O diário de Dayanne

Rio,06/03/10

Viemos para o Rio de Janeiro em 1970. Estava na terceira série do antigo primário mas meu pai, me colocou na segunda por falta de vagas. O colégio chamava-se Escola Municipal Porto Rico na ladeira Coelho Cintra em Copacabana.

Confesso que nossa vida não foi das melhores naquela época. Meu pai bebia muito e o que lembro de minha mãe. Era uma mulher subimissa e sofrida que tudo acatava. Tinha uma máquina de costura elgin. E costurava concertava e pregava botões garantindo míseros trocados. Meu pai enchia a cara de praianinha. Ficava fora de si e iniciavam as brigas intermináveis, dentro de casa. Todos os dias as seis da tarde nos colocava enfileirados diante do cruxifixo pregado na parede para rezar. Uma hora em pé e depois, nos obrigava ouvir Júlio Louzada.

No colégio sofria risos e deboches. Ninguém, queria brincar comigo. O pique ta era divertido. Mas, inguém me tocava e eu brincava sozinha. O tempo passou e percebi que já não estava tão sozinha assim. Minha mãe era da umbanda e trabalhava com as entidades sempre ajeitando a vida dos outros. Comecei a me revoltar porque minha vida continuava do mesmo jeito. Havia dias que as pessoas acordavam-nos de madrugada para minha mãe incorporar. Quando saiam de casa depois de bate poca do tipo acredito não acredito, mamãe e papai discutiam feio e nós ali prontos para separar.

A vida era dura naquela época. Meu pai comprava tr~es pacotes de modess para quatro mulheres que menstruavam e por isso usava panos. Desfiz de muitas roupas minhas, passava vergonha quando o calor vinha e a regra descia. Todos no colégio riam de min. O pir das vergonhas que passei, foi um dia que minha avó nos obrigou ir na igreja de crente. Detestava igreja e minha mãe nos obrigou fazer caticismo minha avó exigindo que aceitassemos jesus. Ufá! Era triste aquela vida. Fiquei menstruada sem saber contar direito o dia da regra. Pedi a minha tia um modess e ela negou me dar. Enrolei o papel higiênico e fui a igreja pedindo a Deus que nada acontecesse de anormal. Mas, estava um calor danado. Me lembro bem que vestia um macacão azul e de repente senti o fluxo descer. Fiquei encostada na parede. E por incrível que pareça naquele dia as pessoas me chamaram para formar a fila e cantar para jesus. Vivia sendo discriminada, cheguei a sorrir mas, não podia me mexer. Uma menina loira me viu ensanguetada e fez cara de nojo. Nossa! Queria mrrer! A irmã da igreja veio perto de min e me trouxe até minha mãe. Quase apanhei. Arrumaram um rolo feito de algodão e me emprestaram um casaco para colocar na cintura.

Contava as roupas e sapatos que tinha. Meu pai comprava tudo na rua da alfandega. Cadernos, lápis e borracha seguido de hidrocor e lapis de cor. Tudo vagabundo que secava na primeira pintada. Os lapis ao apontar se quebravam todo. Antes domeio do ano não nos sobrava nada. Meu pai colocava o pé da gente no papelão fazia um circulo e depois voltava com o sapato. As saias e blusas numeros maiores para durar e vivia tendo que usar um alfinete de fralda para diminuir na cintura.

Minha irmã mais velha foi trabalhar cedo porque não aguentava mais aquilo. A outra se perdeu com o pai dos filhos e casou no civil. A primeira a sair de casa....

Dyanne
Enviado por Dyanne em 06/03/2010
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