Formação continuada: ofícios, percursos, aprendizagem, trabalhos
Formação continuada: ofícios, percursos, aprendizagem, trabalhos
É o que se faz no percurso de uma vida, que pode dizer alguma coisa de cada um de nós.
O primeiro livro publicado foi Histórias de Ventania, contos encadeados uns nos outros, em 1990. Nessa época trabalhava no mestrado, e firmemente no consultório, no oficio de terapeuta, desde 1979.
Psicologia começou em 1974, quando sua filha menor tinha dois anos. Saindo da faculdade, entrou no Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae em 1979, onde se formou em psicanálise, em 1983. No curso de formação em psicanálise descobriu um outro Sedes, criado pela Madre Cristina, nos anos da repressão, na rua Ministro Godoy, em Perdises. (O primeiro, onde cursou a faculdade de geografia, ficava na rua Caio Prado, na Consolação).
Na Formação em Psicanálise teve professores fantásticos, brasileiros, portugueses, e os argentinos foragidos das ditaduras do Cone Sul. No Brasil começava o processo da abertura.
Na convivência com professores e colegas foi formada não apenas em psicanálise, mas, em ética e política, ganhando uma vivência e uma consciência política, que antes não possuia. Uma das professoras a quem mais se ligou, Mari Carpossi. Formou-se em Psicanálise em 1983. Atualmente pertence ao Departamento de Formação em Psicanálise, do Instituto Sedes Sapientiae.
Logo em seguida (1984) entrou na PUC- São Paulo, para cursar o mestrado. Foi no Departamento de Comunicação e Semiótica que encontrou espaço para seu pensamento. Lucia Santaella foi sua orientadora no mestrado e no doutorado.
No mestrado, seu objetivo foi construir para si, e para quem quisesse aproveitar, uma maneira de pensar as relações entre os campos nos quais trabalhava e que ainda trabalha, ou seja, a poesia, a psicanálise e a clínica psicanalítica. As interseções, encontros e diferenças entre suas práticas, seus ofícios.
Do mestrado resultou um livro publicado: "A palavra in-sensata, poesia e psicanálise". E do doutorado, "Corpo-de-sonho, arte e psicanálise".
No doutorado, procurou construir para si, e para quem quisesse aproveitar, não apenas uma maneira de pensar os campos nos quais trabalhava, mas uma maneira de viver, de usar e criar conceitos como ferramentas para sua vida e seu pensamento. ("Corpo-de-sonho" inclui o conceito de corpo de sensações, de corpo de estranhamento, entre outros. Em arte não há o familiar, há o estranhar, que cria uma intimidade, a partir do estranhamento. Em arte não reconhecemos, vemos pela primera vez, mesmo que o objeto já esteja aí. Há muito para se falar e discutir nesses aspectos.
Em "Corpo-de-sonho, arte e psicanálise", descobre que todas as formas de arte têm parentesco, e que essas são aparentadas com os sonhos, os mitos, as religiões, a sessão analítica, entre outras, e, no dizer de Suzanne langer, todas essas "são formas lógicas do sentimento humano".
Na ocasião do doutorado descobre que vivemos em estado de risco, pois, a vida não tem garantias. Se propôs, então, a viver e a experimentar aquilo que pensa. Para Accioly é possível integrar o que vivemos e o que pensamos. O conhecimento, assim, começa na experiência. O pensamento é parte do processo de viver. Construiu conceitos-vivências. Continua perseguindo estar na vida em estado de risco, sem a garantia de um saber suposto. Poderão ver um pouco disso em: “Arte, vida e psicanálise, e, a criação de conceitos”, publicado em sua página, em sua Escrivaninha, no Site dos Escritores.
Nunca deixando a clínica, ou o processo de escrever, coordenou várias oficinas de literatura e poesia. Para ela a poesia parte do concreto para o abstrato. Assim chamou as primeiras oficinas de : "Da sensação à palavra". As oficinas incluiam o que Accioly chama "de corpo de sensações". As sensações são imateriais, porém palpáveis, e contam bastante para quem as percebe, e delas toma consciência. Nas oficinas de poesia trabalhou com material plásticos, música, movimentos e percepções corporais. Por isso, "da sensação à palavra".
