DO PRIMEIRO EMPREGO SEMPRE LEMBRAMOS

Com dezoito anos, Dindinha disse que estava na hora de me arranjar um emprego. Fui trabalhar na Pfizer Corporation, uma multinacional de medicamentos. Minha tarefa entre outras, era somar ao final de cada dia, todos os valores emitidos nas notas fiscais. A máquina de calcular era daquelas de manivela. Por mais que eu me esforçasse, os valores das notas nunca batiam com os valores da máquina. Meu chefe, muito competente, refazia todos os cálculos e teimava em me ensinar, mas não tinha jeito. Aquilo estava me deixando estressada. Ir ao trabalho estava se tornando um calvário, mas deixar o emprego, nem pensar! Uma noite, comi algo que me fez mal. Então, sonhei que estava com uma grande dor no estômago, isto porque os tipos de máquina de calcular estavam brigando dentro de mim. Eu ouvia nitidamente o tec-tec das teclas batalhando no meu estômago. Acordei assustada, com dor no estômago mesmo. Conclui que se não largasse o emprego acabaria ficando louca. Mas não foi preciso pedir demissão. Terminado meu período de experiência, meu chefe chamou-me em seu escritório. Elogiou minha assiduidade e pontualidade, mas disse que eu não me adaptaria à máquina de calcular. Foi um alivio! Nunca alguém deve ter se sentido tão feliz ao ser mandado embora de um emprego. Desci as escadas do escritório de dois em dois degraus e sai para a rua, livre, leve e solta que nem um passarinho. Até hoje, detesto máquinas de calcular! Meu segundo emprego foi na Lobrás-Lojas Brasileiras. Eu amava! Não precisava vender nada, só orientar clientes que pareciam perdidos na loja.

Também trabalhei algum tempo na Mesbla, uma loja famosíssima na época. Eu era vendedora e tinha que disputar clientes com vendedores mais espertos e calejados. Foi outro emprego que detestei, não tinha nenhuma habilidade para engabelar clientes. Cheguei à conclusão de que se tivesse que vender coisas para sobreviver eu morreria de fome. Ainda bem que fui mandada embora! Até hoje, continuo sem habilidade para vender seja lá o que for.

Depois da Mesbla, fui trabalhar em uma loja de roupas masculinas. Minha tarefa era preencher as fichas de potenciais clientes para aprovação do crédito. Era algo mais interessante. Um belo dia, preenchia a ficha de um tal Leonilson Azedo Kaneco. Pensei comigo mesma: bem que poderia ser Leonilson Kaneco Azedo. Fiquei com aquilo na cabeça. Depois de ter a ficha aprovada, eu chamei em alto e bom som: Leonilson Kaneco Azedo. O tal aproximou-se da minha mesa e com olhar furioso disse que não era Kaneco Azedo e sim Azedo Kaneco. Eu não pude agüentar o riso. Por pouco não fui mandada embora de novo. Depois disso ainda trabalhei como telefonista em uma fábrica de alumínio. Trabalho chato e desinteressante! Não demorei muito por lá.

Conceição Gomes