Alguns povos são privilegiados em poder conviver com os anjos; eu mesmo tenho um que mora comigo e é toda minha motivação de existir; no entanto a humanidade tem conhecido seus anjos visíveis e mortais, que alivia nossas dores, nos proporciona sorrisos e por nós, seus protegidos dobram os joelhos todos os instantes, em oração e suplica a Deus, para que tenhamos dias melhores na terra.
No decorrer da história secular da humanidade, temos muitos exemplos de anjos vestidos de santos; aparição, milagres e embora dizem que "eles" não têm sexo e o que importa tal condição; conhecemos anjos homens e anjos mulheres, que surgem vestidos em suas aparências indescritíveis, como Santos e Santas que se rotulam pela graça ou pelo local da aparição; embora seja todas as Nossas Senhoras, no meu entender, a mesma santa e imaculada mãe de Jesus, que os católicos veneram, concedendo-lhe a eterna honra de mãe do salvador, filho de Deus. Essa mulher que também foi mortal como qualquer um de nós, tem, também, minha eterna admiração por ser e permanecer sendo, a escolhida de Deus; Foi e permanecerá sendo a mãe que concebeu um filho, unigêtino, cujo nome se faz acima de todo nome; Jesus.
Alguns desses anjos estão aí, respirando o mesmo ar que respiramos, se alimentando como nós nos alimentamos, são mortais, como nós, sentem dores, ficam enfermos e nem por isso se dobram diante das lutas pessoas e ainda tomam sobre sí o fardo de tantos e quantos desemparados pelas conseguencis da vida. Alguns desses anjos se fazem por trás de uma profissão, que são exercidas com um amor imcomparável e aí nós temos a convicção de lhes apresentar alguns anjos que viveram e ainda vivem em Correntina: Profa. Anísia Moreira e Maria da Cruz Rocha, este mês eternizada na glória do céus. Quem neste século não passou pelas mãos do conhecimento desses dois anjos professoras, que desafiavam o conhecimento, ensinando desde linguas estrangeiras a matemática, moral e cívica, ciências, português...
Fomos um povo agraciados por Deus e muitos correntinenses até hoje não se atentaram para este privilégio. Quando nasceu lá na Guiana Françesa e na cidade de Santa dos Brejos, os nossos ilustres e dignissimos reverendos, ANJOS; Monsenhor André Berénos, Irmã Zélia Magalhaes Brandão, que já partiram para receber a justa homenagem dos céus, onde já aguardava desde o começo, seus galardões e como não lembrar a Irmã Neide Costa, que ainda vive entre este povo, na mesma forma discreta de sempre, trabalhando afincamente para que as coisas acontecam sem se preocupar se o seu nome iria ou não figurar como autora deste ou daquele feito.
E os outros anjos que abriram suas asas para o mundo? Irmã Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Mahatma Gandhi, Herbert José de Souza, o Betinho, Zilda Arns, vitima do terremoto do Haiti. Que seria da humanidade se não tivesse em suas vidas tais anjos, humanos como qualquer um de nós, a fazer real aquela imagem celestial de anjos vestidos de branco, com asas sobre os ombros, cuja aparencia indescritível nos faz imaginar a perfeição dos céus!
Não é apenas por uma questão religiosa, só pelo aspecto da vida religiosa, mas pelo exemplo da digna vida cristã que essas pessoas deram e dão, mostrando que é possivel ao ser humano viver a essência de Cristo, que se resume em AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS E O PRÓXIMO, COMO A SÍ MESMO. Cabe aqui lembrar o Sermão da Montanha; se se perdesse todas as escrituras biblicas e restasse aos homens o Sermão da Montanha, não se teria perdido nada, Se os homens vivessem a essencia da mais perfeita pregação que Jesus fez para os homens.
Pa André, Ir. Zélia Brandão e Irmã Neide Costa, podem ser esquecidos com o passar dos anos, mas a obra por eles realizadas será eterna enquanto existir na face da terra uma cidade chamada Correntina, fincada nos limites do oeste baiano com o estado de Goiás; como também nunca deixará de ser reconhecido o empenho bravo de Anísia Moreira, Idalina Rocha, Maria da Cruz Rocha, Júlia Guerra e todas essas valentes mulheres que viveram para se doar, dando de sí o conhecimento adquirido, ensinando, formando valores humanos que por sua vez geram vidas e vidas e outros valores que surgem a cada geração.
Se o meu filho é um homen honrado e o meu neto tem em nós o exemplo a ser seguido, é fruto das videiras plantadas as margens do Rio das Éguas, cujas folhas nunca secam e no tempo certo dá o seu fruto, que são os filhos, dos filhos, dos filho, pelas gerações afora.
Que doces lembranças, trazemos na memória, de nossa escola, dos grêmios culturais, onde os aprendizes das tantas profissiões em que nos formamos, de roupas azul e branco, gravatas se perfilava diante de um microfone e começa seu discurso em nome da turma, agradecendo aos nossos eternos reverendos o fruto de um ardua trabalho; educar, instrutir, civilizar um povo;
Reverendisseimo Pa. Andre... Reverendissima Ir. Zélia... Dignissima Professores... Pare agora seu tempo e reflita nesse passado, que parecendo tão longe, nunca se fez ausente em seu presente.
Flamarion Costa e Irmã Neide Costa
Neste artigo proponho fazer um apanhado básico da história desses três anjos e o que eles sempre irão de representar na vida de nosso povo, tanto no passado, quanto no presente e no futuro, eles sempre estarão presente no dia a dia, através das tantas vidas, que foram transformadas em advogados, médicos, engenheiros, professores e profissões mil; poetas, escritores, jornalistas.
Foi numa visita a irmã Neide Costa, em sua residência situada a frente a casa paroquial, onde tivemos uma conversa ampla e reveladora, que assim transcrevo:
Tivemos por um instante a curiosidade de adentrar nos detalhes de algumas revelações, mas fomos sensatos em conter a curiosidade jornalística, quando logo de cara ela nos revelou que fora criada pelos avós; quando sua mãe os entregara e partira do lugar, ausentando-se de sua vida. Antes porém sua mãe se assegurou, de uma promessa, por parte de seus avós, de que dariam a Neide a atenção de filha, mas que não haveriam de interferir na sua formação religiosa. Isso em razão dos seus avós serem evangélicos, quando toda família tinha formação católica apostólica romana. Se hoje em dia os evangélicos ainda sofrem certas discriminações, naquela época então eles eram plenamente discriminados pela sociedade e pela própria igreja.
