Antes de seu pai ser preso, Nelson e família haviam mudado para uma casa na rua Inhangá e eram vizinhos do hotel Copacabana Palace. Ali, aos doze anos, o autor aprendeu a nadar. Mas, aos poucos, à medida em que entrava na adolescência, foi sendo possuído por uma indolência melancólica, ficando depressivo, suspirando pelos cantos e dizendo: "Eu sou um triste!".
Durante o tempo em que esteve preso, Edmundo Bittencourt cortou o salário de Mário Rodrigues, dando à mãe de Nelson apenas o suficiente para pagar o aluguel da casa. Mário foi ajudado financeiramente, nessa época, por Geraldo Rocha (proprietário do jornal A Noite, concorrente do Correio da Manhã), sem o que sua esposa e a penca de filhos por certo teriam passado fome. Ao ser libertado, volta ao jornal e é surpreendido com a notícia de que não haveria mais um diretor permanente, cargo esse que detinha. Seria feito um rodízio de diretores. Mas pior do que isso foi o fato de tomar conhecimento de que Edmundo estava tentando se aproximar de seu desafeto Epitácio Pessoa. Mário, em carta desaforada, pediu demissão a Edmundo, dizendo que em breve voltaria para esmagá-lo. Daí surgiu seu próprio jornal, A Manhã.
Nelson inicia sua carreira jornalística em 29 de dezembro de 1925, como repórter de polícia, ganhando trinta mil réis por mês. Tinha treze anos e meio, era alto, magro e seus cabelos eram indomáveis. Embora fosse filho do patrão, teve que comprar calças compridas para impor respeito aos colegas de redação.
Ali reuniam-se colaboradores ilustres: Antônio Torres, Monteiro Lobato, Medeiros e Albuquerque, Agripino Grieco, Ronald de Carvalho, Maurício de Lacerda e José do Patrocínio. Além desses, havia a turma da casa: Danton Jobim, Orestes Barbosa, Renato Viana, Joracy Camargo, Odilon Azevedo e Henrique Pongetti. Outra figura de A Manhã era Apparício Torelly — Apporely — que mais tarde se autodenominaria "Barão de Itararé" e fundaria seu próprio jornal, A Manha.
O autor impressiona os colegas com sua capacidade de dramatizar pequenos acontecimentos. Especializou-se em descrever pactos de morte entre jovens namorados, tão constantes naquela época.
Na zona preta do Mangue, na rua Pinto de Azevedo, estavam concentradas as prostitutas mais pobre e esculhambadas, negras na maioria, a dois mil réis por alguns minutos. Mas o autor preferiu as da rua Benedito Hipólito, mais asseadas e que ficavam em ambientes melhores, embora o preço subisse para cinco mil réis. Ali, aos catorze anos, Nelson foi pela primeira vez com uma mulher para dentro de um quarto. Ficou freguês.
O indomável escritor cria um tablóide de quatro páginas intitulado Alma Infantil,nascido da troca de cartas com seu primo Augusto Rodrigues Filho, que não conhecia pessoalmente e que morava no Recife. Ele queria ser como seu pai, um espadachim verbal. Depois de cinco números e muitos ataques a políticos pernambucanos e a cariocas, Nelson desiste do tablóide.
A irmã Dorinha morre em setembro de 1927, aos nove meses, de gastrenterite. Em 1928 a família se transfere para uma nova e luxuosa casa na rua Joaquim Nabuco, 62, em Copacabana. Viviam um momento de muito dinheiro e muita fartura.
Nessa época, o autor e seus irmãos mais velhos trabalhavam no jornal A Manhã: Milton era o secretário, Roberto ilustrava algumas reportagens, Mário Filho começou como gerente, indo depois para a página literária e depois a de esportes. Nelson havia abandonado desde 1927 a terceira série do ginásio no Curso Normal de Preparatórios. Nunca mais voltou à escola, apesar do esforço desenvolvido por seu pai.
Tendo garantido uma coluna assinada na página três do jornal — a página principal — o escritor publica seu primeiro artigo, em 07 de fevereiro de 1928. Tinha o título de "A tragédia de pedra...", com as solenes reticências. Depois vieram "Gritos Bárbaros", "O elogio do silêncio", "A felicidade", e "Palavras ao mar", todos de grande sensibilidade poética. Seu lado monstro só apareceu na crônica de 16 de março, "O rato..." (com as famosas reticências), em que ele conta como viu um rato morto, achatado por um carro, defronte à Biblioteca Nacional. Para desespero de seu pai, começa a "bater" em Ruy Barbosa. No segundo artigo em que esculhambava o "Águia de Haia", antevendo o que aconteceria, Nelson achou que se safaria de seu pai se saísse bem cedo de casa, antes que o "velho" lesse o jornal. Enganou-se. O castigo foi mais duro do que ele imaginava: foi rebaixado, saindo da página três e retornando à seção de polícia, onde trabalhou nos cinco meses seguintes.
