O diário de Dayanne

Rio,02/03/10

Não me lembro quando me dei por min. Rápidas lembranças surgem na minha memória. Estava num balanço de uma praça em Mato Grosso do Sul. Devia ter seis anos. Estudava num colégio chamado Guia Lópes.

Primeiro contato com o preconceito aconteceu ali. Tinha urina solta e decerto, preguiça de ir até o mictório. Poré, as brincadeiras graciosas começaram me xingando:

_ Maria mijona!

Esse refrão se repetia em forma de cantoria. Chorava num canto. E fiquei no mesmo canto matutando uma forma de me vingar. Depois, esqueci tudo e pus a desenhar. A professora falava e a matéria ficava no quadro. Minha mãe brigava comigo.

Voltava para casa sem os lápis, a borracha e o apontador. De vez em quando usurpadva do coleguinha o lápis de cor. Acho que sempre gostei das cores. Sentia necessidade delas. Devia passar pela minha cabeça que as cores era o que me faltava. Quando via uma menina loira dos olhos claro. Perguntava para minha mãe por que não tinha nascido daquele jeito. Mamãe dizia que era porque aquela menina tinha os pais brancos e loiros. E mostrou num livro como acontecia o nascimento de quem era negro com negro. Negro com índio e assim por diante.

Então perguntei: "Por que os índios tinham cabelo liso e os negros não?

Mamãe não soube explicar. E até hoje cnfesso que não sei.

Um dia no colégio, a professora puxou meu caderno por que estava desenhando e mandou copiar o dever. Comecei a copiar e a infeliz apagou o quadro. Minha borracha caiu no chão. Não vi onde e quem pegou não devolveu. Aquele dia foi horrível. Acusei o coleguinha que sentava do meu lado sempre afastando a carteira. Foi um rebuliço danado. Todos se voltaram contra min. Mas, tinha sido ele mesmo. Pedi a professora para ir ao banheiro. Outra vez a infeliz me castigou me deixando em pé atrás da porta. Mijei ali mesmo e todos ficaram rindo e gritando:

_ Maria Mijona!

Chorei tanto de soluçar.

De tanto nervoso que tinha por causa das coisas que passava acho que era por isso. Meu pai era militar, viciado em bebida, nem olhava para nossa cara. Minha mãe uma mulher impaciente, vivia acordando quatro horas da manhã para fazer o café da manhã, regado de rosbife ovos e um monte de fartura exigida. Ia dormir sempre depois de passar a farda dele. Meu irmão mais velho foi obrigado a lustrar as botas dele, algumas vezes ficando ao relento.

Minha mãe foi no colégio e deu uma baixa na professora.

Fiquei vingada. Minha mãe tinha isso de bom. Fizesse tudo menos mexer com um filho dela. Ameaçou levar ao conhecimento da diretora.

Dia seguinte, crente que estava abafando era aprimeira da fila. E me colocaram lá atrás. Um sol escaldante e todos entraram enquanto fiquei de castigo até a hora do recreio. Dei graças a Deus quando meu pai vendeu aquela casa e partimos para o Rio de Janeiro. Mesmo assim ainda me lembro como se fosse hoje, quando minha mãe parecia também, ter pego no meu pé, porque mijava na cama. Fez uma placa e escreveu:

Maria Mijona!

E tive que sair batendo panelas de uma ponta da rua a outra.

Depois continuarei

Dayanne

Dyanne
Enviado por Dyanne em 02/03/2010
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