SANTO AGOSTINHO - A JORNADA DE UM ESPÍRITO











          Agostinho (Santo Agostinho) nasceu em 354, filho de pai pagão e mãe cristã (Santa Mônica).
          Aos dezessete anos foi para Cartago onde conheceu uma moça com quem teve um filho, Adeodato. Viveram juntos por treze anos, em concubinato, o que para os padrões da época, era comum. Apesar do relacionamento com a mãe de seu filho, Agostinho sentia a tentação sexual como algo irresistível, o que influenciaria suas concepções de pecado e marcaria toda sua vida.
          Aos 19 anos, converte-se ao maniqueísmo, seita que acreditava haver no Universo duas forças opostas, uma boa e outra má, o que ia ao encontro com os sentimentos de Agostinho, que sentia dentro de si estas duas forças que se digladiavam. Aos 30 anos, muda-se para Milão com sua mãe, já viúva.           Encontrava-se no auge de sua carreira como professor, mas profundamente insatisfeito com sua vida.
Friamente separa-se da mãe de Adeodato, obrigando-a a assinar um acordo no qual jamais se uniria a outro homem e desistia totalmente de seu filho, o qual nunca mais veria. Agostinho logo fica noivo de uma jovem rica e de boa posição. Mas não conseguiu dominar suas paixões. Via a si mesmo “num vicioso turbilhão de sexo”. “Não há nada mais poderoso para tornar o espírito de um homem decadente do que as carícias de uma mulher,” observou posteriormente. Outra observação não menos peculiar é de que “Mulheres não deveriam ser educadas ou ensinadas de nenhum modo. Deveriam, na verdade, serem segregadas já que são causa de horrendas e involuntárias ereções em santos homens”.
          Ainda em Milão, Agostinho recebeu a poderosa influência do bispo Ambrósio.           Seu discurso atingiu a sua alma e o estímulo final para sua conversão parece ter sido o exemplo de Antônio e seus monges egípcios, homens simplórios que eficazmente enfrentaram as tentações do mundo, deixando o austero Agostinho deveras envergonhado, pois não conseguira por esforço próprio vencer as tentações carnais, sendo ele um homem culto.
          Em 387, Agostinho, seu filho e seu amigo Alípio foram batizados por Ambrósio, em Milão. Ao retornar a Roma, no ano seguinte, perde sua mãe e em seguida seu filho, quando novamente instalado em Tagaste. Mergulhado em uma dor profunda, ansiava em abandonar o mundo que tanto ansiava compreender, mas não seria assim. A necessidade de liderança na Igreja era grande demais e seus talentos já reconhecidos foram pleiteados. Três anos mais tarde, tornou-se bispo auxiliar de Valério, e após sua morte, sucedeu-o no cargo. Tinha então 43 anos e pelos próximos trinta e três anos, até sua morte em 430 durante o cerco de Hipona pelos Vândalos, esteve no centro intelectual da Igreja.
          Agostinho foi um autor prolífico em muitos gêneros, tratados teológicos, sermões, comentários da Escritura, e autobiografia. Suas Confissões são geralmente consideradas como a primeira autobiografia; Agostinho descreve sua vida desde sua concepção até sua então (com cerca de cinqüenta anos) relação com Deus, e termina com um longo excorso sobre o livro de Gênesis, no qual ele demonstra como interpretar a escritura. É uma das poucas obras ainda lidas hoje por descrever a vida do jovem e pecador Agostinho, o seu esforço em superar o ímpeto sexual e o relacionamento com sua devotada mãe. Sua obra Cidade de Deus influenciou toda a Idade Média. As bibliotecas medievais continham mais de quinhentos manuscritos completos desta obra. “De Adão ao final dos tempos, escreveu Agostinho, a humanidade habitará duas cidades: a multidão dos que não tem Deus, que vive a vida do homem terreno, e o grupo dos homens espirituais, nascidos da graça e convidados para a cidade de Deus por toda a eternidade”. Daí surge a idéia tão difundida até os dias de hoje, do Reino dos Céus, como recompensa futura aos sofredores nos reinos da Terra.

A Controvérsia Donatista.
          Quando Agostinho passou a liderar a Igreja, a controvérsia entre católicos e um movimento chamado donatismo já durava cem anos. Os donatistas se posicionavam por uma igreja santa, disciplinada e por ferrenha resistência a bispos indignos. Alegavam que os católicos ordenavam sacerdotes e bispos imorais.           Agostinho rejeitava esta visão, afirmando que bastava a ordenação não só para ser sacerdote como para ministrar os sacramentos, independente de sua moral. Tal visão fez do sacerdote um canal de graça, um intermediário, para os membros da Igreja.
          Sua defesa da igreja católica nesta controvérsia levou-o a justificar o uso da força para eliminar seus rivais. Ao ver a resistência donatista crescer, passou a aceitar o uso da força em questões religiosas. “O que parece atitude rude, pode levar o ofensor a reconhecê-la como justa” e “se o Estado usa tais métodos para seus propósitos desprezíveis, a Igreja não teria o direito de fazer o mesmo, e até mais, por seus próprios fins, muito mais elevados”? Agostinho não apenas aceitou como se tornou o teórico da perseguição; e sobre as suas justificativas, mais tarde, iriam se basear todas as legitimações, ou em melhores palavras, abusos da Inquisição.

