava meninos das ruas e os levava para a instituição onde eles tomavam café, lanchavam e depois voltavam para as ruas. Antes, recebi-am toda uma proteção, com palestras e aulas de formação profissional para as suas “inserções” na sociedade. Desse período, lembro-me bem das assistentes sociais, Rosalina Maués e Graça Prola, subsecretária de Ação Social do Município.

Tive a oportunidade de ir a Brasília, levando uma aluna do Projeto Serviço Civil Voluntário, para receber um prêmio nacional sobre Direi-tos Humanos, das mãos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois, com a mesma aluna, viajei para a Bahia, onde ela se apresentou aos alunos de outros projetos iguais ao que eu desenvolvia em Manaus.

BAIRRO DA BETÂNIA, ONDE MOREI

Antes de mudar-me para a residência da família Costa, residi alguns anos no bairro da Betânia. Era um bairro tranqüilo, cheio de areais, caju-eiros, buritizeiros. Não havia luz elétrica, ainda. Mas havia ônibus, que nem sempre conseguiam entrar pela rua principal do bairro, o que nem sempre era possível. Também não tinha água no bairro. O progresso só chegou ao bairro na administração dinâmica do prefeito Jorge Teixeira de Oliveira.

Havia uma área que era chamada de “as cacimbas”, em que todos os moradores tinham uma. Depois de aberta, a cacimba no meio da areia branca, tinha que ser colocada uma tampa de madeira com cadeado para evitar que estranhos toldassem a água.

Terminávamos a partida de futebol na rua e depois íamos tomar ba-nho nas cacimbas. Mas era necessário levar a chave para abrir o cadeado. Um não podia tomar banho na cacimba do outro.

Havia um frigorífico da empresa Bordom, onde existe hoje o Super-mercado DB, na Avenida Costa e Silva. Atrás do frigorífico, tinha uma fazenda de gado e um cajual, além do pasto para os bois. Também tinha o Igarapé do 40, com suas águas cristalinas, sem qualquer tipo de polui-ção, no qual nadávamos à vontade. No início da abertura da Avenida Costa e Silva e antes de construírem a ponte por cima do Igarapé do 40, havia uma grande árvore no local.

Sempre íamos brincar no local, pulando n´água e descendo até a área em frente às cacimbas, em que também parava o motor de pesca de meu pai.

Com a conclusão da Avenida Costa e Silva, teve início a construção do Conjunto Jardim Brasil, talvez a mais antiga construção de aparta-mentos em Manaus. Depois dessa construção, começou a poluição no Igarapé do 40.

O jogo de peladas no meio da rua, peão, cangapé, barra-bandeira, 31 alerta, kamone (como a meninada pronunciava a expressão norte-americana "Call mone, boy", que a gente ouvia nos filmes de bang-bang do Guarany, ou seja, em tradução livre "Alto lá, rapaz"), estátua e jogo com bola de gude eram as nossas brincadeiras favoritas. Em frente a minha casa, havia um terreno cheio de mato. Era o local preferido para os nossos esconderijos quando brincávamos de 31 alerta.

O Jorge Lopes da Silva, baixo, entroncado e bom de bola, era sempre o primeiro a ser escolhido no processo de formação dos times de pelada. Ele era bom de bola, driblador e não passava a bola para os seus compa-nheiros. Pegava a bola, passava por um, por outro e geralmente termina-va fazendo o gol. Tinha, também, o gol das dezoito horas. Ganhava o jogo o time que fizesse o gol antes de escurecer, mesmo que o outro time estivesse vencendo. Normalmente, as partidas começavam às 18h e ter-minavam quando a bola não era mais vista pelos jogadores.

A escolha dos times para as partidas era feita através do tradicional par ou impa. Quem vencesse no par ou “impa”, começava a escolher os peladeiros. Quando não tinha mais nenhum jogador a ser escolhido, co-meçava a partida. Às vezes. havia time fora para entrar, mas nem sem-pre.

Um rapaz, com camisa de seda branca, todos os dias ia esperar a na-morada dele no poste que usávamos em nossas brincadeiras. O Jorge bolou um plano, mas não o revelou para os amigos. Pegou uma imensa vara, colocou um chumaço de pano na ponta, foi no quintal, enviou den-tro da “privada”, como eram chamados, na nossa época. os poços cava-dos aos fundos do quintal das casas. Quando o rapaz apareceu, o Jorge foi desafiá-lo para uma briga. Como o rapaz era grande e forte, e o Jorge era baixo, mas entroncado, viu na luta a possibilidade de vencer e estabe-lecer no poste o seu território. No meio do desafio, o Jorge pegou a vaga preparada e tentou cutucar o rapaz que, desavisado, segurou no chumaço de pano preparado, e o Jorge puxou: “espirrou fezes para todos os lados e encharcou a blusa do rapaz”. Ele nunca mais apareceu.

