A parada respiratória

O pior estava por vir no mesmo dia, mas ninguém podia imaginar o que eu tinha. Na emergência, deitada me senti melhor. Fiquei no repouso conversando com minha irmã, quando os enfermeiros vieram me buscar de ambulância para o CTI e fazer exames de rotina.

Abismadas, nos olhamos em silêncio, com medo, pensando o que é isso de exames de rotina no CTI ? Submissas e assustadas entre sirenes, macas e olhares indiferentes, só me lembrei de dizer baixinho '' tchau,céu '' como se adivinhasse que demoraria muito tempo pra ver uma nuvenzinha.

Nunca vira um CTI, só em filmes, confesso que estava curtindo, mas não tem banheiro, mesmo que eu pudesse andar, é proibido levantar. As opções eram embaraçosas, preferi '' prender ''...

Eu estava achando tudo meio exagerado, já que estava me sentindo bem melhor. Conversava com todo mundo enquanto esperava o médico e os tais exames. Veio o lanche. Achei perfeito, mas descobri que eu não consegui segurar a xícara.

A enfermeira me deu um canudinho. Não consegui sorver o café também. De repente, faltor ar. Não conseguia respirar. Abri o bocão buscando ar e os olhos esbugalharam de pavor me debatendo furiosamente de um lado pro outro, o corpo todo retorcia desesperada buscando ar. Está difícil escrever sem me emocionar e revivendo tudo isso. A sensação era como estar no fundo da piscina e acaba o ar do pulmão, sabe. Acho que todo mundo já sentiu isso. Mas eu simplesmente não consegui vir à tona.

Tentaram colocar a máscara de oxigênio que eu jogava longe. Aquilo me sufocava ainda mais. Disseram depois que quatro enfermeiros não conseguiam me conter tamanha fúria. Não sei quanto tempo isso levou, mas me pareceu uma eternidade.

Nem por um segundo pensei ser o fim de tão ocupada que estava buscando ar. Acordei toda entubada na boca e nariz, cheia de fios, sondas e soros. Tinha também um aparelho respirando por mim, o '' Bird '' que se tornou meu companheirão.

Nada disso me impressionou mais do que o fato que estava totalmente paraplégica. Pior, absolutamente ninguém sabia que eu estava lúcida e orientada, mas não podia me comunicar nem com olhares, nem fazia qualquer expressão facial.

Tive o que chamam de parada respiratória duas vezes porque aquela paralisia das pernas foi ascendente chegando ao diafrágma, pulmões e cabeça.

Só me restou a melhor comunicação de todas. Deus. O médico dos médicos seria meu único interlocutor e consolador. Foi uma sintonia tão perfeita que até hoje não sei se sonhei que morri e voltei, ou se estava lúcida o tempo todo.

Depois conto sobre o diagnóstico.

Ladyrosso
Enviado por Ladyrosso em 23/04/2009
Reeditado em 23/04/2009
Código do texto: T1556057
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