Na garantia desta promessa sua mãe a entregou aos avós e assim Neide passou pela infância, adolescência e chegou a mocidade e somente aos dezoito anos sem uma pratica religiosa e somente ao começar a trabalhar, como enfermeira, na ocasião em um posto de saúde na cidade de Santana dos Brejos, sua cidade natal. Tornou-se a responsável pela prevenção de traucoma/glaucoma/xistose, doenças que levava muita gente a cegueiras e morte. Tinha como companheira de trabalho a Irmã Yasmin, da família Bezerra de Correntina e ainda na década de 40 fez a primeira visita profissional a cidade, onde ministrou um treinamento aos enfermeiros locais, sobre as doenças que assustavam a população, naquela década.
Neide não tinha uma vida religiosa praticante e já passava dos dezoito anos de idade, era uma enfermeira. Seus avós, evangélicos, não lhe cobravam uma pratica religiosa, até mesmo em razão da promessa feita a sua mãe. No trabalho, ao lado da religiosa Irmã Yasmin Bezerra, de Correntina, é que começou a ter alguém cobrando dela uma pratica religiosa. Ir. Yasmin percebeu que mesmo com todas as qualidades morais inquestionáveis, a moça Neide não tinha rotina religiosa e se hoje isso é inaceitável, imaginem naquela época.
A feira passou a aconselhá-la e nas conversas o assunto sempre se voltava para essa questão. Neide ouvia os conselhos e não mostrava rebeldia; mas foi um presente da irmã Yasmin que finalmente concluíra seu trabalho de evangelizar a amiga. O livro Ei de ser freira? teve como resposta a conversão de Neide, que ao final daquele leitura, sentira de coração que aquela era a vida que ela involuntariamente sonhava, mas que faltara algo ou alguém, que revelasse a ela mesma, seu sonho.
A próxima tarefa, após sua decisão era como dizer aos seus avós sobre sua decisão pois se eles nunca haviam interferidos, também porque ela nunca, havia se decidido a ser católica ou evangélica, entretanto temia por sua decisão diante dos avós. O livro, relatou ela, contava a história de uma jovem camponesa que chamou atenção do rei por sua beleza física; certamente uma história baseada na vida da camponesa Ester. O rei ao ver a camponesa encantou-se por ela e a levou para seu castelo. A história era mesmo uma aplicação da palavra de Deus, o grande Rei e nós os camponeses. Deus porém nunca olha em nós a beleza física, mas o encanto que emana da alma, (acentuou) Aquilo definiu a vida da moça Neide, que se viu no lugar da camponesa disposta a servir o grande Rei; mas a duvida e o receios do que diria seus avós continuava a angustiar seu coração.
A decisão não foi aceita e ainda teve sua situação complicada pelo visinho que aconselhara o avô a dar-lhe uma surra inesquecível, para esquecer aquela história de ser freira, fosse esquecida. Alertada pelos vizinhos sua decisão sua vó bisbilhotou seus pertences e viu livro que ela estava lendo e levou para o avô. Ele se preparou para dar a surra indicada pelo vizinho, mas no memento exato a avó interferiu, lembrando-o da promessa feita a sua mãe. O assunto pareceu esquecido, mas Neide, que havia conhecido novas amigas, entre elas Genelise de Correntina, Zélia Brandão e sua irmã, todas estudantes do Colégio Diocesana, dirigido por Monsenhor Feliz, em Santana dos Brejos, um belo dia combinaram que juntas se apresentariam no convento e assim, um dia Neide saiu para o trabalho e não voltou para casa, seus avós souberam no dia seguinte que ela estava no convento, determinada a abraçar a vida religiosa de servir o Grande Rei.
Justamente nesta época estava sendo criada a Congregação das Filhas de Fátima, era março de 1955 e elas foram as primeiras voluntárias na formação da congregação.
Neste mesmo período Pa. André já havia assumido a paróquia de Correntina e comunicado a Dom Muniz, bispo da região, suas dificuldades na nova paróquia e para dar andamento aos projetos idealizados, solicitara o auxilio. dministração da igreja, as atividades sociais e Cristãns, agenda do reverendo, batizados, casamentos, além das atividades culturais com o Educandário São José já inaugurado, inicialmente ao pé da ponte do rio, fazendo uso inclusive de algumas das casas das Paturis. Dom Muniz então solicita ao Monsenhor Felix que envie duas freiras que atendam as necessidades do Pa. André e então chega a Correntina em fevereiro de 1961, as irmãs filhas de Fátima, Zélia Brandão e Neide Costa.
Ir Zélia Brandão foi designada a colaborar com a Profa. Anísia Moreira, então Diretora do Educandário e assumiu o posto de Vice-Diretora, Professora de Matemática, Português e Francês enquanto Ir. Neide Costa assumia a organização das atividades paroquial, agenda do reverendo e organização de cruzadas, catequeses.
Maria Rocha (Ziu) Flamarion e a Dignisssima Irmã Zelia Brandão
Ir. Zélia Brandão se dedicava de corpo e alma pela formação cultural das crianças e jovens correntinenses. Até certa altura da vida tinha saúde de sobra para encarar o rojão incansável do trabalho a frente do Educandário e da Igreja. Na década de 70 após ser vitimada de brucelose, nunca mais fora a mesma. A partir de então, passou a ter uma saúde debilitada, acentuada por um câncer no seio, que acabou desencadeando um mal cardíaco. Embora o corpo se abalasse o espírito nunca se deixava abater e dificilmente faltava em nenhum de seus compromissos. Irmã Zélia Ela se destacou na vida cultural de Correntina. Assumiu a Direção do Educandário quando as novas instalações ficaram prontas e dividiu com a Professora Julia Guerra, (Julita) a administração do Educandário, cabendo a Professora Julita a parte relacionada aos alunos internos. Correntina era referencia educacional no oeste da Bahia e recebia alunos internos de todos as localidades, até de outros estados, como Goiânia e Anápolis, Carinhanha, Coribe, Cocos, Santa Maria da Vitória, Porto Novo. O processo havia se invertido, antes os filhos correntinenses procuravam outras localidades para os estudos, Correntina passou a oferecer o primário e curso ginasial completos e o curso normal, por esta razão vinham alunos de todas as localidades, e muitos eram os internos vinham do próprio município e ali eram entregues a responsabilidade de Irmã Zélia Brandão e Júlia Guerra.
