MANUEL SALVADOR SOBRINO CARRERA

NOTA EXPLICATIVA.

Uma forma de homenagear - mais uma vez - a meu pai. Publico uma de sus muitas obras. A BIOGRAFIA de meu avô.

Manolo foi para ele, o que ele é para mim. Um exemplo de vida!

Manolo soube, sem sobra de dúvbidas, semear boas sementes.

m b sobrino

Prefácio

Abrindo as páginas que a este seguem, quero dar uma razão para o registro de um personagem que, para mim, representou mais que a figura do pai biológico.

Manuel Salvador Sobrino Carrera, foi muito mais. Sua herança ficou gravada pela figura do homem que, atravessando as fases da infância, adolescência e da juventude sempre adversas, perseguiu um ideal, a de ser mais que um “campesino” ou, na melhor das hipóteses, um “artesão”.

Sem cultura, dado a razões da sua criação, imigrou em busca de maiores oportunidades, para o BRASIL.

Não pode ser desassociada a figura da que foi sua esposa, companheira de quase 50 anos, JOSEFA PRIETO SOBRINO que embora do mesmo tronco familiar, pois era neta de JOSÉ BERNARDO SOBRINO LOPEZ, encontrou outras facilidades em sua criação.

As condições sociais de JOSEFA, lhe permitiram uma educação mais aprimorada. Seu pai, Carabineiro, vivia em constantes transferências, como Comandante dos Postos de Fiscalização Aduaneira, nas fronteiras. A jovem JOSEFA, exercitava-se como professora dos filhos dos Militares que serviam com seu pai.

Creio que tenham começado o romance que os levou ao Altar, muito jovens e quando MANUEL SALVADOR saiu da terra em direção ao BRASIL, já tinha assumido, com o noivado, o compromisso nupcial. Que o tenha levado a dedicar-se, longe da terra e com dificuldades, a progredir profissionalmente e aculturar-se para, assim, diminuir as diferenças sociais entre eles.

hermínio prieto sobrino

A BIOGRAFIA de

MANUEL SALVADOR SOBRINO CARRERA

I - I N T R O D U Ç Ã O

Aos sete dias do mês de fevereiro do ano de mil oitocentos e setenta e seis, em uma casa sem número na “Calle del Castillo”, Villa de LA GUARDIA, Província de Pontevedra, na Região da Galicia, Espanha, nascia MANOEL SALVADOR SOBRINO CARRERA, segundo filho do terceiro casamento de JOSÉ BERNARDO SOBRINO LOPEZ, natural de LA GUARDIA, com MARIA LUIZA CARRERA ALVAREZ, natural da Villa de SAN MIGUEL, “L ROSAL”, Província de Pontevedra, Região da Galícia.

Neto por linha paterna de BENITO SOBRINO e MARIA JUANA LOPEZ, naturais de LA GUARDIA e, por linha materna, de SALVADOR CARRERA e CASILDA ALVAREZ, naturais de Villa de San Miguel “El Rosal”, Província de Pontevedra, Região da Galícia.

O primeiro filho do terceiro casamento de JOSÉ BERNARDO, foi JOSÉ SOBRINO CARRERA, nascido no dia 19 de março do ano de mil oitocentos e setenta e quatro. Foram, ainda, seu irmãos por parte de pai, do primeiro casamento, MARCELINO; AQUILINO e BENIGNA

Com três meses do nascimento e em conseqüência de alguma infeção originada pelo parto, falece MARIA LUIZA, deixando órfãos JOSÉ e MANOEL SALVADOR. Este completa sua primeira fase de alimentação, em substituição ao leite materno, com “sopinhas de vinho”, produto dos vinhedos da “Quinta” da família.

JOSÉ BERNARDO era um homem rústico e o seu convívio com os filhos foi sempre muito austero e quanto a educação escolar destes, constituia rotina relegada a segundo plano. Era objetivo e esperava que os filhos, crescendo, se tornassem aptos para o trabalho, contribuindo para o sustento familiar. E, assim, transcorreu a infância de MANOEL SALVADOR e de seus irmãos. Como dito, a escola para os filhos, não estava nas prioridades de JOSÉ BERNARDO.