Também vivi a fase das brincadeiras em residências. Sempre freqüen-távamos a casa do senhor José Maria Palmeiras, que tinha dois andares e uma ampla sala. Os filhos dele, Nathan Palmeiras e José Carlos Palmei-ras eram nossos amigos. Em uma dessas festas, conheci a Cléia, com quem fiquei por muitos meses. Gostava de ir à casa de Cléia, com quem cheguei a namorar, porque sempre a mãe dela preparava “uma galinha de terreiro” e eu ouvia as músicas do cantor Chisthofer.

Minha residência foi utilizada, também, para promover festa. Mas, como eu gostava muito de ouvir música e a ouvia sempre alta, a jornalis-ta Baby Rizzato, ao passar em frente, sempre olhava para dentro e via que era eu ouvindo música alta. Em certa oportunidade, falou:

- A tua casa era muito festeira!

Sempre procurávamos saber, ao terminar uma brincadeira regada a “leite de cabra”, “leite de tigre” e licor feito com bombom de hortelã “pipermeyte”, muito consumido na época, onde seria a próxima brinca-deira. Foi assim que conheci Aparecida Chaves, filha única de um cami-nhoneiro. Com a “Cida” nunca namorei, mas quase todos os dias, a visi-tava e dormia na casa dela, durante às tardes, quando não havia aula. Seus pais me adoravam, e a mãe dela sempre fazia comida deliciosa quando eu visitava a garota.

Sobre essas brincadeiras sem armas, drogas ou bebidas alcoólicas, es-crevi uma crônica chamada “Tempos de Ontem”, publicada no meu livro “Crônicas Comprometidas com a tua vida”.

A primeira televisão que chegou ao nosso bairro foi na casa da dona Raimundinha, onde a molecada fazia fila para ficar espiando a programa-ção da TV pela janela. As primeiras televisões eram de válvulas e seletor de canais. As válvulas precisavam esquentar para depois o sinal ser rece-bido. Ela sempre autorizava a entrada da molecada, que ficava sentada na sala

Mais tarde, meu pai comprou a nossa. Tinha uma única retransmisso-ra em Manaus, a TV Ajuricaba, fundada pelo casal Sadie e Kalled Haua-che, que entrava no ar, com músicas, somente às 15 horas. Alguns profis-sionais fizeram história na televisão em Manaus: Arnaldo Santos, apre-sentando o seu programa “AS nos Esportes”, Célio Antunes, apresentan-do o jornal na TV, Luiz Eduardo, também apresentando jornal na TV. Mais tarde, com a TV Amazonas funcionando, retransmitindo o sinal da TV Bandeirantes, Patrícia Bartoloti, Luiz Almeida, o “Marron”, também fizeram história no jornalismo. Tinha também o programa infantil do “Titio Barbosa”, apresentado ao vivo com a sua filha Marília Barbosa, na extinta TV Ajuricaba, da família Hauache.

TRABALHANDO NO CONSÓRCIO UNIÃO

Adolescente, em busca do meu primeiro emprego, trabalhei no Con-sórcio União, dirigido por Edson da Silva Massulo, depois, trabalhei no escritório jurídico do Dr. Carlos Abner de Oliveira Rodrigues com os estagiários João de Deus Gomes dos Anjos e Guilherme de Mendonça Granja.

Durante meu trabalho no Consórcio União, tinha uma visão privilegi-ada do estúdio de transmissão da Rádio Baré. Foi assim que passei a conhecer a radialista Jerusa Santos, uma das mulheres pioneiras na pro-fissão. Depois, conheci José Costa de Aquino, o “Carrapeta”, que se elegeu vereador e deputado estadual com o programa de muita audiência que mantinha na rádio. Era um campeão de votos na época. Depois, o radialista da Rádio Rio Mar, Erasmo Amazonas, também foi campeão de votos para sua época.

O Dr. Carlos Abner tinha o costume de pedir para eu comprar para ele, no Lanche Ziza´s, um copo de milk-sheik e pegar uma coxinha de frango no lanche do Chang, ao lado do Edifício Cidade de Manaus. Era o almoço dele.

