JOSUE MONTELLO SUA VIDA E SUAS OBRAS
Josué de Souza Montello nasceu no dia 21 de agosto de 1917, na cidade de São Luiz do Maranhão (MA) e faleceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 15 de março de 2006. Ocupou a cadeira nº 29 da Academia Brasileira de Letras por 51 anos. Iniciou seus estudos em sua terra natal, concluindo o seu curso secundário em Belém do Pará (PA). De lá, em dezembro de 1936, veio para o Rio de Janeiro onde se especializou em Educação. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Maranhão. Exerceu diversos cargos, entre os quais destacamos: Conselheiro Cultural da Embaixada do Brasil em Paris; Reitor da Universidade Federal do Maranhão; Professor de Teoria da Literatura da Faculdade de Letras Pedro II (FAHUPE); Embaixador do Brasil junto à UNESCO; e Presidente da Academia Brasileira de Letras. Foi fundador do Museu da República (Palácio do Catete - Rio). Recebeu, dentre outros, os seguintes prêmios: “Intelectual do Ano”, da União Brasileira de Escritores e da Folha de S. Paulo, em 1971, com a publicação de Cais da Sagração; “Personagem Literária do Ano 1982”- da Câmara Brasileira do Livro, de São Paulo, pelo seu conjunto de obra; Grande Prêmio da Academia Francesa, 1987; "Guimarães Rosa", de prosa, do Ministério da Cultura, 1998; e "Oliveira Martins", da União Brasileira de Escritores, pela publicação de Os inimigos de Machado de Assis, em 2000. Foi agraciado com medalhas e condecorações de vários países.
Dentre o vasto acervo literário deixado por Josué Montello, temos a obra Romances e Novelas publicado no Rio de Janeiro pela Editora Nova Aguillar em 1986, nesta obra o primeiro capitulo denominado CONFISSÕES DE UM ROMANCISTA trata da autobiografia de Josué Montello que foi jornalista, professor, romancista, cronista, historiador, ensaísta, orador, teatrólogo e memorialista, nasceu em São Luis do Maranhão, em 21 de agosto de 1917, numa casa que ainda hoje existe , na esquina da Rua dos Afogados com a Rua do Pespontão, às 4:30 horas da manhã, filho do casal Antonio Bernardo Montello e de Mância de Souza Montello.
Para Josué Montello, seu horário de nascimento serviu de referencia para o hábito de se levantar nesse horário para trabalhar durante toda sua vida,
“A CLARIDADE DE CADA NOVO DIA, QUANDO SAIU A ME ENCONTRARA COM ELA, SEMPRE TEVE PARA MIM O ENCANTO DA EXISTÊNCIA RENASCIDA” (MONTELLO, 1986).
Estudou em São Luis, na Escola Modelo “Benedito Leite”, onde cursou o primário e no Liceu Maranhense onde concluiu o secundário, destacando-se como o primeiro aluno de sua turma.
Seus Avós paternos são de Montese (Itália), próximo a Veneza, local onde se bateram os soldados brasileiros na 2ª Guerra Mundial, daí a referencia que o Marechal Mascarenhas de Morais fez a ele nas suas Memórias e a Josué Montello coube receber a espada de ouro do Marechal como Diretor do Museu Republica, quando a mesma foi doada ao acervo de relíquias históricas.
Miguel Arcângelo Montello avô paterno de Josué, foi criador de gado na Província do Maranhão, aqui chegando em 1852, como integrante de uma leva de imigrantes que o Dr. Eduardo Olimpio Machado, presidente da Província, fez mandar vir da Europa após a abolição do tráfico de negros africanos, fixando-se segundo o Almanaque do Maranhão de 1865 na localidade Vargem Grande, onde nasceu o pai de Josué Montello.
Pelo lado materno, é neto de português e brasileira, filha de índia, de uma prole de 8 filhos é o 5º filho varão, pois todos os anteriores foram mulheres, segundo suas memórias a ele foi dado a incumbência de preservar a índole religiosa do pai e seus dons de comerciante, assim muito cedo já dominava a leitura da Bíblia nos encontros da família, e sendo seu pai Diácono da Igreja Presbiteriana Independente de São Luis, no entanto a ele foi dada na juventude o direito de escolher que religião professar, embora para a família fosse interessante que se tornasse pregador, assim Josué Montello se expressa na dedicatória de suas Memórias:
“A MEMÓRIA DO MEU PAI ANTONIO BERNARDO MONTELLO, DIÁCONO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DE SÃO LUIS DO MARANHÃO, A QUEM DEVO ESTA LIÇÃO DE LIBERDADE: QUE EU PRÓPRIO ESCOLHESSE O MEU CAMINHO ATÉ DEUS”
Josué Montello foi um adolescente solitário e doentio “sou arvore de folhas estioladas, no mais alto esplendor da primavera”, assim ele se expressava, quando aos 15 anos teve que se afastar dos estudos para tratar-se de uma tuberculose, doença que dizimou uma de suas irmãs e dois tios, sendo no exílio forçado pela doença que se afirmar como leitor e futuro escritor, “o tédio está sempre à espera do romancista, aonde quer que ele vá”.