MANOEL SALVADOR e JOSÉ (MANOLO e PEPE, como eram chamados na intimidade) foram criados, na falta da mãe, por uma tia, irmã de MARIA LUIZA, carinhosamente tratada por “Tia MARIA ROSA” que, segundo o noticiário, não foi a quarta esposa de JOSÉ BERNARDO, por ter o Pároco da Aldeia se recusado a uni-los em matrimônio, visto serem compadres. Ela teria sido madrinha de um dos filhos da irmã, a falecida MARIA LUIZA. Pior a emenda que o soneto. Segundo as más línguas, “Tia MARIA ROSA” não tendo se tornado a esposa “de Direito” o era “de Fato”.

II – Onde se encontram os acontecimentos da família e a história da Espanha

Abre-se aqui um parêntesis para a contemplação da história da Espanha no Século XIX, o chamado “Periodo Contemporâneo”, que inicia para os espanhóis, no dia dois de maio de mil oitocentos e oito, a luta pela independência. As hostes Napoleônicas haviam invadido a Península Ibérica a fim de consolidar o seu domínio e facilitar o assédio à Inglaterra. Aprisionam em Bayona CARLOS IV, que morre em 1808 e FERNANDO VII que o sucede. Expulsam de Madri toda a família Real. NAPOLEÃO, nomeia seu irmão JOSÉ BONAPARTE Rei da Espanha e os espanhóis estabelecem na Ilha de LEON, Cadiz, o Conselho da Regência. Em 1813, Madri já liberta dos franceses e abrigando novamente a Corte, é Promulgada a NOVA CONSTITIÇÃON ESPANHOLA.

FERNANDO VII morre em 1833 e assume o governo monárquico, Dona MARIA CRISTINA DE BORBON, sua esposa, como Regente, vez que, a filha sua sucessora, ISABEL, é menor. Em 1843 aos 13 anos é proclamada sua maioridade e assume o trono como ISABEL II. Além das guerras intestinas na luta pela Coroa, em que se chocam os CARLISTAS que defendiam a sucessão para Dom CARLOS, e os que defendiam ISABEL, respectivamente, irmão e filha de FERNANDO VII, a Espanha militarmente enfraquecida com a invasão francesa, assiste nas Colônias Americanas o movimento separatista de guerrilheiros como, SIMON BOLÍVAR e SAN MARTIN, entre outros. Perde as Colônias Americanas, ficando apenas com Cuba e Porto Rico, cedendo, ainda, em pagamento de dívidas de guerra, o Território da Flórida aos Estados Unidos da América do Norte que ficam com o controle do Golfo do México e passam a apoiar as aspirações de independência de Cuba.

Em 1868, ISABEL II, sentindo o desprestígio popular e das forças políticas, aproveita estar de férias e se interna na França, abdicando ao trono em favor de seu filho AMADEU que, por ser menor, fica sob a tutela de seu tio o Duque de Montpensier que passa à Regência da Coroa.

Em 1873, depois de estabelecida a maioridade, já como Rei, AMADEU I, enfrentando convulsões internas e a luta separatista de CUBA, é levado à abdicação. Isto permite a Proclamação da efêmera REPÚBLICA que vai de 1873 a 1875, quando é restabelecida a monarquia e proclamado Rei, Dom AFONSO XII, filho de AMADEU I.

III - Voltando à vida de José Bernardo

As guerras internas e separatistas, encontram JOSÉ BERNARDO servindo às Forças Reais como “Armeiro”, função que consistia na restauração de armas cansadas pelo uso. Nessa fase incorre em crime militar, reciclando fuzis em proveito próprio. Julgado por uma Corte Marcial é condenado à morte. Aguardando a execução da pena, já na chamada “CASILLA” , ou seja, a atual “Câmara da Morte” é, por ocasião do aniversário da Rainha ISABEL II , por ato de clemência desta, indultado.

Avançamos ao ano de 1895. A Espanha está sob o governo de Dona CRISTINA DE HABSBURGO que, com a morte de AFONSO XII, assume a Regência, visto a menoridade do herdeiro ao trono. Nesse ano, estala nova guerra separatista de Cuba, desta vez com apoio bélico dos Estados Unidos.

A mocidade espanhola é chamada às armas. Os que podem, não respondem ao chamado. Entre estes encontramos MANOLO, na época com 19 anos que, pelo fato, é considerado insubmisso.