Descia, pedia o milk-sheik no Ziza´s e depois me dirigia ao lanche do Sr. Chang, que fazia a melhor coxinha de galinha de Manaus. Ela era feita com macaxeiras e tinha dentro uma azeitona e uma coxa de galinha, com carne e o osso.

O lanche do Sr. Chang, que trabalhava com sua esposa e os filhos Chang, hoje ortopedista e a Yamim, que os ajudavam, atendendo no balcão.

A família Chang produzia e entregava, em outros lanches, as coxi-nhas de galinha produzidas durante um dia inteiro de trabalho.

“PROGRAMA DEBATES”

Como repórter de “A Notícia”, sempre era convidado para participar dos debates políticos na TV Amazonas, apresentado pela jornalista Beth Azize. Quando ela não podia ir, eu apresentava sozinho o programa. Um dia, recebi um telefonema às 22h20min informando-me que a apresenta-dora titular não iria. O programa entraria no ar às 22h30min.

Não calcei nem o sapato, fui de sandália mesmo, mas pedi ao câmera que não desse close no meu pé. Ele abriu o programa dando um close exatamente no meu pé. Logo depois disso, deixei de fazer ou ser convi-dado para os programas “Debates”.

REPÓRTER ENTREVISTADOR NA TV BARÉ

Durante mais de um ano, trabalhei como repórter entrevistador na TV Baré, antes de ser adquirida pelo jornalista Umberto Calderaro. Era meu câmera o profissional Mário César Dantas e o auxiliar era Pedro.

No dia em que o primeiro jornal ia ao ar, o profissional da TV Gilber-to Piranha correu pelos corredores da televisão, pedindo o sobrenome do Pedro.

Gritei:

- Coloca Pedro “Bala”.

Estávamos todos juntos eu, Mário César Dantas e o Pedro quando começaram a parecer os caracteres. Pedro leu: “Auxiliar de Câmera Pe-dro Bala”. Imediatamente gritou:

- Pedro Bala, não! Eu tenho nome! Pedro “Bala” é a pu...que...pariu!

O Mário César Dantas ponderou:

- Mas você agora vai ficar famoso como o nome artístico de Pedro Bala!

- Ah, esse é nome artístico?

- É...

- Então, tá, eu aceito.

Hoje, ele é um profissional competente e continua trabalhando na mesma TV A Crítica, do sistema Umberto Calderaro Filho de Rádio e Televisão.

DE VOLTA À FACULDADE

Depois de exercer o jornalismo como repórter, editor de cidade, pau-teiro, cronista e editor geral de vários jornais em Manaus, decidi abando-nar tudo e voltar à Faculdade para iniciar e concluir o curso de Serviço Social. Fiz vestibular, primeiro, para o curso de Direito e freqüentei regu-larmente até o 5º período. Tive duas grandes amigas durante o Curso de Direito, a hoje advogada Vanessa Litaiff e a bacharel em direito Marlía-se. Sobre Vanessa, eu sempre lhe dizia que ela não deveria ficar só advo-gando, mas fazer um curso para juíza de direito ou promotora de Justiça. E ainda penso a mesma coisa sobre ela. Abandonei o curso para assumir a chefia de gabinete em Manaus do deputado federal Carlos Souza, ativi-dade que exerci por quatro anos.

No dia da matrícula no curso de Serviço Social, encontrei a professo-ra Magela Andrade. Como repórter, conheci a professora participando de movimentos sociais. Ela me interrogou:

- Você, por aqui? Vem fazer entrevista comigo ou sua matrícula?

- Vim fazer minha matrícula.

- Vai terminar, ou só começar?

- Desejo terminar porque, com o jornalismo, só ganhei gastrite, úlcera e outras doenças.

Concluí a matrícula.

A professora tinha razão em sua pergunta. Junto comigo, passaram mais três homens. Eu era o quarto homem em uma sala de 36 mulheres. Um do município de Parintins, só começou; o outro, abandonou logo depois. Só eu e o Odenias Raimundo, o “ODD”, conseguimos concluir o curso, em turmas diferentes. Conclui o curso com média bem acima de todos.

Depois, em sala de aula, a professora Magela Andrade começou a produzir esquemas que eu apelidei de “magelíticos”, uma vez que tudo era feito com setas de um lado para outro e poucos entendiam.

Tivemos outros bons professores: o Carlos Humberto, de Metodolo-gia do Estudo, Maria do Socorro Chaves, Heloisa Helena, Terezinha Praia, Cristiane Bonfim, Marinez, Iraildes Caldas (Torres), Rita de Cás-sia Montenegro e muitas outras.