Mal teve tempo de voltar à terceira página e o pior acontece. O jornal, mal administrado, está cheio de dívidas. O sócio de seu pai, Antônio Faustino Porto, que há tempos vinha arcando com os pagamentos urgentes, torna-se sócio majoritário e oferece o emprego de diretor a Mário. Este aceita, mas fica só um dia. A intervenção do novo dono em seus artigos faz com que ele e a família deixem o jornal.
Amigo de Melo Viana, vice-presidente da República, no dia em completava 43 anos, 21 de novembro de 1928, e apenas 49 dias depois de perder A Manhã, Mário Rodrigues lançou seu novo jornal de grande sucesso: Crítica, que chegou a ter uma circulação de 130.000 exemplares.
O tenente-coronel Carlos Reis manda a polícia prender todos os Rodrigues que encontrasse, sob a alegação de que um deles era o mandante do assassinato do argentino Carlos Pinto, repórter de A Democracia. Foram, pai e irmãos, todos presos. Nelson escapou por não se encontrar no Rio, em viagem para o Recife, única forma encontrada pela família para tentar livrá-lo da depressão em que se encontrava. Cheio de paixões, ora por Lilia, ora por Carolina e ora por Marisa Torá, estrela da companhia teatral de Alda Garrido.
Ao lado dos primos Augusto e Netinha (com quem mantinha há algum tempo namoro epistolar), conheceu Recife e Olinda, a praia da Boa Viagem e, com Augusto, a zona de mulheres do Cais do Porto, considerada a maior da América do Sul. Sua prima, não se sabe como, tirou-o da depressão, fazendo-o voltar a todo vapor para a redação da Crítica.
Em 26 de dezembro de 1929 o jornal estampa matéria, na primeira página, sobre o desquite de Sylvia e José Thibau Jr. Foi a fórmula encontrada para o diário não sair sem assunto, já que era o primeiro dia após o natal. No dia 27, pela manhã, Sylvia entra na redação da Crítica procurando por Mário Rodrigues. Não o encontrando, pede para falar com seu filho Roberto e dá-lhe um tiro no estômago. Nelson viu e ouviu aquilo tudo. Com dezessete anos e quatro meses, era a primeira cena de violência brutal que presenciava. Seu irmão faleceu no dia 29.
Durante o tempo em que esteve preso, Edmundo Bittencourt cortou o salário de Mário Rodrigues, dando à mãe de Nelson apenas o suficiente para pagar o aluguel da casa. Mário foi ajudado financeiramente, nessa época, por Geraldo Rocha (proprietário do jornal A Noite, concorrente do Correio da Manhã), sem o que sua esposa e a penca de filhos por certo teriam passado fome. Ao ser libertado, volta ao jornal e é surpreendido com a notícia de que não haveria mais um diretor permanente, cargo esse que detinha. Seria feito um rodízio de diretores. Mas pior do que isso foi o fato de tomar conhecimento de que Edmundo estava tentando se aproximar de seu desafeto Epitácio Pessoa. Mário, em carta desaforada, pediu demissão a Edmundo, dizendo que em breve voltaria para esmagá-lo. Daí surgiu seu próprio jornal, A Manhã.
Nelson inicia sua carreira jornalística em 29 de dezembro de 1925, como repórter de polícia, ganhando trinta mil réis por mês. Tinha treze anos e meio, era alto, magro e seus cabelos eram indomáveis. Embora fosse filho do patrão, teve que comprar calças compridas para impor respeito aos colegas de redação.
Ali reuniam-se colaboradores ilustres: Antônio Torres, Monteiro Lobato, Medeiros e Albuquerque, Agripino Grieco, Ronald de Carvalho, Maurício de Lacerda e José do Patrocínio. Além desses, havia a turma da casa: Danton Jobim, Orestes Barbosa, Renato Viana, Joracy Camargo, Odilon Azevedo e Henrique Pongetti. Outra figura de A Manhã era Apparício Torelly — Apporely — que mais tarde se autodenominaria "Barão de Itararé" e fundaria seu próprio jornal, A Manha.
O autor impressiona os colegas com sua capacidade de dramatizar pequenos acontecimentos. Especializou-se em descrever pactos de morte entre jovens namorados, tão constantes naquela época.