Em 1898, a Espanha aceita as condições de paz impostas pelos Estados Unidos, assinando o desastroso “Tratado de Paris”. Entrega ao vencedor a Ilha de Porto Rico, as Ilhas Filipinas além de reconhecer a Independência de Cuba. Desmorona completamente o Império Colonial da América e Oceania.

Em 1902, assume o trono espanhol como Rei, AFONSO XIII

Voltando à infância e juventude de Manolo

Voltamos à infância e juventude de MANOLO. JOSÉ BERNARDO, como já dito, era um homem rude e objetivo. Os filhos do primeiro casamento já tinham tomado rumo. MARCELINO, imigrara para o Brasil. Exercia a profissão de cozinheiro e, como tal, passara alguns anos embarcado em navios mercantes brasileiros ou exercendo a profissão em terra. AQUILINO, ainda na Aldeia, já casado com DOLORES, exercia a profissão de sapateiro. BENIGNA, casa-se com ANICETO, Sargento do Corpo de Carabineiros ou Corpo de Infantaria da Marinha. Base que estaciona nas fronteiras e exerce a fiscalização aduaneira. Desse casamento nascem, JOSEFA, a futura esposa de MANOLO; ANICETO; VICENTE (falecido aos quatro anos). BENIGNA; AMPARO; ELVIGIA e AURORA.

PEPE e MANOLO, cresceram sob os cuidados da Tia MARIA ROSA e com a idade entre os 13 a 17 anos, trabalhavam na temporada de verão nas chamadas “telheiras”, no fabrico de telhas e tijolos. Trabalho duro, principalmente para MANOLO que era franzino e não muito saudável. PEPE, mais robusto era o seu “Anjo da Guarda”, dava-lhe cobertura. Passada a temporada, regressavam à casa com o dinheiro ganho e, aguardavam a próxima temporada. Nessas férias de inverno é que MANOLO aproveitava para acabar de se alfabetizar e procurava aprender um ofício que lhe permitisse ganhar algum dinheiro e livrá-lo da “Telheira” de onde escapou de morrer soterrado pelo desabamento de um barranco. Mas, à época, para alguém aprender um ofício, tinha que pagar ao “mestre”. O ofício de ”sastre” (alfaiate) foi o que lhe despertou a atenção e para o qual, encontrou quem lhe desse as primeiras lições, pagas com as parcas sobras da temporada.

Depois do acidente que quase lhe custa a vida, MANOLO e o irmão PEPE, resolvem não mais voltar àquele trabalho. PEPE, com suas economias resolve e vem encontrar MARCELINO, já radicado no Brasil. Naquela época, comprava-se uma passagem de navio, para o Brasil ou outro qualquer país Sul Americano, na hora em que se resolvia a viagem. Eram ausentes as burocracias atuais.

V - Rumo ao Brasil

O tempo se escoa e MANOLO, já rapaz formado, vai progredindo na aprendizagem mas, com o incidente de sua insubordinação ao chamado às armas, corre o risco de ser preso e submetido a um julgamento militar e condenado, pois não ocorrera qualquer ato de indulto. Isto o leva a definir sua vinda para o Brasil e juntar-se aos irmãos MARCELINO e JOSÉ (PEPE) que o esperavam. Seu escopo: trabalhar e juntar o suficiente para, de volta à terra, concretizar o casamento, compromisso assumido com JOSEFA, filha de sua irmã (por parte de pai) BENIGNA e seu cunhado ANICETO.

Chegado ao Rio de Janeiro, se emprega em uma empresa atacadista de tecidos, como “garçom”. Ao tempo, as grandes empresas davam aos empregados, casa e comida. Assim, nosso herói estava amparado e capacitado, com suas economias, a realizar seus sonhos, inclusive, estabelecer sua família voltando à LA GUARDIA onde o espera a eleita.

A distância não arrefecera o romance que era alimentado com farta troca de correspondência. Aqui, lembra-se um fato até certo ponto muito engraçado. As cartas e cartões postais eram escritos em código cifrado. As silabas eram dispostas sobre um cartão com janelas colocadas assimetricamente e girado à medida que se esgotavam cada uma das posições. Resultado: um emaranhado de silabas sem nexo vedava a curiosidade da Aldeia de LA GUARDIA onde, nessa altura morava JOSEFA. Era uma frustração geral.