Irmã Zélia acompanhou Pa André em toda sua vida pastoral e foi testemunha de suas alegrias e tristezas, junto com Ir. Neide Costa, fora cúmplice e parceira de todos os projetos sociais e culturais idealizados pelo Reverendo, Pai dos pobre e ricos de Correntina. Até o fim de seus dias, testemunhas da luta desigual do Reverendo, para vencer as enfermidades que lhe roubavam as forças, mas nunca o ânimo ou a disposição de fazer acontecer seus planos e sonhos, no dia a dia do povo correntinense. Elas, Irmãs Zélia e Neide, viveram ao seu lado o apso de uma vida vitoriosa e a dor de uma vida que se apagava aos poucos.
O Educandário São José sem dúvida foi o grande destaque na grande obra realizada pelo Pa. André. Foi e continua sendo o instrumento de formação de valores humanos, rapazes e moças ali ainda recebem a assistência educacional e religiosa exemplar. No Educandário se recebia rapazes e moças no sistema de , onde por regra, não perdiam um compromisso ou festividade promovida pela igreja, os internos da professora Julita tinham lugar cativo nos primeiros bancos da igreja e apesar da vida regrada em disciplina, quando nos encontramos com algum ex-interno, não ouvimos de nenhum, palavras de magoa ou ressentimento, mas agradecimentos pela dedicação e empenho dos inesquecíveis professores do velho Educandário São José.
Irmã Zélia se dedicou a cultura, não só incentivando o Grêmio Cultural do Educandário, mas realizando verdadeiras festas de formaturas e peças teatrais, com o apoio do grande teatrólogo, escritor e ator, Raimundo Martins da Costa, Iôzinho e com a renda dos “Dramas”, Padre André dava continuidade aos seus projetos culturais.
...
Foram 45 anos de convívio e trabalho ao lado do Padre André, que por reconhecimento do Papa João Paulo passara a ser Monsenhor, embora ninguém tenha se acostumado a chamá-lo de Monsenhor, para os correntinenses ela poderia chegar a Bispo, Cardeal, Papa, mas seria o eterno Padre André. As irmãs Zélia Brandão e Neide Costa tornaram-se a sombra de Padre André, elas estavam presente em tudo e se tornaram as responsáveis diretas pelo sucesso dos projetos idealizados pelo reverendo, Ele foi pai, irmão e o grande amigo, que passava segurança e otimismo, fazia gerar energia, força para se empreender na tarefa de trazer desenvolvimento aquele povo, de quem tornaram-se responsáveis. Era o Pastor de ovelhas e seus auxiliares.
Padre André chegou a Correntina no dia 21 de junho dd 1955, quando também deixou o município os freis Ambrosio e Henrique, até então responsáveis pela paróquia de Nossa Senhora da Glória. Tinha ele apenas 37 anos de idade e pouco mais de seis meses de ordenação; era um visionário e sua história, contada no livro Os Caminhos de André, de Hélverton Valnir, detalha com mais precisão sua obstinação pela vida religiosa e sua luta para que ela se tornasse realidade na vida do próximo.
André Frans Bérénos nasceu em 07 de abril de 1919 na cidade de Paramaribo, Suriname, antiga Goiana Holandesa e daí muitos, como eu, achavam que Padre André era um raro negão holandês da Holanda. Estudou na ilha de Curaçao, no Caribe, onde cursou até o equivalente ao 2º. Graue destacou-se pela sua obstinação e luta, pelos mais humildes; mas sua luta pela libertação da Guiana, do domínio holandês, foi outro grande obstáculo para se tornar aceito pela igreja católica, no desejo de servir a humanidade. como Padre. Além de luta pela independência da Goiana Holandesa, pesa também a idade já avançada, o que levava a crer já tivera tido contato intimo com o sexo oposto. Quando tentou ingressar-se no seminário para seguir a carreira religiosa fora recusado. Não desistiu de lutar pelo seu grande sonho, tinha tudo que queria um jovem; uma vida folgada e todas as condições para estudar e trabalhar no Caribe. Aos 29 anos recebeu a visita do Bispo de Paramaribo, Dom Estevão Kuipers que foi saber pessoalmente de André se ainda tinha pretensões para com a vida sacerdotal. A resposta não poderia ser outra e o bispo cuidou para que o caminho de André o conduzisse a vida sacerdotal. André foi indicado ao Bispo Dom João Batista Muniz, no Brasil. Dom Muniz pastoreava a Diocese de Barra do Rio Grande, da qual fazia parte a paróquia de Correntina; onde a pobreza e a falta de cultura, acentuavam a miserabilidade da região no oeste baiano. A necessidade de padres eram enorme e isso foi tema de discussão entre o Bispo Kuipers e Dom Muniz em um de seus raros encontros. Em agosto de 1949, aos 30 anos de idade André Bérénos chega ao Brasil.
Para quem pensa que Padre André teve uma vida fácil na sua formação sacerdotal, saiba que somente aos 30 anos de idade é que foi aceito no seminário Maior de Diamantina, MG., onde também estava o seminarista Teófilo Guerra. Ali estudou por cinco anos até ser ordenado em 08 de dezembro de 1955, aos 36 anos de idade e ter a paróquia de Correntina, como sua primeira e única missão, que ele cumpriu com todo louvor. Pa. André também respondeu pelas paróquias de Santa Maria da Vitória, Cocos, Coribe, Carinhanha, sem nunca deixar sua filha primogênita, Correntina.
Falar do trabalho realizado por Padre André, com o apoio das Irmãs Zélia e Neide, só mesmo um livro especifico, como em parte o fez nosso jornalista Hélverton, mas sem dúvida o pilar mestre da obra do Reverendo André foi consolidado na educação. Correntina tinha como colégio, único, o velho Duque de Caxias, onde a Professora Maria Rocha, Dona Zinha era a diretora e delegada escolar do município. No prédio modesto de duas salas, onde hoje funciona do Bradesco pela manha funcionava o 1o e 2o ano e a tarde o 3o e 4º e depois disso, os pais que tinham condições, mandavam seus filhos para outras cidades, entre elas destacava-se Barra e Carinhanha e os que não conseguiam vagas no Duque de Caxias, mas que seus país se importavam em dar educação aos filhos, iam pra escolas particulares improvisadas em residências e entre elas estava Professor Manoel Amâncio, que alfabetizou minha mãe, Professora Siana, na imediações do Cemitério, Professora Idalina, na Praça da Matriz, Professora Anísia, na Rua Dr. Guerra e lá também a Professo Ilzinha Guerra, que a preços simbólicos assumiam a tarefa de pelo menos alfabetizar meninos e meninas das gerações de 50 e 60.