Na zona preta do Mangue, na rua Pinto de Azevedo, estavam concentradas as prostitutas mais pobre e esculhambadas, negras na maioria, a dois mil réis por alguns minutos. Mas o autor preferiu as da rua Benedito Hipólito, mais asseadas e que ficavam em ambientes melhores, embora o preço subisse para cinco mil réis. Ali, aos catorze anos, Nelson foi pela primeira vez com uma mulher para dentro de um quarto. Ficou freguês.
O indomável escritor cria um tablóide de quatro páginas intitulado Alma Infantil,nascido da troca de cartas com seu primo Augusto Rodrigues Filho, que não conhecia pessoalmente e que morava no Recife. Ele queria ser como seu pai, um espadachim verbal. Depois de cinco números e muitos ataques a políticos pernambucanos e a cariocas, Nelson desiste do tablóide.
A irmã Dorinha morre em setembro de 1927, aos nove meses, de gastrenterite. Em 1928 a família se transfere para uma nova e luxuosa casa na rua Joaquim Nabuco, 62, em Copacabana. Viviam um momento de muito dinheiro e muita fartura.
Nessa época, o autor e seus irmãos mais velhos trabalhavam no jornal A Manhã: Milton era o secretário, Roberto ilustrava algumas reportagens, Mário Filho começou como gerente, indo depois para a página literária e depois a de esportes. Nelson havia abandonado desde 1927 a terceira série do ginásio no Curso Normal de Preparatórios. Nunca mais voltou à escola, apesar do esforço desenvolvido por seu pai.
Tendo garantido uma coluna assinada na página três do jornal — a página principal — o escritor publica seu primeiro artigo, em 07 de fevereiro de 1928. Tinha o título de "A tragédia de pedra...", com as solenes reticências. Depois vieram "Gritos Bárbaros", "O elogio do silêncio", "A felicidade", e "Palavras ao mar", todos de grande sensibilidade poética. Seu lado monstro só apareceu na crônica de 16 de março, "O rato..." (com as famosas reticências), em que ele conta como viu um rato morto, achatado por um carro, defronte à Biblioteca Nacional. Para desespero de seu pai, começa a "bater" em Ruy Barbosa. No segundo artigo em que esculhambava o "Águia de Haia", antevendo o que aconteceria, Nelson achou que se safaria de seu pai se saísse bem cedo de casa, antes que o "velho" lesse o jornal. Enganou-se. O castigo foi mais duro do que ele imaginava: foi rebaixado, saindo da página três e retornando à seção de polícia, onde trabalhou nos cinco meses seguintes.
Mal teve tempo de voltar à terceira página e o pior acontece. O jornal, mal administrado, está cheio de dívidas. O sócio de seu pai, Antônio Faustino Porto, que há tempos vinha arcando com os pagamentos urgentes, torna-se sócio majoritário e oferece o emprego de diretor a Mário. Este aceita, mas fica só um dia. A intervenção do novo dono em seus artigos faz com que ele e a família deixem o jornal.
Amigo de Melo Viana, vice-presidente da República, no dia em completava 43 anos, 21 de novembro de 1928, e apenas 49 dias depois de perder A Manhã, Mário Rodrigues lançou seu novo jornal de grande sucesso: Crítica, que chegou a ter uma circulação de 130.000 exemplares.
O tenente-coronel Carlos Reis manda a polícia prender todos os Rodrigues que encontrasse, sob a alegação de que um deles era o mandante do assassinato do argentino Carlos Pinto, repórter de A Democracia. Foram, pai e irmãos, todos presos. Nelson escapou por não se encontrar no Rio, em viagem para o Recife, única forma encontrada pela família para tentar livrá-lo da depressão em que se encontrava. Cheio de paixões, ora por Lilia, ora por Carolina e ora por Marisa Torá, estrela da companhia teatral de Alda Garrido.
Ao lado dos primos Augusto e Netinha (com quem mantinha há algum tempo namoro epistolar), conheceu Recife e Olinda, a praia da Boa Viagem e, com Augusto, a zona de mulheres do Cais do Porto, considerada a maior da América do Sul. Sua prima, não se sabe como, tirou-o da depressão, fazendo-o voltar a todo vapor para a redação da Crítica.
Em 26 de dezembro de 1929 o jornal estampa matéria, na primeira página, sobre o desquite de Sylvia e José Thibau Jr. Foi a fórmula encontrada para o diário não sair sem assunto, já que era o primeiro dia após o natal. No dia 27, pela manhã, Sylvia entra na redação da Crítica procurando por Mário Rodrigues. Não o encontrando, pede para falar com seu filho Roberto e dá-lhe um tiro no estômago. Nelson viu e ouviu aquilo tudo. Com dezessete anos e quatro meses, era a primeira cena de violência brutal que presenciava. Seu irmão faleceu no dia 29.