Estudou no Liceu Maranhense onde dirigiu o periódico “A Mocidade”, jornal acadêmico da juventude de sua escola, onde publicou seus primeiros trabalhos literários. Em 1932, aos quinze anos de idade foi integrado à Sociedade Literária “Cenáculo Graça Aranha”, na qual se congregavam os novos escritores maranhenses de filiação modernista. A partir desse momento até 1906, Josué Montello publicou seus trabalhos nos principais jornais maranhenses, notadamente na Tribuna, Folha do Povo e Imparcial.
Mudou-se para Belém do Pará onde publicou em colaboração com Nélio Reis, seu livro de estréia “História dos Homens de nossa História”. Foi eleito, aos dezoito anos membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, ainda na capital paraense colaborou com vários jornais e revistas, sobretudo o jornal Estado do Pará.
“A INTUIÇÃO DE UM ROMANCISTA É O DIAMANTE BRUTO QUE A VIDA VAI LAPIDANDO COM SUCESSIVAS EXPERIÊNCIAS DA PRÓPRIA VIDA”
No fim do ano de 1936, transferiu-se para o Rio de Janeiro, integrando a seguir o grupo dos intelectuais que fundaram o Dom Casmurro, semanário literário dirigido por Álvares Moreira, Montello colaborou neste semanário literário e ainda em outros como O Malho, o Careta e Ilustração Brasileira, além de publicar aos domingos nos jornais A Manhã, O Correio da Manhã, Diário de Noticias e Jornal do Comercio, tendo exercido ainda a critica teatral do Jornal A Vanguarda.
Em 1937, foi nomeado Inspetor Federal do Ensino Comercial, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, inscreveu-se no concurso de Técnico de Educação, do Ministério da Educação, com a tese "O sentido educativo da arte dramática", obtendo uma das mais destacadas classificações. Foi nomeado para o cargo em 1939. Em 1941, publicou seu primeiro romance, Janelas fechadas. Em 1943, foi professor do curso de Organização de Bibliotecas, do Departamento Administrativo do Serviço Público.
No ano seguinte, a convite do Dr. Rodolfo Garcia, diretor geral da Biblioteca Nacional, planejou a reforma geral de nosso principal instituto bibliográfico. Em 1944, instalou em bases modernas os cursos da Biblioteca Nacional, de que foi a princípio coordenador e a seguir diretor. Foi professor da cadeira de Literatura Portuguesa do curso superior de Biblioteconomia, logo a seguir.
Em 1947 foi nomeado diretor geral da Biblioteca Nacional. Ampliou-lhe a instalação; organizou em bases modernas as suas publicações; iniciou a divulgação das principais peças iconográficas da instituição, instalou o serviço de microfilmes; dotou-a com o primeiro serviço de laminação Barrow que se instalou no país para a conservação de documentos; fez restaurar algumas de suas coleções mais valiosas, como a de gravuras originais de Albert Duhrer.
Ainda por sua iniciativa, promoveu na Biblioteca Nacional as primeiras grandes exposições em moldes modernos, a primeira das quais, a Exposição Goethiana, contou com o patrocínio da Academia Brasileira de Letras. Exerceu, cumulativamente, a direção do Serviço Nacional do Teatro.
Em 1946, a convite do governo do Maranhão, fez o plano da reforma do ensino primário e normal do Estado, que a seguir se converteu em lei. Ao tempo da interventoria de Saturnino Belo, exerceu o cargo de secretário-geral do Maranhão. Em 1953, a convite do Itamaraty, inaugurou e regeu por dois anos a cátedra de Estudos Brasileiros da Universidade Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, no Peru. Organizou, no correr de sua atuação na mais antiga Universidade do continente, a primeira Exposição de Livros Brasileiros que se realizou no Peru. Em 1954, recebeu da mesma universidade o título de seu Catedrático Honorário. Em 1955, o Teatro Universitário da Universidade de San Marcos, por iniciativa do diretor Pedro Jarque y Leiva, iniciou a temporada com a peça O Verdugo, especialmente escrita por Josué Montello para o mesmo teatro. A partir de 1954, tornou-se colaborador permanente do Jornal do Brasil, no qual manteve uma coluna semanal até 1990, e das publicações da Empresa Bloch, sobretudo na revista Manchete.
