A LUTA PELA SUA CIDADANIA (4)

Uma salinha mal iluminada, um ar de pobreza, faz parte desta historia da nota dez da decoreba, ela debruçada na mesa não se ouvia mais que o barulho do folhar do livro, na tentativa de aprender a ler, logo é interrompido para uma breve oração, mas em seguida, continua a folhar o livro na calada da noite, nem um adorno havia em sua fisionomia, a não ser o seu próprio penteado, os cabelos de um forte odor, pela fumaça do lampião a querosene. Era picumã por todos os lados, mas ela com grande habilidade rapidamente alisam os cabelos apanhando-os e fixando-os no alto da cabeça com uma velha tira de pano, retalhos velhos que sobravam das roupas velhas, que depois de ser retirado os botões, tirando tudo que seria reaproveitado, para colocar nas novas roupas, uma verdadeira reciclagem.

Em silencio ela diz:_ Um dia aprendo a ler e vou ensinar outras pessoas. Vou também ler para muitas pessoas. Em seguida ela sentiu-se amparada,

grudando-se no livro, cuja uma obra que nunca havia visto.

Na sua casa nunca havia entrado nem um tipo de livro, a não serem recortes de jornais que vinha embalada as carnes dos açougues, santinhos políticos e textos litúrgicos da missa. Ela demora mais que pode apreciando as letras no claro da lamparina, entre uma folha e outra, alisava-as, arrancando uma idéia ali outra aqui, e imaginava o dia que desencantasse aquelas letras; era o que mais sonhava, passava os olhos pelas letras douradas da capa do livro, mais um olhar para uma imagem da Nossa Senhora Aparecida. A imagem estava encaixada preza a uma caixinha na parede, uma espécie de Santuário. Então se apega a ela, era uma fé católica, mas o que estava sendo demais era o livro, pois não via nada. Este olhar foi só para descansar as vistas, os olhares para outras coisas era somente, sorrateiramente, ou porque desde que nascera andasse com ela, esta fé impregnada na memória.

Nas vésperas de volta as aulas, estava lá de visão turva provocada pela fumaça do lampião de querosene, quando repentinamente branda uma voz: _Guria, você não cancã de ver este livro? Era o pai de Noemia que dava ordem e que ela fosse dormir. Não havia nada que pudesse remediar, folhando mais a ultima pagina, já com a visão ainda mais turva ainda, retirou-se para o quarto como de costume. O quarto era coletivo, onde dividia com seus cinco irmãos, que dava para os fundos da velha casa, uma casa de madeira coberta de tabuinha.

Entra no quarto entristecido, pois não havia alcançado nem um sucesso no aprendizado. O desespero invade sua mente e foi deitar bem encostada a parede, próximo a uma fresta entre duas tabuas que davam para traz da casa. Inquieta, sentia a dor das palavras da sua professora, o medo de ser castigada, tinha vontade de não ir mais para a Escola, na mesma hora ela se encoraja, pois queria dar um rumo melhor na sua vida. Pensa:_Se eu desistir de aprender a ler, jamais serei uma professora. Com certeza ela seria mais uma dos milhões de brasileiros analfabetos. Ela tinha esta somatória porque a sua professora o lembravam todos os dias que ela ia fazer parte deste grupo, pois não conseguia aprender nada. Já estava há um mês e meio, mais ou menos nesta vida, tentando sair da decoreba, pois havia decorado todas as lições da cartilha primaria. Noemia tinha dentro dela um, certo motorzinho.

Às vezes ela pensava que era talvez insignificante o seu esforço de todo, ao meio aquele livro com tantas paginas, cheia de tantas letras que ela conhecia, pois conhecia todo o alfabeto, mas não sabia o significado, ou seja não conseguia junta-las para formar as palavras. Ela estava ali todos os dias, nas horas de que lhe folgava dos trabalhos domésticos e da lavoura, atrás da casa folheando o livro e observando as palavras.

As horas de cenários atrás da casa durante o dia só eram possíveis aos domingos, pois durante o dia lhe sobrava pouco tempo, então era a noite que ele abrasava com o livro no claro do lampião a querosene. Ela tomava muito cuidado para não cair picumã no livro, mas isso às vezes era inevitável, e então o borrão preto estava lá fazendo parte desta historia. Quando isto acontecia o jeito era tentar minimizar o borrão soprando para fora do livro, pois se tentasse tirar com a mão a situação do borrão piorava.

O fato de Noemia estar em uma viagem desta, dentro de um livro, sem saber o significado das letras eram algo bastante corajosa e de muito otimismo, em pensar que poderia aprender sozinha, acreditando na sua capacidade.

Ainda, sem dormir, ela busca imaginação, que para ele a imaginação havia se tornado tão importante na sua vida que dorme imaginando um dia que pudesse ler para muitas pessoas, inclusive para sua professora. Quando adormece vem os sonhos, ela sonha com um lindo cenário, lendo para uma multidão de pessoas inclusive para a professora, mais o que foi difícil mesmo, foi quando acordou e não era real.

Noemia sonhava em criar histórias, compor poemas, ela viajava naquele livro, sonhando o dia que pudesse estudar todo aquele livro.