Grande proteção

A vida é contraditória, maluca, inconstante. Num momento queremos nos matar de trabalhar. Em outro, agradecemos pela vida que conseguimos preservar depois de alguma fatalidade. Então não é a vida que é maluca. Nós é que vivemos loucamente. Mas é isso mesmo, melhor viver loucamente do que morrer fatalmente!

Com “loucamente” quero dizer “intensamente” e não “tresloucadamente” ou “irresponsavelmente”. Só depois que a nossa vida fica por um fio é que nos agarramos a ela com toda força. Mais uma vez, lembro o amigo Machado: “Quem escapa a um perigo ama a vida com outra intensidade.”

A gente vai vivendo, vivendo, correndo, correndo, e aí sem perceber cai na inércia e não pensa mais nos detalhes importantes. Não enxergamos a grandiosidade do que temos dentro de nós. Viramos autômatos vivos. Então tem que aparecer alguma coisa para dar aquele chacoalhão, mostrar o que é importante de fato, resgatar sentimentos (de gratidão) esquecidos e ensinar lições que só são assimiladas com a dor.

Nessas horas, os amigos de verdade mostram a sua consideração, o apoio e o carinho. Nesses momentos, vemos que o urgente não era assim tão importante. Nessas ocasiões, medimos com outros parâmetros as prioridades das nossas ocupações.

Como em outras ocasiões, tenho a confiança de que o mal foi amenizado e ocorreu no momento da vida de menos transtorno. Por isso é preciso esforçar-nos a cada dia e orar com sinceridade para garantir o acúmulo das causas positivas que garantirão a proteção sempre.

Quantas vezes já passei por aquele mesmo lugar... onde celular nenhum tem sinal, onde não há acostamento nem sinalização. Se eu estivesse sozinho, seria bem pior. Se a velocidade fosse maior, teria sido mais grave. Se fosse à noite ou estivesse chovendo, poderia ter sido irreparável. Se estivesse vindo outro carro na direção contrária, teria sido fatal.

Fiquei chateado pelo ocorrido, claro, mas agradeço demais pelo não ocorrido. Quando desabafei ao meu irmão “será que minha fé é fraca?”, ele disse: “você poderia ter machucado muito num acidente como esse, esta é a maior prova da sua fé, manifestada em forma de proteção.”

De fato, por sorte, só perdi aquilo que já não tinha e que de alguma forma terei meios de conseguir: a parte material. Por muita proteção, não perdi aquilo que tenho e que é a coisa mais preciosa deste mundo: a vida e a saúde.

(Catalão, 09/11/2009)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 14/11/2009
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