Em 1956, exerceu o cargo de subchefe da Casa Civil do Presidente da República. Em 1957, convidado pelo Itamaraty, regeu a cátedra de Estudos Brasileiros, na Universidade de Lisboa e em 1958, regeu a mesma cátedra na Universidade de Madri. A convite do Instituto de Cultura Hispânica, ministrou um curso sobre literatura brasileira na Cátedra Ramiro de Maeztu.
Organizou e instalou o Conselho Federal de Cultura, sendo o seu primeiro presidente, em 1967-1968, e membro até 1989, quando o Conselho foi extinto. De 1969 a 1970, foi conselheiro cultural da Embaixada do Brasil em Paris. De volta ao Brasil, organizou e instalou o Museu Histórico e Artístico do Maranhão, onde empreendeu a reforma e instalação da nova Reitoria. De 1985 a 1989, foi embaixador do Brasil junto à UNESCO.
De janeiro de 1994 a dezembro de 1995, ocupou a presidência da Academia Brasileira de Letras, realizando uma ampla reforma administrativa na quase centenária Casa de Machado de Assis.
“NÃO SOMOS NÓS QUE ESCREVEMOS É A LINGUA QUE ESCREVE POR NÓS, COMO SE ANTECIPAR AO QUE PRETENDEMOS EXPRIMIR”.
Prêmios recebidos: Prêmio Sílvio Romero de Crítica e Histórica, da Academia Brasileira (1945); Prêmio Artur Azevedo de Teatro, da Academia Brasileira (1947); Prêmio Coelho Neto de Romance, da Academia Brasileira (1953); Prêmio Paula Brito de Romance, da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro (1959); Prêmio Fernando Chinaglia de Romance, do Pen Clube do Brasil (1967); Prêmio Intelectual do Ano, da União Brasileira de Escritores e das Folhas de São Paulo (1971); Prêmio de Romance da Fundação Cultural de Brasília (1972); Prêmio de Ficção da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1978); Prêmio Nacional de Romance do Instituto Nacional do Livro (1979); Prêmio Personagem Literária do Ano 1982, da Câmara Brasileira do Livro, de São Paulo, pelo seu conjunto de obra; Prêmio Brasília de Literatura para conjunto de obra "1982", da Fundação Cultural do Distrito Federal (1983); Prêmio São Sebastião de Cultura, da Associação Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro (1994).
A obra construída por Montello até aquele momento de sua carreira é assombrosa, pois abrange uma significativa variedade de meios de expressão - do romance ao teatro, do artigo jornalístico ao ensaio histórico. Sua prosa é elegante e fluída, passando ao leitor aquela enganadora sensação de ter sido escrita de forma ligeira, fácil, sem esforço aparente. Sua sólida formação intelectual se faz sentir em todos os ensaios e artigos, sempre permeados por análises precisas, argutas e diretas, ao passo que nos romances e peças teatrais a fina sensibilidade do artista impõe uma intensa abordagem psicológica das trama se dos personagens.
A quantidade de títulos lançados por Montello é também motivo de espanto, ainda mais quando se leva em consideração o fato de que o autor se ocupava de várias outras atividades que não apenas a literatura, e mal havia chegado aos 38 anos de idade. Seus muitos lançamentos alcançam repercussão nacional e as premiações se acumulam: Prêmio Silvio Romero de Crítica e História, recebido em 1945; Prêmio Arthur Azevedo de Teatro, da Academia Brasileira, 1947; e o Prêmio Coelho Neto de Romance, da Academia Brasileira, em 1953. No dia 04 de novembro de 1954, é eleito para ocupar a Cadeira nº. 29 da Academia Brasileira de Letras - figurando como o mais jovem integrante daquela instituição em toda a sua história. É a consagração, mas está longe de ser o ápice de sua carreira literária. Por outro lado, sua consumada competência administrativa vale o convite para ocupar o cargo de subchefe da Casa Civil da Presidência da República em 1956, início da era JK. No ano seguinte, é designada pelo Itamaraty para reger a cátedra de Estudos Brasileiros da Universidade de Lisboa, função que desempenha com o brilhantismo de sempre - tanto que o Instituto de Cultura Hispânica leva-o para a Espanha, onde ministra um curso de literatura brasileira na Universidade de Madri.