Mais tarde, descobriu que poesia é primordialmente uma maneira de conhecer a nós mesmos, ao outro, ao mundo, e também nossas relações com o dentro e o fora. A poesia é uma das maneiras de estar na vida. Um entre outros diferentes jeitos de viver. As oficinas ganharam, então, o nome: "O que é a poesia?"
Essas oficinas foram apresentadas de 1990 a 2004 para vários grupos de pessoas, em congressos, na cidade de São Paulo, em vários lugares do Brasil, e no exterior. Durante um semestre, em 2000, trabalhou com adolescentes do Centro Comunitário Monte Azul, comunidade organizada na Favela Monte Azul. Eram adolescentes que frequentavam as oficinas profissionalizantes _ padaria, marcenaria, reciclagem de papel, costura e serralheria. Os jovens se reuniam todos os dias com seu coordenador, que cedeu as quartas feiras para encontros com Eliane Accioly.
Em 2003, coordenou oficinas em escolas mexicanas, durante dez dias, na região de Mixteca, em vários pueblos, chegando até Oaxaca. Também no México, apresentou seus poemas em Português e Espanhol: em escolas, igrejas, praças públicas, teatros. Em Espanhol, a leitura dos poemas era feita por poetas de língua espanhola.
Nesse ínterim, lançou vários livros, participou de inúmeras antologias. Fez parceria imorredoura com Tânia Diniz, sua editora, de Mulheres Emergentes Ed.Alternativas, Belo Horizonte. E amizades no mundo literário. Cita aqui Olga Savary.
Escreveu artigos para revistas de literatura e de psicanálise, resenhas, foi resenhada, entrevistada. Está no livro de Silvia Anspach, Arte, cura e loucura _ uma trajetória rumo à identidade individuada, no capítulo III, “Identidade (feminina?) no país da literatura: Marina Colasanti, Clarice Lispector e Eliane Accioly Fonseca”, 2000, São Paulo, Annablume. Está também em dicionários de literatura, como Afrânio Coutinho e Nelly Novaes Coelho.
Por volta de 2003 descobre o desenho, ou o desenho a encontra. Persegue o processo de se aprimorar no desenho e outras artes plásticas. Encontra (ou é encontrada) pelos "ATRAVESSADORES", personagens, que se encontram no site Mural do Escritores, em fotografias e textos, em outros espaços da internete, e em trabalhos que produziu. Alguns foram fotografados por Rogério Albuquerque.
Freqüentou a oficina de Dalton de Luca, e está freqüentando a oficina de Sergio Fingerman, ambos, artistas plásticos e mestres.
Assim, experimenta, frequenta, transita por diferentes universos: a clínica, a literatura, a psicanálise, as artes plásticas, a pesquisa acadêmica, que ainda persegue, fora da universidade. Não pretende retornar `universidade, para Eliane, é seu momento de estar na vida, com o que a vida lhe apresenta e solicita.
Tem um fascínio pela vocalilidade como Paul Zunthor, medievalista, pesquisador e romancista chamava as tradições orais: o campo da voz humana. PZ dizia que não há um homem, mas, inúmeros homens, tanto nos tempos históricos, como nas diferentes geografias. A voz humana será, então, plural e campo de diversidade.
Na escrita, na vida, na clínica, e em todo seu trabalho, Eliane Accioly se ampara na força da tradição oral. A narrativa para ela, cura, o que se poderia chamar _ função de Sherazade. A narrativa é um dos instrumentos que usa no consultório: Escutar e narrar histórias. Quando escutamos e contamos histórias, não estamos sozinhos, estamos com pelo menos um outro. Ou, outros. A função de Sherazade implica não apenas em narrar, mas em presenças corporificadas.
Teve uma companheira de consultório por trinta anos, Alicia Carmem Raul Brasileiro de Mello. Foram colegas e se conheceram no curso de formação em psicanálise, no Sedes. Alicia era argentina. Aprendeu com Alicia muito de ser argentina, e Alicia, por contraponto, aprendeu com Eliane de ser brasileira. Alicia é parte intrínseca de sua formação. A formação de alguém é continuada, nunca se esgota. Enquanto estamos aprendendo continuamos vivos.