A chegada de Pa. André mudou todo esse quadro; nos relata a Ir. Neide que uma de suas principais atividades ao chegar na cidade, foi visitar as famílias e conhecer delas, suas principais necessidades e como não podia ser outras, a educação e saúde foram as que mais se destacaram. Mais isso não era tarefa da igreja, a sociedade pensava assim. Pa. André pensava além de seu tempo, embora a igreja não se preocupasse com a pessoal e sim com a alma, Pa. André não concordava com esse pensamento. Ele teve como referencial o homem que mais contribuiu para o desenvolvimento e a cultura da região, que foi Dom Muniz. Esse homem tinha estado de Governador e andava por todos os recantos do sertão oeste baiano, levando conhecimento, técnica de sobrevivência através da agricultura e da escola e Padre André, como um bom discípulo, seguiu a risca a cartilha de Dom Muniz e transformou a cidade de Correntina num centro de cultura e aprendizado. Os correntinenses não mais saiam da cidade para estudas fora, mas alunos de outros estados e municípios é que chegavam para se internaram no Educandário São José.
Entre as décadas de 70 e 80 trouxe um reforço com a chegada das irmãs da Congregação Imaculada Conceição, as simpáticas freiras Pascásia, Cristina, Isaura, Conceição, Renata, Clemência, Claudete, tendo ainda por um período contado com apoio de outras irmandades, sendo porém as Filhas de Fátima, Zélia e Neide as que nunca se afastaram das atividades desde 1961 até os dias de hoje, e depois dessas, as irmãs da Congregação Imaculada Conceição, que registra-se abalaram os corações de moças e rapazes, pela forma alegre, espontânea, pelo carinho e até mesmo a beleza física de Irmã Renata, Pascásia, Cristina; todas elas atuaram no Educandário, sem dispensar, óbvios, as atividades religiosas. (ah! Quem terá uma foto dessas queridas irmãs?)
Padre André se preocupava com a dignidade das pessoas, lhe concedendo condições de suprir suas próprias necessidades, entre suas tantas obras, está a Maternidade que resolvera dependência das velhas parteiras, reformou a igreja e criou os grupos de congregações que estimularam a pratica religiosa, refez o calendário das comemorações religiosas, criou o lar dos velhinhos, onde os idosos tem suas casa individualizadas, o que lhes proporciona independência e uma vida sem o trauma dos asilos; construiu uma catedral, onde hoje repousa seus restos mortais, localizada no antigo local da serralheria, onde muitos jovens aprenderam o oficio de marceneiro, realizou encontros de missões e cruzadas, formou grupos sindicais para defesa dos direitos humanos e foi este um eficiente instrumento na defesa dos pequenos agricultores, na década de 80, quando os grandes latifundiários invadiam e os expulsavam de suas terras. Para isso o Reverendo, já com idade avançada, foi estudar direito, para melhor se estruturar na defesa de seu rebanho agrícola, fundou a primeira rádio comunitária do município, fundou o Centro de Formação de Lideres, fundou a escola agrícola, escola de formação de padeiros, escola de datilografia, cursos de profissionalização, grupo da Pastoral da Saúde, que realizam visitas nos domicílios, conhecendo e auxiliando nos problemas de saúde de crianças, moços e velhos .
Ele não fez tudo, pelo menos era o que ele mesmo pensava. Estava sempre buscando um novo desafio, como a tão sonhada faculdade e a Fundação Monsenhor André Bérénos que foram interrompidos por seria de problemas de saúde, entre eles uma tuberculose que fez agravar seu estado de saúde.
Em vida em morte, Monsenhor André recebeu centenas de homenagens justas; por tudo que representou e ainda representa, na história do povo correntinense. Indico o livro Os caminhos de André, de Hélverton Valnir, para os que pretendem conhecer mais, numa noção mais ampliada, mas nunca conclusiva, da vida e da obra deste discípulo de Cristo.
No mesmo eu destacaria a modesta homenagem em forma de versos de cordel feita por Maria Alice Bezerra, uma das famílias que teve a honra de uma atenção especial do reverendo.
Monsenhor André faleceu em junho 2006 e irmã Zélia em setembro do mesmo ano. Suas vidas se transformaram em almas gêmeas e irmã Zélia Brandão que em vida suportou toda a espécie de enfermidade, com bravura, trabalhava dia e noite em condições de saúde inacreditáveis, no entanto, ela não suportou a ausência do amigo, do pai e irmão André e como quem se entregasse a própria sorte, entregou-se a depressão e seu corpo já sofrido pela debilidade de tantos anos de enfermidade, perdeu a resistência e três meses depois da morte de Pa André, ela também nos deixava em meio a saudade. No ano anterior a morte do Reverendo André, Correntina viveu a grande alegria de comemorar seus 50 anos de sacerdócios, 87 anos de idade. Uma história, um rebanho conduzido com cajado justo, humanitário. Como bem disse Ir. Neide Costa, ele foi a seu tempo a pessoa certo, irmão quando precisamos de um irmão, amigo quando precisamos de um amigo e pai, quando precisamos de um pai;
“... Agora veja minha gente o povo como é
se Padre André se candidatasse ia bater de boné
pois juntando os prefeitos todos
não chega a um dedão de Padre André.”
(Ma. Alice Bezerra)
Na conclusão deste artigo, conclamo aos ex-alunos do Educandário São José para que juntos realizemos um dos sonhos do nosso grande benfeitor, que é a criação de um laboratório de informática no velho Educandário, onde cada um de nós teremos nosso nome dado ao computador doado, ligado a rede que será configurada e desta forma estaremos dando nossa parcela de reconhecimento a grande obra de nosso pai espiritual e cultural. Entre em contanto com o autor deste site e saiba como participar e colaborar. Espelhe esta idéia para todos os ex-alunos do educandário, vamos em 2010, em nome Dele, ajudar aos que lá estão, não digo órfãos, pois em nossa memória, ele nunca nos deixará.
Obrigado Reverendo Monsenhor André
Obrigado Reverenda Irmã, filha de Fátima. Zélia Magalhães Brandão
Obrigada Reverenda Irmã, filha de Fátima Oneide Costa
OBRIGADO IDALINA, ANISIA, SIANA, JULIA, ZINHA, LAURA, totas santas mulheres, milagrosas, na arte de transformar pessoas comens em cidadãos e cidadãns doutores, filosofos, poetas, escritores.