Em suas obras encontramos citados grandes nomes, entre estes, Gonçalves Dias, Odorico Mendes, Sotero dos Reis, Sousândrade, João Francisco Lisboa, Assim como médicos, bispos, padres, presidentes de província, professores, desembargadores, etc.
É o Maranhão narrado por entre becos e ruas famosas, como a Rua dos Afogados, Rua do Oiteiro, Rua do Passeio, Rua do Mocambo, Rua Grande. É a São Luís de beiral no telhado, de ruas longas e estreitas. São os Largos, o do Carmo, o do Santiago, o do Desterro, até mesmo o Cemitério do Gavião em suas obras é lembrado. Lembra ainda o Portinho, a Praia do Caju e o Cais da Sagração, as matracas do Caminho Grande, do Anil e da Maioba por cima das cantigas de bumba-meu-boi. O Liceu Maranhense também ganha uma atenção especial. É um passado/presente que nestas obras se constitui.Um passado que Montello traz com o uso da memória, de forma a fazê-lo presente.
É na construção deste passado/presente que Montello ergue sua representação sobre o Maranhão.
Para tanto, trabalha espaços distintos, desde São Luís, a Alcântara, até às fazendas do interior. Neste universo, tem-se representado sobre um imenso saudosismo a época de grande prosperidade maranhense de até meados do século XIX e, em contraponto a esta, um Maranhão decadente que tenta reerguer-se já no século XX composto por uma sociedade que se vê incipiente, impossibilitada de exibir-se com a riqueza de outrora.
De aristocrática, opulenta e opressora, torna-se esta sociedade melancólica. A Alcântara de tantos sobradões e fachadas torna-se propícia a assombrações, já que entre os vazios das ruas restam apenas os fantasmas dos antigos barões e escravos.
Tem-se assim, trabalhada a saga da aristocracia maranhense envolta da idéia de decadência que perpassa o contexto de Noite Sobre Alcântara.
Montello lembra ainda o vazio da Praia Grande, que mostra as transformações sofridas pela cidade, estas transformações do espaço lembrada em Cais da Sagração dão um significado à história, é pois a memória recompondo a paisagem de São Luís.
A saga maranhense construída sobre a visão de mundo de Montello, não se limita à decadência da aristocracia maranhense, mas também dedica-se à construção do imaginário sobre o negro em sua luta contra a opressão desta aristocracia encontrado em Tambores de São Luís.
Assim, lembram-se os instrumentos repressores, o feitor, a chibata, a palmatória e ainda as proibições de festas e fandangos, até mesmo a forca na Praça da Alegria. A opressão versus luta pela liberdade, expressa a escravidão no Marantello.
Neste imaginário, a dependência da aristocracia maranhense em relação ao trabalho escravo não se esconde, tendo projetado nas linhas destes romances toda a sua ruína após a abolição. São as fazendas empobrecidas transformadas em taperas com antigos barões e viscondes a desfalecer-se ao não suportar desfazer-se de seus últimos bens.
Não podemos deixar de ressaltar também as inúmeras referências que Montello dedica a Donana Jansen que é transpostas para seus livros cercadas pelas lendas que até o presente envolvem sua pessoa neste Maranhão. Tal representação construída em torno desta comerciante e latifundiária deixa transparecer a sociedade aristocrática e cruel que se impunha.
Montello encontra-se ainda atrelado à literatura tradicional, como pudemos demonstrar no decorrer deste trabalho, portador da ideologia da decadência, constrói o enredo de Noite Sobre Alcântara. Traz também consigo outras visões que estará norteando sua visão de mundo, a exemplo de Meireles e Viveiros, seja na forma de ver o Maranhão, a sociedade aristocrática nele presente, seja em suas contextualizações, elitizações e dicotomias.
Utilizando-se de todo o seu saudosismo romântico, Montello constrói imagens deste Maranhão, de opulento a decadente. Sobrevive o Maranhão entre reerguimentos e falências, glórias e ruínas. Fica então a memória como expressão de um desejo de retorno ao passado de glórias, efemérides e feitos heróicos.
Sempre em busca de novos desafios, Montello não perde o fôlego com o passar dos anos: organiza e instala o Conselho Federal de Cultura e o Museu Histórico e Artístico do Maranhão, é conselheiro cultural da embaixada do Brasil em Paris, fundador e reitor da Universidade Federal do Maranhão, embaixador do Brasil junto a UNESCO e presidente da Academia Brasileira de Letras.
