Passadinha na zona de conforto

Há muitos anos, desejei ter um trabalho que eu gostasse. Tive muitos empregos temporários desde a minha adolescência, a contragosto do meu pai, que preferia que eu apenas o ajudasse em seus serviços rurais e estudasse. Por azar, eu detestava terra. Por sorte, eu adorava estudar.

Como em todo momento de dificuldade ou de desconforto da minha vida, eu sempre tentava encorajar a mim mesmo pensando num grandioso futuro. E trabalhei para isso. Lancei metas grandiosas, pensei no caminho que eu deveria percorrer, busquei as informações, tomei as providências, esforcei-me o máximo que pude, criei as causas compatíveis com os efeitos desejados e aprendi a esperar o momento certo para o resultado se manifestar (pois a ansiedade e angústia teimam em nos invadir).

Os anos foram passando e as conquistas se acumulando. Afinal, as grandes vitórias são o conjunto das pequenas.

E então, recentemente, houve um dia em que eu acordei em uma cama confortável, na minha ampla casa, tomei um banho quente e um delicioso café da manhã, vesti boas roupas, peguei meu carro novo e parti para o meu trabalho. Um trabalho que eu adoro, que eu lutei para conseguir e por merecer.

No caminho, me dei conta de que estas coisas relativamente simples que citei eram exatamente o oposto do que eu vivia há muitos anos atrás, quando eu não tinha nada disso e o que eu mais queria era conforto.

Instantaneamente, senti meus olhos embaçados e as lágrimas percorrendo a minha face, coisa rara de acontecer. Na maioria das vezes o choro não me vem, fica entalado, engasgado, só na vontade.

Fiquei emocionado por me dar conta do quanto minha vida se transformou e do quanto sou feliz hoje. Essa consciência fez brotar em meu coração uma profunda gratidão – pela minha família que sempre me apoiou incondicionalmente, pelo mestre que tive a sorte de encontrar nesta existência e pela vida (porque um dia também já desejei morrer).

Logo percebi que aquele momento que eu vivia era uma “zona de conforto”, com duas possibilidades a se seguirem. Primeiro, acomodar-me eternamente nesta situação. Segundo, partir para o próximo desafio.

De fato, fazia pouquíssimo tempo que eu havia entrado nessa zona de conforto e demorou menos tempo ainda para eu sair dela... Foi só uma passadinha mesmo.

Como disse o professor Jossei Toda, mestre do meu mestre, “não avançar é o mesmo que retroceder.” O comodismo é mesmo vergonhoso. E não é preciso ir muito longe para buscar desafios. Eles surgem à nossa frente. Basta escolhê-los e enfrentá-los, sem fugir. Basta cumprir a missão que se descortina à nossa frente.

Eis a fase que estou vivendo. Feliz pelo caminho já percorrido. Grato pelos resultados que colho no presente. E empunhando com coragem a espada para vencer a dura batalha de cada dia, porque aprendi com o sábio Nitiren que “uma espada será inútil nas mãos de um covarde”.

(Catalão, 26/08/2009)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 29/08/2009
Reeditado em 30/08/2009
Código do texto: T1782042
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