PARADOXO

Eu preciso acabar com este sequestro sem resgate, com esse boicote descabido, com esse não saber o que querer e porque querer…

Hoje sou duas, amanhã poderei ser três novamente, mas nunca uma. Uma única pessoa que vive e se movimenta pela vida. Eu converso comigo, sou minha própria terapeuta, minha guia, minha guru, minha crítica…minha maior e pior inimiga.

E quando estou só, ah quando estou só sem ninguém ao meu lado…é ai mesmo que sou várias. E ai também não existe o silêncio, mesmo que do lado de fora não haja palavra, não haja diálogo, não haja o outro…É uma gritaria só. Todas ao mesmo tempo querendo falar e querendo se impor. Querendo me dar ordens! Eu odeio ordens, eu odeio a ordem.

Desordenamente vou seguindo o caminho e a minha vidinha solitária-fingida…

Desordenadamente? Que nada…é tudo tão ordenado, tudo tão metódico…é a ordem do caos. O caos criativo, o caos do silêncio onde posso ouvir todas esses vozes que se materializam no papel, que se ordenam nas palavras misteriosamente saindo de mim e vindo ao meu próprio encontro.

Eu sou uma apaixonada pela vida, eu amo pessoas e amo o estar só…amo todas essas mulheres em que me transformei, amo cada uma com sua loucura, com sua sanidade, com seus medos e com suas coragens. Amo não saber qual delas eu – de fato – sou, amo saber que posso ser paradoxal com firmeza. Amo ser livre mesmo estando tão algemada a mim mesma.

Amo amar. Amo o amor. Esse amor que me sequestra das outras, que me faz ser normal e uma só, que me torna única, que me habilita a fazer coisinhas cotidianas como cozinhar e lavar.

Eu sou várias, sou todas e sou paradoxalmente eu mesma.

Um dia crio coragem e registro cada uma com heterônimos, com data de nascimento, com casamentos, com divórcios, com velório…

Eu já morri muitas vezes e todos os dias percebo que chega mais “alguém” por aqui…