Afável no trato, de conversa fácil e finamente articulada, ele foi um homem forjado pelo tempo e por si próprio - algo raro de acontecer em qualquer lugar ou época, e que por isso mesmo torna lendárias figuras dessa estirpe. Suas qualidades pessoais, assim como as artísticas, eram muitas e variadas, e o amor que devotava ao Maranhão, simplesmente comovente - tanto que sua terra natal é o grande cenário de quase toda a sua obra ficcional.
Integrando um dos mais férteis períodos da literatura brasileira posterior à semana de Arte Moderna, chamado de ciclo do romance nordestino, Montello, ao contrário da grande maioria de seus colegas de geração, voltou-se para o romance citadino ao estilo de Machado de Assis. Dessa forma, valendo-se de um estilo clássico e sumamente elegante de escrever, ele reconstrói com maestria e densidade psicológica toda a arquitetura de vida de um tempo que passou, como bem se vê em sua indiscutível obra-prima, Os Tambores de São Luís, de 1975 - o grande romance brasileiro sobre a escravidão.
Josué Montello foi membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; membro da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão ( último ocupante vivo da cadeira de nº 6, que hoje estou assumindo); da Academia Internacional da Cultura Portuguesa (de Lisboa); da Academia das Ciências de Lisboa; da Sociedade de Geografia de Lisboa; da Academia Portuguesa da História (de Lisboa); da Association Internationale des Critiques Littéraires (de Paris); sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Brasília e do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.
A macro-visão que Josué Montello tem da História do Maranhão fez com que ele escrevesse uma obra que no conjunto, é um mega romance sobre o Maranhão. Obra densa, ousada, arrojada que segue que como um mapa os contornos e meandros da Ilha de São Luis, detalhando ruas, avenidas, becos, escadarias, casarões, sobradões, solares, ruínas, apogeu e glória.
Sob essa ótica, a obra montelliana tem aquele olhar que abrange três tipos de romances: num primeiro plano está o do romance de caracteres, voltado para o perfil historiográfico; no segundo plano, o romance de análise psicológica, bem ao estilo de Machado de Assis e num terceiro plano, o romance de fluxo de memória. As três maneiras de ele intuir o romance estão mais claramente delineadas nas obras Cais da Sagração, Os tambores de São Luis e Noite sobre Alcântara.
É nessas obras monumentais que podemos coteja-lo entre os grandes construtores da obra romanesca universal contemporânea, trilhando caminhos que pinçam experiências das melhores conquistas de Sterne, Xavier de Maíistre e Machado de Assis, desdobrando-se nos pretextos utilizados por Günter Grass e Gabriel Garcia Márquez, utilizando-se da teoria científica, usando o particular para alcançar o universal.
Josué Montello foi e é um dos maiores contadores da História do Maranhão, antes dele poderemos dizer que o Maranhão não tem memória, depois dele, devemos dizer o Maranhão tem história, pois o mesmo, fazendo a revolução estética do romance moderno como o fez Gabriel Garcia Márquez em Cem Anos de Solidão, Machado de Assis em Dom Casmurro, Quincas Borba, Memórias Póstumas de Brás Cubas e o O Alienígena e Gunter Grass em O Tambor, sua experiência não se constitui uma cópia, mas uma recriação dentro da visão mais contemporânea do aspecto paródico, ou seja, uma maneira peculiar de orquestrar ou tornar alegórico, certos mitos e arquétipos, como fala Manoel dos Santos Neto escritor maranhense nosso contemporâneo, quando relembra os 30 anos de lançamento da primeira edição dos Tambores de São Luis.
Com ele a história é narrada com descontinuidade, utilizando a técnica do flash-back, a ação podendo se desenvolver as avessas, ou seja , a técnica que permite ao romancista começar a contar a história pelo final e finalizar pelo começo ou por no meio o começo; o fim no meio e o meio no fim, com os avanços e recuos da ação na história dos homens, digressões, progressões e interpolações de São Luis do Maranhão com suas “polidas pedras, estreitas ruas, velhas torres, vosso sono é longo e atento: tu guardas, feitos, memórias, nomes; guardas gemidos de escravos; fome de liberdade entre dores; guardas os passos firmes e eternos dos santos e poetas maiores como Josué Montello. (adaptação do poema Vozes de Bandeira Tribuzi).