No decorrer da história secular da humanidade, temos muitos exemplos de anjos vestidos de santos; aparição, milagres e embora dizem que "eles" não têm sexo e o que importa tal condição; conhecemos anjos homens e anjos mulheres, que surgem vestidos em suas aparências indescritíveis, como Santos e Santas que se rotulam pela graça ou pelo local da aparição; embora seja todas as Nossas Senhoras, no meu entender, a mesma santa e imaculada mãe de Jesus, que os católicos veneram, concedendo-lhe a eterna honra de mãe do salvador, filho de Deus. Essa mulher que também foi mortal como qualquer um de nós, tem, também, minha eterna admiração por ser e permanecer sendo, a escolhida de Deus; Foi e permanecerá sendo a mãe que concebeu um filho, unigêtino, cujo nome se faz acima de todo nome; Jesus.
Alguns desses anjos estão aí, respirando o mesmo ar que respiramos, se alimentando como nós nos alimentamos, são mortais, como nós, sentem dores, ficam enfermos e nem por isso se dobram diante das lutas pessoas e ainda tomam sobre sí o fardo de tantos e quantos desemparados pelas conseguencis da vida. Alguns desses anjos se fazem por trás de uma profissão, que são exercidas com um amor imcomparável e aí nós temos a convicção de lhes apresentar alguns anjos que viveram e ainda vivem em Correntina: Profa. Anísia Moreira e Maria da Cruz Rocha, este mês eternizada na glória do céus. Quem neste século não passou pelas mãos do conhecimento desses dois anjos professoras, que desafiavam o conhecimento, ensinando desde linguas estrangeiras a matemática, moral e cívica, ciências, português...
Fomos um povo agraciados por Deus e muitos correntinenses até hoje não se atentaram para este privilégio. Quando nasceu lá na Guiana Françesa e na cidade de Santa dos Brejos, os nossos ilustres e dignissimos reverendos, ANJOS; Monsenhor André Berénos, Irmã Zélia Magalhaes Brandão, que já partiram para receber a justa homenagem dos céus, onde já aguardava desde o começo, seus galardões e como não lembrar a Irmã Neide Costa, que ainda vive entre este povo, na mesma forma discreta de sempre, trabalhando afincamente para que as coisas acontecam sem se preocupar se o seu nome iria ou não figurar como autora deste ou daquele feito.
E os outros anjos que abriram suas asas para o mundo? Irmã Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Mahatma Gandhi, Herbert José de Souza, o Betinho, Zilda Arns, vitima do terremoto do Haiti. Que seria da humanidade se não tivesse em suas vidas tais anjos, humanos como qualquer um de nós, a fazer real aquela imagem celestial de anjos vestidos de branco, com asas sobre os ombros, cuja aparencia indescritível nos faz imaginar a perfeição dos céus!
Não é apenas por uma questão religiosa, só pelo aspecto da vida religiosa, mas pelo exemplo da digna vida cristã que essas pessoas deram e dão, mostrando que é possivel ao ser humano viver a essência de Cristo, que se resume em AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS E O PRÓXIMO, COMO A SÍ MESMO. Cabe aqui lembrar o Sermão da Montanha; se se perdesse todas as escrituras biblicas e restasse aos homens o Sermão da Montanha, não se teria perdido nada, Se os homens vivessem a essencia da mais perfeita pregação que Jesus fez para os homens.
Pa André, Ir. Zélia Brandão e Irmã Neide Costa, podem ser esquecidos com o passar dos anos, mas a obra por eles realizadas será eterna enquanto existir na face da terra uma cidade chamada Correntina, fincada nos limites do oeste baiano com o estado de Goiás; como também nunca deixará de ser reconhecido o empenho bravo de Anísia Moreira, Idalina Rocha, Maria da Cruz Rocha, Júlia Guerra e todas essas valentes mulheres que viveram para se doar, dando de sí o conhecimento adquirido, ensinando, formando valores humanos que por sua vez geram vidas e vidas e outros valores que surgem a cada geração.
Se o meu filho é um homen honrado e o meu neto tem em nós o exemplo a ser seguido, é fruto das videiras plantadas as margens do Rio das Éguas, cujas folhas nunca secam e no tempo certo dá o seu fruto, que são os filhos, dos filhos, dos filho, pelas gerações afora.
Que doces lembranças, trazemos na memória, de nossa escola, dos grêmios culturais, onde os aprendizes das tantas profissiões em que nos formamos, de roupas azul e branco, gravatas se perfilava diante de um microfone e começa seu discurso em nome da turma, agradecendo aos nossos eternos reverendos o fruto de um ardua trabalho; educar, instrutir, civilizar um povo;
Reverendisseimo Pa. Andre... Reverendissima Ir. Zélia... Dignissima Professores... Pare agora seu tempo e reflita nesse passado, que parecendo tão longe, nunca se fez ausente em seu presente.
Flamarion Costa e Irmã Neide Costa
Neste artigo proponho fazer um apanhado básico da história desses três anjos e o que eles sempre irão de representar na vida de nosso povo, tanto no passado, quanto no presente e no futuro, eles sempre estarão presente no dia a dia, através das tantas vidas, que foram transformadas em advogados, médicos, engenheiros, professores e profissões mil; poetas, escritores, jornalistas.
Foi numa visita a irmã Neide Costa, em sua residência situada a frente a casa paroquial, onde tivemos uma conversa ampla e reveladora, que assim transcrevo:
Tivemos por um instante a curiosidade de adentrar nos detalhes de algumas revelações, mas fomos sensatos em conter a curiosidade jornalística, quando logo de cara ela nos revelou que fora criada pelos avós; quando sua mãe os entregara e partira do lugar, ausentando-se de sua vida. Antes porém sua mãe se assegurou, de uma promessa, por parte de seus avós, de que dariam a Neide a atenção de filha, mas que não haveriam de interferir na sua formação religiosa. Isso em razão dos seus avós serem evangélicos, quando toda família tinha formação católica apostólica romana. Se hoje em dia os evangélicos ainda sofrem certas discriminações, naquela época então eles eram plenamente discriminados pela sociedade e pela própria igreja.