No 5º período, quando começamos a fazer promoções para a formatu-ra, a nossa sala estava dividida: de um lado, a Telma da Conceição co-mandava um grupo e do outro, eu comandava outro grupo. No centro da sala, não sentava ninguém. Isso tudo aconteceu porque uma professora de Antropologia, defensora intransigente do índio Paulinho Paiakã, que tinha violentado uma professora na cidade de Belém e foi se refugiar na aldeia para fugir da justiça. Como não aceitava a maneira que ele tinha praticado o crime, uma vez que ele era piloto de avião, tinha vivido entre os brancos e possuía identidade e CPF, não deixei a professora dar aula. Com isso, houve a divisão porque um grupo apoiava os argumentos da professora, e outros não a apoiavam.

Identificando nitidamente a divisão que havia, chegou uma professora para ministrar aula de psicologia. Ela conseguiu a paz entre os dois gru-pos. Acabei dando uma flor vermelha de presente para minha rival.

Depois disso, conseguimos concluir o curso sem brigas e com muitas amigas inesquecíveis: Ruinaltina Moraes Pires, Paula Francinete Batista, Rosaney Ramos de Assis, Adriana Evangelista, Graciete e muitas outras. O meu livro “O Caminho não percorrido – a trajetória dos assistentes sociais masculinos em Manaus”, resultado da monografia que produzi durante o curso, foi dedicado à Ruinaltina Moraes Pires, a Tina.

Convidamos a professora Rita de Cássia Montenegro para ministrar a “Aula da Saudade”, para matar a “saudade das aulas que ela não deu”, por viajar muito para Belém. Foi uma aula magnífica.

Com relação às viagens da professora Rita, devota da padroeira da ci-dade de Belém, sempre que ela retornava, trazia a receita de uma dieta milagrosa.

Entrando em sala, após uma de suas viagens para participar do Sírio de Nazaré, macérrima, com uma bolsa no braço, uma saia bem justinha; a aluna Rosaney não resistiu e, sem pensar, disse:

- Professora, a senhora com essa bolsa, essa saia e macérrima do mo-do que está, parece uma puta!

- Rosa, você sempre diz tudo o que pensa?

- Sou assim. Se eu penso, ponho para fora na hora.

Todos riram da situação.

A Rosaney era tão desligada, tão desligada, que se apresentava assim na hora da chamada: “Rosaney Ramos de Assis, que já foi “Cardoso”. Todos riam! Ela era muito espontânea em sala de aula.

REPRESENTAÇÃO DO DEPUTADO FEDERAL CARLOS SOUZA

Indicado por Nicácio da Silva, chefe de gabinete em Brasília e acei-to pelo deputado federal Carlos Souza, que saiu direto da Câmara Muni-cipal para a Câmara Federal, trabalhei por quatro anos seguidos no escri-tório da representação de Manaus, como chefe de gabinete. Hoje, Nicácio da Silva, ex-colega de Dom Bosco, é escritor e membro da UBE – União Brasileira de Escritores e da ANE – Associação Nacional de Escritores.

Tinha a missão de administrar o trabalho de vários profissionais que prestavam serviços para o deputado Carlos Souza, em Manaus.

Para trabalhar com Carlos Souza, tive que pedir permissão do presi-dente do Conselho Regional Norte do SEST/SENAT, administrador Francisco Saldanha Bezerra.

Chegava ao Escritório de Manaus do deputado Carlos Souza às 7 ho-ras da manhã, despachava os assuntos e seguia para o SEST/SENAT. Também quando decidi ser professor na Faculdade Nilton Lins, já que tinha feito Curso de Especialização em Docência de Terceiro Grau pela Faculdade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro, novamente pedi autoriza-ção para Francisco Bezerra. Não tive problemas com ele.

Também fazia a divulgação dos assuntos do deputado na imprensa, em Manaus. O jornalista Freitas, do Jornal Amazonas em Tempo, publi-cou uma matéria quase de página inteira, com perguntas e respostas, escrita por mim e só lida pelo deputado, que, no estúdio do seu programa diário “Canal Livre” que apresentava com seu irmão, Wallace Souza, pela TV A Crítica, autorizou a publicação.

“EMPIEMA BILATERAL SUBDURAL CRÔNICO”

Trabalhando ao mesmo tempo como Diretor do SEST e do SENAT, por 12 anos, professor do Curso de Serviço Social da Faculdade Nilton Lins, por oito meses, membro da Junta Administrativa de Recursos In-fracionais – Jari da EMTU – Empresa Municipal de Transportes Urba-nos, por quatro anos, presidente da Comissão Estadual de Emprego, por dois anos intercalados e em rodízio, membro da comissão nacional de reestruturação das Políticas Sociais de Trabalho, Emprego e Renda, em duas oportunidades, membro da Jari do DNIT – Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, e ex-membro da Jari da Polícia Rodo-viária Federal por um ano, uma simples perda de audição me fez largar tudo e cuidar da minha saúde.

