RESUMO BIOGRAFIA DE MARIA DA CRUZ ROCHA
Filha de Antônio Martins da Cruz e Filomena Vieira Lima Cruz, nasceu em Santa Maria da Vitória-Bahia, no dia 16 de dezembro de 1917. Aos nove anos de idade foi para Petrolina-PE onde deu continuidade a seus estudos, no Colégio Salesiano – Dom Bosco, administrado por freiras italianas. Em 1932, aos 15 anos de idade, formava-se como professora. Para aprimorar seus dotes, estudou ainda; pintura, piano, flauta, entre outras atividades culturais.
No período da Revolução, 1930, o Colégio recebeu a visita dos interventores: tenentes Juracy Magalhães, Juarez Távora e outros três oficiais, além do capelão da Armada; que foram recepcionados no Colégio em uma apresentação, na qual contou-se com a participação de 150 alunas, que desfilaram com seus uniformes oficiais, bastões e arcos. Naquele momento, Maria, com apenas 13 anos de idade, fora indicada por Ir. Bibiana Marcial, para saudar as autoridades visitantes, já que o regulamento do Colégio não permitia que as freiras falassem em público e teve unanimidade em sua indicação, no corpo docente e discente, pois todos conheciam o dom de oratória da pequena Maria da Cruz . A notável e pequena estudante falou de improviso com tal eloqüência, que ao término do evento, fora suspensa nos braços, pelo capelão, e aplaudida com entusiasmo por todos os presentes.
Em razão da pouca idade para receber o diploma de professora, veio da Capital, Recife-PE, um inspetor de educação, Professor João Vital, a fim de analisar seu currículo e conceder ou não, a autorizar, para que o Colégio Salesiano conceder-lhe a diplomação, ou se manteria por mais um período de estudos, porém o resultado da inspeção, que sabatinou e analisou o curriculos escolar da Maria da Cruz, pelo Professor Vital, foi aprovação com louvor.
Depois de sua formatura seguiu para Salvador-BA onde pretendia fazer o curso de Farmácia, seu grande sonho. Porém naquele ano, o seu pai teve muitos prejuízos com a seca que assolou a região do oeste baiano, onde situa-se Santa Maria da Vitória e todo o comércio de pequenos e grandes fazendeiros fora afetado. Se pai não pode dar continuidade a seus sonhos, já que os irmãos mais velhos já estudavam na Capital, um fazia medicina e outro odontologia. A ela, por ser a mais nova e ter mais tempo para dedicar-se aos estudos, em outra oportunidade, foi dado um tempo, afim de que as finanças se restabelecessem.
Nesse meio tempo, fora nomeada professora do Distrito de Mocambo. Naquela ocasião, por lei, toda professora formada era obrigada a lecionar no interior do município, para só depois ser transferida para a sede do municipio. Ressalte-se que Dona Maria Cruz, hoje popularmente conhecida como Dona Zinha, foi a primeira educadora formada de Santa Maria da Vitória.
Em Correntina-BA, residia uma tia, irmã de seu pai, a Srª. Isabel Rodrigues Coimbra, casada com o Sr. Miguel Soares Coimbra, Capitão Miguelzinho, pai da lendária Vivi, outra grande figura de nossa história. Em 1934 se dera então o primeiro contato registrado, na cidade vizinha. Correntina era um polo cultural de referência na região, destacava em suas festas tradicionais, bailes monumentais e apresentações teatrais e foi em na Sede da Sociedade Teatral de Correntina, mais tarde chamado apenas de Cine Teatro de Correntina, que Maria da Cruz, acompanhada de seus tios e primas, fora assirtir uma peça de teatral que estava em cartaz, naquele inesquecível fim de semana. Da plateia Maria viu emocionada a cena em que um moço esbelto, de cabelos pretos e lisos, pulara a janela em chamas, entrava em cena para salvar a sua amada, desmaiada em meio ao fogo!. -
- “Estou aqui Maria para te salvar...”,
Dizia o jovem esbelto, cabelos lisos e negros, rosto fino e de olhos atentos. Na emoção de reviver a história, Dona Zinha nem se lembrou de nos revelar o nome daquele personagem, mas na vida real era o jovem Helvécio Alves Rocha.
- Este homem é um heroi e será o meu namorado !
No impeto da emoção, Maria não se conteve e gritou levantando-se na platéia... Sem dúvida que foi um momento hilárico, onde as atenções, no palco e na platéia, se voltara para Maria. O zum zum zum atrás dos bastidores e os cochicos ao pé do ouvido nem imaginavam que nascia naquele instante uma grande historia de amor. Certamente o ti... ti... ti... foi assunto pra mais de uma semana, sem que muitos não entendesse o que acontecia na platéia, com risos, comentários e indagações de quem seria aquela belamorena que se emocionou com a cena antes mesmo do fechar das cortinas.