Na garantia desta promessa sua mãe a entregou aos avós e assim Neide passou pela infância, adolescência e chegou a mocidade e somente aos dezoito anos sem uma pratica religiosa e somente ao começar a trabalhar, como enfermeira, na ocasião em um posto de saúde na cidade de Santana dos Brejos, sua cidade natal. Tornou-se a responsável pela prevenção de traucoma/glaucoma/xistose, doenças que levava muita gente a cegueiras e morte. Tinha como companheira de trabalho a Irmã Yasmin, da família Bezerra de Correntina e ainda na década de 40 fez a primeira visita profissional a cidade, onde ministrou um treinamento aos enfermeiros locais, sobre as doenças que assustavam a população, naquela década.
Neide não tinha uma vida religiosa praticante e já passava dos dezoito anos de idade, era uma enfermeira. Seus avós, evangélicos, não lhe cobravam uma pratica religiosa, até mesmo em razão da promessa feita a sua mãe. No trabalho, ao lado da religiosa Irmã Yasmin Bezerra, de Correntina, é que começou a ter alguém cobrando dela uma pratica religiosa. Ir. Yasmin percebeu que mesmo com todas as qualidades morais inquestionáveis, a moça Neide não tinha rotina religiosa e se hoje isso é inaceitável, imaginem naquela época.
A feira passou a aconselhá-la e nas conversas o assunto sempre se voltava para essa questão. Neide ouvia os conselhos e não mostrava rebeldia; mas foi um presente da irmã Yasmin que finalmente concluíra seu trabalho de evangelizar a amiga. O livro Ei de ser freira? teve como resposta a conversão de Neide, que ao final daquele leitura, sentira de coração que aquela era a vida que ela involuntariamente sonhava, mas que faltara algo ou alguém, que revelasse a ela mesma, seu sonho.
A próxima tarefa, após sua decisão era como dizer aos seus avós sobre sua decisão pois se eles nunca haviam interferidos, também porque ela nunca, havia se decidido a ser católica ou evangélica, entretanto temia por sua decisão diante dos avós. O livro, relatou ela, contava a história de uma jovem camponesa que chamou atenção do rei por sua beleza física; certamente uma história baseada na vida da camponesa Ester. O rei ao ver a camponesa encantou-se por ela e a levou para seu castelo. A história era mesmo uma aplicação da palavra de Deus, o grande Rei e nós os camponeses. Deus porém nunca olha em nós a beleza física, mas o encanto que emana da alma, (acentuou) Aquilo definiu a vida da moça Neide, que se viu no lugar da camponesa disposta a servir o grande Rei; mas a duvida e o receios do que diria seus avós continuava a angustiar seu coração.
A decisão não foi aceita e ainda teve sua situação complicada pelo visinho que aconselhara o avô a dar-lhe uma surra inesquecível, para esquecer aquela história de ser freira, fosse esquecida. Alertada pelos vizinhos sua decisão sua vó bisbilhotou seus pertences e viu livro que ela estava lendo e levou para o avô. Ele se preparou para dar a surra indicada pelo vizinho, mas no memento exato a avó interferiu, lembrando-o da promessa feita a sua mãe. O assunto pareceu esquecido, mas Neide, que havia conhecido novas amigas, entre elas Genelise de Correntina, Zélia Brandão e sua irmã, todas estudantes do Colégio Diocesana, dirigido por Monsenhor Feliz, em Santana dos Brejos, um belo dia combinaram que juntas se apresentariam no convento e assim, um dia Neide saiu para o trabalho e não voltou para casa, seus avós souberam no dia seguinte que ela estava no convento, determinada a abraçar a vida religiosa de servir o Grande Rei.
Justamente nesta época estava sendo criada a Congregação das Filhas de Fátima, era março de 1955 e elas foram as primeiras voluntárias na formação da congregação.
Neste mesmo período Pa. André já havia assumido a paróquia de Correntina e comunicado a Dom Muniz, bispo da região, suas dificuldades na nova paróquia e para dar andamento aos projetos idealizados, solicitara o auxilio. dministração da igreja, as atividades sociais e Cristãns, agenda do reverendo, batizados, casamentos, além das atividades culturais com o Educandário São José já inaugurado, inicialmente ao pé da ponte do rio, fazendo uso inclusive de algumas das casas das Paturis. Dom Muniz então solicita ao Monsenhor Felix que envie duas freiras que atendam as necessidades do Pa. André e então chega a Correntina em fevereiro de 1961, as irmãs filhas de Fátima, Zélia Brandão e Neide Costa.
Ir Zélia Brandão foi designada a colaborar com a Profa. Anísia Moreira, então Diretora do Educandário e assumiu o posto de Vice-Diretora, Professora de Matemática, Português e Francês enquanto Ir. Neide Costa assumia a organização das atividades paroquial, agenda do reverendo e organização de cruzadas, catequeses.
Maria Rocha (Ziu) Flamarion e a Dignisssima Irmã Zelia Brandão
Ir. Zélia Brandão se dedicava de corpo e alma pela formação cultural das crianças e jovens correntinenses. Até certa altura da vida tinha saúde de sobra para encarar o rojão incansável do trabalho a frente do Educandário e da Igreja. Na década de 70 após ser vitimada de brucelose, nunca mais fora a mesma. A partir de então, passou a ter uma saúde debilitada, acentuada por um câncer no seio, que acabou desencadeando um mal cardíaco. Embora o corpo se abalasse o espírito nunca se deixava abater e dificilmente faltava em nenhum de seus compromissos. Irmã Zélia Ela se destacou na vida cultural de Correntina. Assumiu a Direção do Educandário quando as novas instalações ficaram prontas e dividiu com a Professora Julia Guerra, (Julita) a administração do Educandário, cabendo a Professora Julita a parte relacionada aos alunos internos. Correntina era referencia educacional no oeste da Bahia e recebia alunos internos de todos as localidades, até de outros estados, como Goiânia e Anápolis, Carinhanha, Coribe, Cocos, Santa Maria da Vitória, Porto Novo. O processo havia se invertido, antes os filhos correntinenses procuravam outras localidades para os estudos, Correntina passou a oferecer o primário e curso ginasial completos e o curso normal, por esta razão vinham alunos de todas as localidades, e muitos eram os internos vinham do próprio município e ali eram entregues a responsabilidade de Irmã Zélia Brandão e Júlia Guerra.
