Não havia previsão para sair do CTI. Do pouco que se sabe da doença, média é de quatro meses, acabei ficando dez longos meses antes de ir para o quarto. Tinha que continuar acoplada ao meu amigo BIRD, o respirador artificial, como se fosse um cordão umbilical. Só poderia ir para o quarto respirando naturalmente, o que foi um marco de dificuldade e felicidade depois.

A volta para o quarto foi uma aventura de recém-nascida sendo dada à luz. Foi maravilhoso rever o céu e as nuvens correndo acima dos meus olhos enquanto me empurravam na maca. Mais feliz ainda num quarto amplo, só para mim no quarto andar. Tinha uma janela grande que dava para céu aberto e muitas montanhas que eu contemplava emocionada e grata a Deus de poder respirar livremente novamente. Nunca mais o gelo do CTI, nunca mais fechada entre quatro cortinas pesadas de plástico.

Contando assim, sintetizado, omito o longo e doloroso processo que foi, para evitar aqui termos médicos maçantes  que já nem vem mais ao caso. Mesmo para não entristecer este relato, prefiro me ater ao lado positivo da minha recuperação. Longe ainda de um final feliz, pois a paralisia não tinha tido quase nenhuma melhora.

Levei para o quarto o medo de dormir ainda. A porta tinha que ficar aberta o tempo todo e eu monitorada por enfrmeiros de plantão dentro do quarto. Eu tinha crises de falta de ar. Com o tempo os médicos viram que era muito psicológico. Trauma de CTI, dependência do BIRD. Eu estava viciada com crises de pânico ainda. Esgotada e sem dormir, ficava olhando o céu a noite toda. Estava tão sensível que via sinais em tudo, desde o formato das nuvens até o pouso de um passarinho na janela, tudo me emocionava. Estava na hora de me dar remédio para dormir. Resistente, acordava pior, com mais falta de ar. Desistiram. Eu tirava uns cochilos e ficava melhor.

Isso tudo conto dois anos e meio depois de tudo que passei, escritos nesses oito capítulos até aqui. Ainda tem mais porque ainda estou imóvel num leito de hospital digitando só com um dedinho, mas muito orgulhosa, saibam. Não busco ser atração, mas escrever tem sido uma terapia excelente, mesmo que triste. Também pode não ser biogafia, mas um diário ou blog sei lá. Talvez interesse aos que já passaram por isso e busquem apoio e força para se superarem, como tento, pela fé, até hoje e sempre.

Ladyrosso
Enviado por Ladyrosso em 14/05/2009
Reeditado em 14/05/2009
Código do texto: T1593979
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