Agostinho e Pelagio.
          Pelagio foi um monge irlandês, cujos ensinamentos provocavam ferrenha oposição de Agostinho, pois o monge negava que o pecado humano é herdado de Adão. Afirmava que o homem é livre para agir de maneira correta ou errada (livre arbítrio) e a morte não é conseqüência da desobediência de Adão (pecado original).           Este introduziu o pecado no mundo, mas apenas por seu mau exemplo, assim como Cristo é um bom exemplo a seguir, pois Deus não predestina ninguém a pecar e seu perdão é oferecido a todos aqueles que exercitam a fé. Pelagio não via necessidade do poder capacitador do Espírito Santo para ser perseverante como também não via necessidade do batismo de crianças, pois o batismo “lava” os pecados individuais e quem ainda não pecou, como no caso de crianças, principalmente os recém-nascidos, não precisa de batismo. A idéia do “limbo” para crianças mortas sem batismo nasceu com Agostinho que para este, as idéias de Pelagio tornavam a Igreja dispensável.
          Além do mais, a idéia do livre arbítrio para pecar ou não, ia de encontro com a incapacidade de Agostinho de resistir aos apelos sexuais a não ser por intermédio da graça de Deus. Agostinho necessitava do pecado original para justificar seu fracasso moral. Afirmava que o homem não tem força ou poder próprios, sua salvação depende inteiramente de Deus.
          Agostinho moveu um vigoroso ataque literário contra o Pelagianismo. Em 419, os pelagianos foram banidos pelo imperador Honório, e em 431 foram condenados pelo Concílio Geral da Igreja, realizado em Éfeso.

          Tentando resolver a sua angustiante contradição entre o «crescei e multiplicai-vos» e o ato sexual impuro necessário à multiplicação, como também permitir a reprodução sem prazer sexual, Agostinho, bispo de Hipona, tal qual um ex-fumante que não suporta sequer o cheiro de cigarro, ou ex-libertino que se tornou puritano, cria sua doutrina sobre o casamento, o sexo e a privação carnal. Coloca a sexualidade e a mulher como algo maligno, perverso e de vício. Depois de Agostinho, o sexo passou a ser associado ao pecado, onde o mal disfarçado de serpente, levou a pecaminosa Eva a afastar a Terra dos Céus e de Deus. Diante das “Evas”, os pobres homens estão indefesos.
          Agostinho, bispo de Hipona, conhecido por Santo Agostinho, foi o gerador da mentalidade medieval e o ideólogo da união entre Igreja e Estado e mais tarde, justificativa aos abusos da Inquisição.
          Mas como a vida não acaba na morte física, Agostinho teve deveras oportunidades, nestes 1500 anos que se passou desde sua encarnação como bispo de Hipona para se aprimorar, se autoconfigurar até alcançar o mérito de se pronunciar como um dos Espíritos na Codificação de Allan Kardec. Com um discurso mais aberto e de acordo com a nova Doutrina que surgia, Agostinho discorre sobre caridade, mundos de expiação e de regeneração bem como honrar pai e mãe em várias passagens do Evangelho Segundo o Espiritismo como também no Livro dos Espíritos.
          Demonstra a construção moral de um Espírito, em uma jornada evolutiva contínua entrelaçada à religiosidade e ao ensinamento moral, caracterizando seu projeto político pedagógico pessoal.
          Como espírito desencarnado, a importância de Agostinho pode ser avaliada nas comunicações que foram inseridas na Codificação Espírita e na Revista Espírita.
          Agostinho é exemplo de que o aprendizado, a mudança de mentalidade, a evolução, é caminho aberto e possível a todos, sem exceção.
Algumas frases de Agostinho, demonstrando sua ambigüidade e conflito interno, enquanto bispo de Hipona:

"Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você."

"Dai-me a castidade; mas não ainda." (frase dita por Santo Agostinho quando ele entendeu que tinha que se converter, mas ainda não tinha coragem).

"Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me adulam, porque me corrompem".

“No Céu dizem Aleluia, porque na Terra disseram Amém”.

“Ninguém pode ser perfeitamente livre até que todos o sejam."

"Não há riqueza mais perigosa do que uma pobreza presunçosa."

“Quando estiver em Roma, comporta-te como os romanos."

"É impossível que haja habitantes do outro lado da Terra, já que nada é dito a esse respeito nas Escrituras sobre os descendentes de Adão."

"O mundo é um livro, e quem fica sentado em casa lê somente uma página".

"Casar-se está bem. Não se casar está melhor."

"Obedecei mais aos que ensinam do que aos que mandam.”

"Uma vez ao ano é lícito fazer loucuras".

"Quando rezamos falamos com Deus, mas quando lemos é Deus quem fala conosco."

"Se queres conhecer a uma pessoa, não lhe perguntes o que pensa, mas sim o que ela ama."




          Como curiosidade, Agostinho é padroeiro dos teólogos, cervejeiros e impressores, além é claro, dos agostinianos, como o Papa Bento XVI.














Imagem: fidei-depositum.blogspot.com



SIMONE SIMON PAZ
Enviado por SIMONE SIMON PAZ em 22/09/2009
Reeditado em 08/04/2012
Código do texto: T1825830
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