Irmã Zélia acompanhou Pa André em toda sua vida pastoral e foi testemunha de suas alegrias e tristezas, junto com Ir. Neide Costa, fora cúmplice e parceira de todos os projetos sociais e culturais idealizados pelo Reverendo, Pai dos pobre e ricos de Correntina. Até o fim de seus dias, testemunhas da luta desigual do Reverendo, para vencer as enfermidades que lhe roubavam as forças, mas nunca o ânimo ou a disposição de fazer acontecer seus planos e sonhos, no dia a dia do povo correntinense. Elas, Irmãs Zélia e Neide, viveram ao seu lado o apso de uma vida vitoriosa e a dor de uma vida que se apagava aos poucos.
O Educandário São José sem dúvida foi o grande destaque na grande obra realizada pelo Pa. André. Foi e continua sendo o instrumento de formação de valores humanos, rapazes e moças ali ainda recebem a assistência educacional e religiosa exemplar. No Educandário se recebia rapazes e moças no sistema de , onde por regra, não perdiam um compromisso ou festividade promovida pela igreja, os internos da professora Julita tinham lugar cativo nos primeiros bancos da igreja e apesar da vida regrada em disciplina, quando nos encontramos com algum ex-interno, não ouvimos de nenhum, palavras de magoa ou ressentimento, mas agradecimentos pela dedicação e empenho dos inesquecíveis professores do velho Educandário São José.
Irmã Zélia se dedicou a cultura, não só incentivando o Grêmio Cultural do Educandário, mas realizando verdadeiras festas de formaturas e peças teatrais, com o apoio do grande teatrólogo, escritor e ator, Raimundo Martins da Costa, Iôzinho e com a renda dos “Dramas”, Padre André dava continuidade aos seus projetos culturais.
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Foram 45 anos de convívio e trabalho ao lado do Padre André, que por reconhecimento do Papa João Paulo passara a ser Monsenhor, embora ninguém tenha se acostumado a chamá-lo de Monsenhor, para os correntinenses ela poderia chegar a Bispo, Cardeal, Papa, mas seria o eterno Padre André. As irmãs Zélia Brandão e Neide Costa tornaram-se a sombra de Padre André, elas estavam presente em tudo e se tornaram as responsáveis diretas pelo sucesso dos projetos idealizados pelo reverendo, Ele foi pai, irmão e o grande amigo, que passava segurança e otimismo, fazia gerar energia, força para se empreender na tarefa de trazer desenvolvimento aquele povo, de quem tornaram-se responsáveis. Era o Pastor de ovelhas e seus auxiliares.
Padre André chegou a Correntina no dia 21 de junho dd 1955, quando também deixou o município os freis Ambrosio e Henrique, até então responsáveis pela paróquia de Nossa Senhora da Glória. Tinha ele apenas 37 anos de idade e pouco mais de seis meses de ordenação; era um visionário e sua história, contada no livro Os Caminhos de André, de Hélverton Valnir, detalha com mais precisão sua obstinação pela vida religiosa e sua luta para que ela se tornasse realidade na vida do próximo.
André Frans Bérénos nasceu em 07 de abril de 1919 na cidade de Paramaribo, Suriname, antiga Goiana Holandesa e daí muitos, como eu, achavam que Padre André era um raro negão holandês da Holanda. Estudou na ilha de Curaçao, no Caribe, onde cursou até o equivalente ao 2º. Graue destacou-se pela sua obstinação e luta, pelos mais humildes; mas sua luta pela libertação da Guiana, do domínio holandês, foi outro grande obstáculo para se tornar aceito pela igreja católica, no desejo de servir a humanidade. como Padre. Além de luta pela independência da Goiana Holandesa, pesa também a idade já avançada, o que levava a crer já tivera tido contato intimo com o sexo oposto. Quando tentou ingressar-se no seminário para seguir a carreira religiosa fora recusado. Não desistiu de lutar pelo seu grande sonho, tinha tudo que queria um jovem; uma vida folgada e todas as condições para estudar e trabalhar no Caribe. Aos 29 anos recebeu a visita do Bispo de Paramaribo, Dom Estevão Kuipers que foi saber pessoalmente de André se ainda tinha pretensões para com a vida sacerdotal. A resposta não poderia ser outra e o bispo cuidou para que o caminho de André o conduzisse a vida sacerdotal. André foi indicado ao Bispo Dom João Batista Muniz, no Brasil. Dom Muniz pastoreava a Diocese de Barra do Rio Grande, da qual fazia parte a paróquia de Correntina; onde a pobreza e a falta de cultura, acentuavam a miserabilidade da região no oeste baiano. A necessidade de padres eram enorme e isso foi tema de discussão entre o Bispo Kuipers e Dom Muniz em um de seus raros encontros. Em agosto de 1949, aos 30 anos de idade André Bérénos chega ao Brasil.
Para quem pensa que Padre André teve uma vida fácil na sua formação sacerdotal, saiba que somente aos 30 anos de idade é que foi aceito no seminário Maior de Diamantina, MG., onde também estava o seminarista Teófilo Guerra. Ali estudou por cinco anos até ser ordenado em 08 de dezembro de 1955, aos 36 anos de idade e ter a paróquia de Correntina, como sua primeira e única missão, que ele cumpriu com todo louvor. Pa. André também respondeu pelas paróquias de Santa Maria da Vitória, Cocos, Coribe, Carinhanha, sem nunca deixar sua filha primogênita, Correntina.
Falar do trabalho realizado por Padre André, com o apoio das Irmãs Zélia e Neide, só mesmo um livro especifico, como em parte o fez nosso jornalista Hélverton, mas sem dúvida o pilar mestre da obra do Reverendo André foi consolidado na educação. Correntina tinha como colégio, único, o velho Duque de Caxias, onde a Professora Maria Rocha, Dona Zinha era a diretora e delegada escolar do município. No prédio modesto de duas salas, onde hoje funciona do Bradesco pela manha funcionava o 1o e 2o ano e a tarde o 3o e 4º e depois disso, os pais que tinham condições, mandavam seus filhos para outras cidades, entre elas destacava-se Barra e Carinhanha e os que não conseguiam vagas no Duque de Caxias, mas que seus país se importavam em dar educação aos filhos, iam pra escolas particulares improvisadas em residências e entre elas estava Professor Manoel Amâncio, que alfabetizou minha mãe, Professora Siana, na imediações do Cemitério, Professora Idalina, na Praça da Matriz, Professora Anísia, na Rua Dr. Guerra e lá também a Professo Ilzinha Guerra, que a preços simbólicos assumiam a tarefa de pelo menos alfabetizar meninos e meninas das gerações de 50 e 60.