Construí uma sólida e verdadeira amizade com a diretora geral do SEST/SENAT, Lucimar Coutinho, ao ponto de, sempre que ela, sempre que lhe sobrava tempo, telefonar para mim e conversar sobre os proble-mas administrativos que tinha na condução da administração, perguntar sobre projetos em andamento e elogiar-me pelos bons resultados obtidos no processo de gestão financeira e de resultados operacionais. Também fiz muitas outras amizades em Brasília: Liliam Carla de Souza, Tereza Pantoja, Nilson Souza, Aristides França Neto, Ilmara Chaves e tantos outros que também os deixei pelo caminho, ou passaram pela minha vida. Mas, Lucimar Coutinho foi a que mais marcou minha vida, pela sua objetividade, espontaneidade e firmeza e pela autonomia que ela deu aos diretores, “mas com responsabilidade”. Produzi muito nessa fase, e sem-pre que viajava a Brasília, fazia questão de ir visitá-la, mesmo quando viajava a convite do Ministério do Trabalho, nos anos em que presidia à Comissão Estadual de Emprego ou que coordenei o Projeto Serviço Civil Voluntário.

Depois de ser submetido a um exame de tomografia computadoriza-da, que acusou a presença de líquido, já fui submetido a sete cirurgias para a drenagem de um empiema cerebral bilateral, subdural, crônico, – uma infecção que se manifesta entre o crânio e o cérebro -. Durante os quatro anos de seguidas internações de emergências e eletivas, contei com o apoio do presidente do SEST/SENAT, administrador Francisco Saldanha Bezerra, o empresário e amigo e membro do Conselho do SEST/SENAT, Flávio Willer Cândido, do empresário Reginaldo Murilo e sua esposa Ana, do deputado estadual Luiz Castro e sua esposa Ana. Sempre que podiam, faziam visitas em hospitais em que eu estava inter-nado. O deputado Luiz Castro e o presidente do SEST/SENAT foram me visitar até em São Paulo. Fui operado inicialmente, em duas oportunida-des, pelo Dr. José Vieira e, em seguida, fui submetido a mais três cirurgi-as de craniotomia pelo médico Dr. Dante Luis Garcia Rivera, em Ma-naus, e duas em São Paulo, no Hospital São Joaquim, da Beneficiência Portuguesa, pelos médicos, Drs. Antonio Almeida e Valéria Moio. Em Manaus, ainda fiz tratamentos complementares com a reumatologista Rosana Barros de Souza, devido a uma paralisia do lado esquerdo que sofri em São Paulo, o Dr. Júlio da Luz, médico especialista em tratamen-to de calcificação óssea e a Dra. Silvana de Lima e Silva, infectologista.

Durante os sete dias em que fiquei em coma induzido no Hospital Santa Júlia, tive a companhia constante da minha esposa, Yara Queiroz e do amigo Flávio Willer Cândido. Quando despertei, Flávio Cândido estava ao meu lado e perguntou:

- Se você estiver me ouvindo bem, cruze suas pernas. Cruzei as per-nas, e ele veio para o meu lado. Disse-me que nem os médicos acredita-vam que eu retornaria do processo de coma induzido:

- Ele vai resistir, sim. Meu marido “é um touro”, dizia minha esposa.

Yara Marília, minha esposa, pessoa decidida em suas convicções, mas terna como a brisa, depois de alguns contratempos, deu-me nova-mente a vontade de viver e ser feliz e resgatou-me mais uma vez, do precipício em que estava desabando, concretizando, novamente, o signi-ficado do sonho de criança que tinha seguidamente. Com ela aprendi que, com a perseverança em Deus, tudo alcançamos, inclusive o resgate de uma vida calcada em alicerces firmes e sólidos, recheada de solidarieda-de, compreensão, amor e tolerância, como a que vivo ao lado dela.

Acredito que meus sonhos de infância foram todos realizados. Mer-gulhei em um rio de águas profundas, nadei muito, mas cheguei a uma margem tranquila em que deitei e sonhei na relva de um campo verde que só existe na minha imaginação e em meu coração, que nunca dei-xou de sonhar e acreditar que um dia eu venceria na vida

. FIM

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 09/03/2010
Código do texto: T2128271