Não fora apenas uma emoção momentânea, o coração de Maria continuava pulsando forte, descompassado em meio a emoção de ter encontrado o seu eleito e no intervalo da peça, correu até os bastidores do teatro e se apresentou para o jovem ator e daí começou o namoro com Helvécio da Rocha, que mais tarde viria a ser o seu esposo. Casaram três anos depois, no dia 25 de setembro de 1937, na igreja matriz de Santa Maria da Vitória, passando a chamar-se MARIA DA CRUZ ROCHA. Dessa união, nasceram onze filhos, sendo que somente seis sobreviveram: Luzinete, Léa, Helmar, Osmar, Dinorá e Auristela. A família cresceu e em 2007 já passava de 12 netos e 16 bisnetos.
Com certeza o fato teve o envolvimento e aprovação das familias, que se aproximaram uma da outra e vendo convicção de Maria e o envolvimento dos jovens que se corresponderam, passo a passo foi se dando rumo ao altar e em 1937, se consumou, aquele homem, aquele heroi, tornou-se o seu marido.
Em 12 de novembro de 1993, recebeu o Titulo Honorifico de Cidadã Correntinense, proposto pelo então vereador Sr. Calmon Matos. Vários filhos ilustres de Correntina passaram por suas mãos de educadora; muitos deles fazem questão de enaltecê-la como professora, tendo alguns a generosidade de citá-la em Tese de Doutorado, como fez o Antropólogo Dr. Altair Sales França Barbosa, o ilustre correntinense que partindo muito cedo de Correntina, não abandonou suas raíses e tornou-se a maior autoridade em conhecimento sobre o Cerrado Brasileiro.
Carinhosamente a professora passou a ser reconhecida por seus alunos e amigos como Dona Zinha. Zinha de Seo Helvécio. Ela abraçou Correntina como se sua fosse terra natal e durante 33 anos esteve à frente das escolas do municipais, primeiro como professora, depois por muitos anos como delegada escolar, uma expécie de consultora que tinha por missão fiscalizar a qualidade de ensino e fazer a inteiração entre professores, pais e alunos. Fundou Escola Duque de Caxias, em funcionamento até os dias de hoje; atuou até o ano de 1967, quando enfim aposentou-se.
Em 1979, com o falecimento de seu esposo Helvécio, foi para Salvador passar uma temporada com seus filhos que se mudara para Capital. Retornando a Correntina anos mais tarde, pois o estado de saúde e psicológico, receitava o retorno a terra que tanto amava; mas não ficou por muito tempo, em 1996 retorna a Salvador ficando na capital por uma década e quando pensavamos que não mais a veriamos, ela mais uma vez retorna para matar a saudade dos verdes campos do lutar, rever os filhos e netos da grande familia que se dividiu entre a capital e o interior, (Correntina, Santa Maria da Vitória, Santana e Salvador) . O coração não sabia mais onde ficar, pois a saudade vai sempre a frente do lugar onde não estamos e quando lá chegamos ela muda de lugar... Foi nesta ocasião que tive a grande oportunidade de encontra-la, falar com ela, dedicar-lhe um livro (Memórias em Poesias) no qual lhe presto esta homenagem de reconhecimento e gratidão.
Foi no dia 06 de janeiro de 2006, enquanto Correntina ainda escutava o rufar dos tambores e gaitas de pifo dos festejos de Santos Reis, Dona Zinha retorna com a promessa de ficar. A festa não parecia ser uma tradição aos Magos Reis, mas ao retorno de nossa benemerita educadora. Infelizmente não durou muito a alegria do retorno e na falta de quem dela cuidasse; aos 91 anos de idade, no ano 2008 eu tive a notícia que ela retornara para Salvador, talvez agora sem a possibilidade de retornar. Foi uma parrtida melancólica, relatou-me minha mãe, sua comadre e amiga de longas datas, era uma despedida sem retorno, enfatizou-me minha Laurina, onde parentes e amigos fieis fizeram questão de estar presente na quele momento de despedida.
Na alma o pressentimento de não tornar mais a ver sua terra querida.... na alma o prazer do dever cumprido, no reconhecimento das dezenas centenas de filhos educados, pois para Dona Zinha, cada aluno, foi como um filho.Hoje, residindo em Salvador, ela resiste a saudade e a tudo que que diz respeito a Correntina.
Fica aqui o nosso agradecimento Professora, nosso reconhecimento eterno a querida mestre, por tudo que sempre há de representar para tantas sementes que você espalhou pelo caminho, elas germinaram, cresceram e frutificaram, fazendo com sua história entrasse para este livro virtual, aberto para o mundo.
Jamais vamos nos esquecer de suas sabias lições.
Flamarion Costa
_________
Colaboração: Auristela Cruz Rocha