A chegada de Pa. André mudou todo esse quadro; nos relata a Ir. Neide que uma de suas principais atividades ao chegar na cidade, foi visitar as famílias e conhecer delas, suas principais necessidades e como não podia ser outras, a educação e saúde foram as que mais se destacaram. Mais isso não era tarefa da igreja, a sociedade pensava assim. Pa. André pensava além de seu tempo, embora a igreja não se preocupasse com a pessoal e sim com a alma, Pa. André não concordava com esse pensamento. Ele teve como referencial o homem que mais contribuiu para o desenvolvimento e a cultura da região, que foi Dom Muniz. Esse homem tinha estado de Governador e andava por todos os recantos do sertão oeste baiano, levando conhecimento, técnica de sobrevivência através da agricultura e da escola e Padre André, como um bom discípulo, seguiu a risca a cartilha de Dom Muniz e transformou a cidade de Correntina num centro de cultura e aprendizado. Os correntinenses não mais saiam da cidade para estudas fora, mas alunos de outros estados e municípios é que chegavam para se internaram no Educandário São José.
Entre as décadas de 70 e 80 trouxe um reforço com a chegada das irmãs da Congregação Imaculada Conceição, as simpáticas freiras Pascásia, Cristina, Isaura, Conceição, Renata, Clemência, Claudete, tendo ainda por um período contado com apoio de outras irmandades, sendo porém as Filhas de Fátima, Zélia e Neide as que nunca se afastaram das atividades desde 1961 até os dias de hoje, e depois dessas, as irmãs da Congregação Imaculada Conceição, que registra-se abalaram os corações de moças e rapazes, pela forma alegre, espontânea, pelo carinho e até mesmo a beleza física de Irmã Renata, Pascásia, Cristina; todas elas atuaram no Educandário, sem dispensar, óbvios, as atividades religiosas. (ah! Quem terá uma foto dessas queridas irmãs?)
Padre André se preocupava com a dignidade das pessoas, lhe concedendo condições de suprir suas próprias necessidades, entre suas tantas obras, está a Maternidade que resolvera dependência das velhas parteiras, reformou a igreja e criou os grupos de congregações que estimularam a pratica religiosa, refez o calendário das comemorações religiosas, criou o lar dos velhinhos, onde os idosos tem suas casa individualizadas, o que lhes proporciona independência e uma vida sem o trauma dos asilos; construiu uma catedral, onde hoje repousa seus restos mortais, localizada no antigo local da serralheria, onde muitos jovens aprenderam o oficio de marceneiro, realizou encontros de missões e cruzadas, formou grupos sindicais para defesa dos direitos humanos e foi este um eficiente instrumento na defesa dos pequenos agricultores, na década de 80, quando os grandes latifundiários invadiam e os expulsavam de suas terras. Para isso o Reverendo, já com idade avançada, foi estudar direito, para melhor se estruturar na defesa de seu rebanho agrícola, fundou a primeira rádio comunitária do município, fundou o Centro de Formação de Lideres, fundou a escola agrícola, escola de formação de padeiros, escola de datilografia, cursos de profissionalização, grupo da Pastoral da Saúde, que realizam visitas nos domicílios, conhecendo e auxiliando nos problemas de saúde de crianças, moços e velhos .
Ele não fez tudo, pelo menos era o que ele mesmo pensava. Estava sempre buscando um novo desafio, como a tão sonhada faculdade e a Fundação Monsenhor André Bérénos que foram interrompidos por seria de problemas de saúde, entre eles uma tuberculose que fez agravar seu estado de saúde.
Em vida em morte, Monsenhor André recebeu centenas de homenagens justas; por tudo que representou e ainda representa, na história do povo correntinense. Indico o livro Os caminhos de André, de Hélverton Valnir, para os que pretendem conhecer mais, numa noção mais ampliada, mas nunca conclusiva, da vida e da obra deste discípulo de Cristo.
No mesmo eu destacaria a modesta homenagem em forma de versos de cordel feita por Maria Alice Bezerra, uma das famílias que teve a honra de uma atenção especial do reverendo.
Monsenhor André faleceu em junho 2006 e irmã Zélia em setembro do mesmo ano. Suas vidas se transformaram em almas gêmeas e irmã Zélia Brandão que em vida suportou toda a espécie de enfermidade, com bravura, trabalhava dia e noite em condições de saúde inacreditáveis, no entanto, ela não suportou a ausência do amigo, do pai e irmão André e como quem se entregasse a própria sorte, entregou-se a depressão e seu corpo já sofrido pela debilidade de tantos anos de enfermidade, perdeu a resistência e três meses depois da morte de Pa André, ela também nos deixava em meio a saudade. No ano anterior a morte do Reverendo André, Correntina viveu a grande alegria de comemorar seus 50 anos de sacerdócios, 87 anos de idade. Uma história, um rebanho conduzido com cajado justo, humanitário. Como bem disse Ir. Neide Costa, ele foi a seu tempo a pessoa certo, irmão quando precisamos de um irmão, amigo quando precisamos de um amigo e pai, quando precisamos de um pai;
“... Agora veja minha gente o povo como é
se Padre André se candidatasse ia bater de boné
pois juntando os prefeitos todos
não chega a um dedão de Padre André.”
(Ma. Alice Bezerra)
Na conclusão deste artigo, conclamo aos ex-alunos do Educandário São José para que juntos realizemos um dos sonhos do nosso grande benfeitor, que é a criação de um laboratório de informática no velho Educandário, onde cada um de nós teremos nosso nome dado ao computador doado, ligado a rede que será configurada e desta forma estaremos dando nossa parcela de reconhecimento a grande obra de nosso pai espiritual e cultural. Entre em contanto com o autor deste site e saiba como participar e colaborar. Espelhe esta idéia para todos os ex-alunos do educandário, vamos em 2010, em nome Dele, ajudar aos que lá estão, não digo órfãos, pois em nossa memória, ele nunca nos deixará.
Obrigado Reverendo Monsenhor André
Obrigado Reverenda Irmã, filha de Fátima. Zélia Magalhães Brandão
Obrigada Reverenda Irmã, filha de Fátima Oneide Costa
OBRIGADO IDALINA, ANISIA, SIANA, JULIA, ZINHA, LAURA, totas santas mulheres, milagrosas, na arte de transformar pessoas comens em cidadãos e cidadãns doutores, filosofos, poetas, escritores.