VI - Volta à Espanha – O Casamento

Prematuramente, falecem BENIGNA, em 18 de outubro de 1907 e ANICETO já em 1908, pais de JOSEFA que passa a residir com os tios AQUILINO e DOLORES. Isto precipita os acontecimentos, eis que, MANOLO tem que resolver o problema da família. Embora persista a ameaça de prisão pela insubmissão, pois como já dito, não ocorrera ato de anistia pelos crimes de guerra, MANOLO volta à Espanha e com a ajuda de AQUILINO e DOLORES, faz os preparativos para o casamento. Passa a viver na clandestinidade na Aldeia de LA GUARDIA. Denunciado à Comandância e posta em perigo sua liberdade, refugia-se em um vilarejo português, junto a fronteira. A partir desse episódio, sua vida dá material para um drama de televisão. Em evasivas incursões noturnas mantêm contato com os familiares. Com a cumplicidade do Pároco da Aldeia, à meia noite do dia 7 de setembro de 1908, presentes apenas os padrinhos, a Tia DOLORES (cunhada) e o irmão AQUILINO, na Igreja da Villa de LA GUARDIA, às escuras, recebem os noivos as bênçãos do Sacramento do Matrimônio. Em seguida, em fuga, atravessam a fronteira portuguesa com destino à cidade do Porto de onde, depois de alguns dias, embarcam no vapor Aquitânia, de bandeira inglesa, rumo ao Rio de Janeiro.

VII - De Volta ao Brasil - Desenvolvendo-se a família

Quando MANOLO partiu para a Espanha e casar, não era mais garção mas, sim, Contra Mestre Alfaiate. Em todo o período que precedeu sua volta à Espanha de onde saiu pouco mais que alfabetizado, tornou-se “autodidata”. Sua diversão era a leitura, a boa leitura onde prevaleciam os clássicos autores espanhóis e os de língua portuguesa. Discutia com propriedade e laborou com cuidado a sua presença entre os patrícios de influência na Colônia, freqüentando seus meios sociais. Como eram destacados os de prestígio lhe era, também, conferido o título de “DOM”.

Da constância matrimonial, chegaram os filhos:

MARINA, em 29 de maio de 1909;

MANOEL SALVADOR, em 12 de maio de 1910;

JOSÉ, em 09 de junho de 1911 e

HERMÍNIO, em 31 de maio de 1915, dia em que JOSEFA completava 32 anos. MANOEL SALVADOR e JOSÉ, foram registrados , respectivamente. Em 14 de maio de 1910 e 18 de junho de 1911.

Nasceram todos, com a Benção Divina, gozando boa saúde e cresceram apenas enfrentando as chamadas doenças da infância. Quando do nascimento do último filho, depois de um intervalo de 4 anos, o casal MANOLO e PEPITA (como era chamada carinhosamente pelo esposo) teve uma desilusão pois, esperavam uma SÔNIA e lhes chega mais um varão. Na época não havia recursos que possibilitassem, por antecipação, conhecer o sexo dos “encomendados”.

MANOLO queria que os filhos tivessem uma vida bem melhor da que lhe dera o pai. Vê-los saudáveis e, sobre tudo, formados não poupando sacrifícios para que freqüentassem a escola em qualquer nível e, desde que não o quisessem, pelo menos, seguissem uma profissão, sem esquecer a sua na qual gostaria de ver algum deles seguindo-lhe os passos, empunhando uma tesoura de corte.

De modo amplo os filhos não lhe deram total satisfação no que diz respeito aos estudos e, tão pouco, quanto a profissão paterna. As mulheres na idade de MARINA, não tinham um acesso facilitado às faculdades. Desenvolviam seus dotes como futuras “donas de casa” ou escolhiam uma profissão compatível. Assim, MARINA, além de se ter preparado para tomar conta de uma casa, aprendeu o ofício de Chapeleira e, como tal, trabalhou em uma casa de modas. MANOEL SALVADOR, como comerciário, trabalhou algum tempo na Oficina com seu pai em serviços auxiliares. JOSÉ (PEPE), também não queria nada com os livros, gostava mais de trabalhos manuais como, mecânica, eletricidade, rádio. HERMÍNIO, chegou a dar alguma alegria como estudante e, por algum tempo, tentando aprender o ofício do pai. Este compreendeu que não era o caminho exato para o filho. Que seguisse outro já que fora uma vez contrário a sua pretensão, seguir a carreira da aviação militar, considerada, por ele, perigosa.

