Quem poderia supor ou imaginar um dia ficar em cima de uma cama por tempo indeterminado à mercê dos caprichos de uma doença rara, pouco conhecida e que deixa a gente tetraplégico da noite para o dia? Pensava estarrecida como viver vegetativa ou ficar soterrada viva. Interromper abruptamente meu trabalho, planos e projetos. Cancelar sonhos, desacelerar todas as expectativas, se povoar de medos, não ter nenhuma esperança. É perder a noção, a identidade e mesmo a dignidade.

Mas o ser humano tem uma força interior estranha, muito superior e que nos surpreende. Quando a gente acha que está tudo acabado, brota uma vontade imperiosa que emana do cérebro, não do coração. Uma necessidade de se mexer, levantar e andar. A certeza de que vai acontecer a qualquer instante. Que nada é impossível, basta querer. Nao nasci assim, não sou assim, não vou morrer assim. Arrogância? Não. É sobrevivência. Pode ser que tem quem se entregue. Outros preferem lutar. Descobri que sou dessas.

Ainda assim temos que enfrentar o preconceito, o descaso e o egoísmo. Tudo isso se potencializa quando estamos fracos e vulneráveis. Deve ser parecido com a vítima de sequestro que fica em pânico e submisso as vontades do seu sequestrador. Assim é nos hospitais. Pacientes e enfermeiros. Paciente bom é paciente quieto, que não se queixa. É o pavor da retaliação. É tão escabroso o que fazem que não vale a pena detalhar. Para que? Não vim denunciar nem protestar. Já há quem o faça. Cabe a mim só ressaltar ao meu relato o quanto isso foi relevante e pesado para não sair do meu assunto: superação.

O primeiro passo é não se revoltar contra Deus. Segundo, esvaziar-se de orgulho. Limpar a mente dos rancores e mágoas, perdoar e compreender tanto quanto possível. Isso abre um enorme espaço na alma e na mente. Ficam mais leves. Não é um processo difícil quando se está a um passo do nada. Tudo que é negativo é anulado pelo zero absoluto. Tudo que é negativo aumenta o batimento cardíaco e faz respirar mais rápido. Eu respirava por aparelho, o ' bird', e minha cota de oxigênio era limitada aquele compasso monótono e indiferente aos meus sentimentos.

Precisava pensar coisas boas ainda que a enfermeira estivesse com raiva me dando tapa para eu parar de babar. Não fiquei boazinha nem santa. Ainda perdi o controle muitas vezes e o ar rareava me levando a extrema gravidade. Entendi que eu tinha que me manter serena. Estudei mais sobre a doença. Tem cura. Isso também me deu mais sentido de domínio do que ser dominada. Acima de tudo apelei para religião. Acredito em Deus e nunca questionei os mistérios dele. Muito mais que fé, tinha e tenho certeza da presença sua real. A única diferença é que está invisível.




'' Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece. '' Fil 4.13

'' A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração... Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.. Todo aquele que nele crer não será confundido. '' Rom 10. 8-11

Ladyrosso
Enviado por Ladyrosso em 31/05/2009
Código do texto: T1624091
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.