VIII - O Profissional

Como profissional, MANOLO era um perfeccionista. Trabalhou muito tempo como empregado, na época muito bem remunerado. Quando seu último patrão, dono de uma Oficina, soube que CARRERA, como era chamado MANOLO, havia recebido um convite para trabalhar em outro local, com algumas vantagens, rápido ofereceu-lhe sociedade e assim, passou à categoria de comerciante. Ótimo negócio para seu ex patrão, visto que ele não era conhecedor do ofício e sabia que sua clientela mantinha-se graças ao profissional que tinha como empregado e que, certamente, o acompanhariam em outro local.

Os anos se sucedem e, por volta dos últimos da década de 20, o Brasil, como o mundo atravessava séria crise financeira afetando as atividades empresariais de um modo geral. MANOLO, sentiu no bolso os efeitos da crise pois, seu sócio, fez sentir a necessidade de comprimir as despesas, o que foi feito, atingindo de pronto as retiradas “pró-labore” . Foi quando MANOEL, seu filho, que trabalhava nos serviços auxiliares, examinando os livros e documentos contábeis, comprovou que o sócio de seu pai, desviava receita favorecendo-se diretamente deixando, inclusive, de pagar aos fornecedores e que esse alcance os estava levando a completa insolvência. Chamado a dar explicações, o sócio, confessou choroso a sua culpa. Procurados os credores para uma composição, estes, cientes de tudo o que ocorrera, fizeram uma imposição. Fariam um desdobramento dos débitos e continuariam com a mesma linha de crédito desde que CARRERA, que eles sabiam capaz, assumisse o compromisso de pagar-lhes e seu sócio se retirasse do negócio. Este aceitou sem qualquer restrição, deixando seus haveres na empresa por conta do desfalque cometido. Assim, surgiu a firma M.S.CARRERA. Em relativo tempo e muito trabalho, foram honrados os compromissos assumidos perante os credores, ampliando-lhes a confiança e conseguindo dos mesmos, o crédito que o acompanhou até deixar de trabalhar.

A vida em família foi sempre de perfeita união. Os filhos cooperavam para os compromissos domésticos e, inclusive, JOSEFA que, em casa, trabalhava como Coleteira, também para outros alfaiates e na confecção de vestidos para uma clientela amiga.

IX - Desdobramento familiar

Entramos logo no periodo do desdobramento da família. Os filhos partem para constituir sua independência familiar.

Em 07 de setembro de 1933, quando MANOLO e JOSEFA comemoravam as “Bodas de Prata”, casa-se MARINA; em 31 de dezembro de 1936, contrai matrimônio JOSÉ (PEPE) e, quatro anos após, em 31 de dezembro de 1940, é a vez de HERMÍNIO. MANOEL SALVADOR, conserva-se solteiro.

Em 1950, aos vinte nove dias do mês de junho, a família é atingida pelo oposto à vida. Depois de breve enfermidade, MANOEL SALVADOR (filho) deixa o “vazio” no coração dos pais. Mas, a vida é uma dinâmica. Depois deste último acontecimento, os filhos concluem que já é tempo para que seus pais gozem um descanso merecido. MANOLO já atingiu a casa dos 70 e JOSEFA, para lá caminha. Pressionado a parar, MANOLO começa a dispensar sua clientela e, apenas como distração atende alguns renitentes amigos-clientes, dilatando o seu romance com as ferramentas do ofício. Diga-se, como ilustração, que a sua clientela se constituía, na quase totalidade, de pessoas que o acompanhavam desde o tempo em que era empregado e o consideravam como um amigo.

X - A aposentadoria

Final e definitivamente, cedendo às pressões de seus filhos, MANOLO, liquida todos os compromissos. O casal deixa a casa em que residiam e reuniam a família, principalmente, nos almoços domingueiros e vai morar com HERMÍNIO, em uma casa no Meier. Um vasto terreno com árvores frutíferas, jardim florido e muitas travessuras dos netos, passam a ser o passatempo do casal. MANOLO recebe com freqüência a visita de seu irmão PEPE que lhe traz com a presença e o bate papo que se estende sem hora para acabar, as recordações da infância, passando pelas travessuras comuns à idade e alcançando as estripulias da mocidade. Riem das façanhas e se sentem presentes àqueles acontecimentos. Geralmente, PEPE, o Tio PEPE, como o chamamos, passa alguns dias com o irmão.

Algumas vezes invertem, MANOLO é quem vai passar alguns dias com o irmão em Anchieta.

Aos domingos a casa se enche com a presença dos filhos e dos netos. MANOLO se distrai durante a semana cuidando das galinhas que lhe dão trabalho na distribuição do alimento que consiste, principalmente, nos restos de legumes e cascas de frutas que, com cuidado, são picadas antes de jogadas para deleite das aves, isto, além da ração balanceada. Tem, ainda, a amizade de um possante cão policial que atende, paradoxalmente, pelo nome de “Tiquinho” em contraste com seu porte. “Tiquinho” não dá confiança a muita gente. Faz respeitar o seu tamanho, sua origem e suas responsabilidades, mas, MANOLO, tem lugar certo em seu coração e em sua “servilidade” canina.

A vida calma e tranqüila transcorre sem maiores incidentes mas, em 1956, sofre MANOLO, pesado golpe. Perde para a eternidade o seu amado irmão PEPE. O choque o abala profundamente e a tristeza se estampa em seu semblante e lhe dobra os alicerces físicos.

Apesar de seu magro porte era, pelo menos aparentemente, saudável. Raras vezes procurava assistência médica. Frugal na alimentação, dizia sempre para os filhos à guisa de advertência: “ao levantar-me da mesa de refeições, tenho sempre lugar para mais algo”. Para lembrar-se de sua infância e de sua criação, não dispensava às refeições, a sua dose de vinho, hábito que considerava saudável permitindo aos netos, por vezes, com ele bebericar.

XI - Cedem as bases

Foi com surpresa geral que, na manhã de 2 de janeiro de 1958, JOSEFA alertou que MANOLO se sentia mal, não podia urinar o que lhe causava dores na região pélvica. Levado incontinente para a Beneficência Espanhola , foi socorrido, sendo-lhe aplicado uma sonda para fluir o líquido urinário. Submetido a um exame, constatou o médico, o pior. Processo canceroso lhe obstruia a bexiga e comprometia a próstata. Dado ao tipo de tumor, sua extensão e, ainda, a idade, os médicos não indicam a cirurgia e diagnosticam um processo de rápida evolução e desenlace.

Em 7 de fevereiro, hospitalizado, MANOLO completa 82 anos. Em 7 de setembro, comemoraria suas “Bodas de Ouro”, acontecimento que aguardava com ternura. Mas, para ele, o SENHOR reservava outro destino, o da SUA presente companhia. E, assim, aos treze dias do mês de abril do ano de mil novecentos e cinqüenta e oito, partia feliz para outra dimensão e encontrar-se com aqueles que o tinham precedido.

Para os que ficaram, restaram-lhes as “saudades” e os exemplos que deixam “Os Grandes”.

JOSEFA, lhe sobreviveu, cercada pelo carinho dos familiares, curtindo suas lembranças, por mais 17 anos. Partiu, em busca do companheiro, em 8 de agosto de 1975.

BIOGRAFIA: Segundo os dicionários é o relato da vida de ALGUÉM, contada por ALGUÉM .

Não só a imagem de personalidade celebrada pela história fica registrada para a posteridade, marcada, indelével, nas letras do papel.

A importância desse registro, também, está na razão direta do que possa representar o B I O G R A F A D O para quem traça o seu perfil e para aqueles que o lerem.

MANOEL SALVADOR SOBRINO CARRERA - MANOLO -, representa para este que o retrata, a figura de um ”herói”, não plasmado em campos de batalha mas, sim, pela fibra com que conquistou a HERANÇA que deixou para os seus descendentes com base triangular em três virtudes:

AMOR - GARRA - HONESTIDADE