Da minha vida

Os dias vão passando e como uma parede formada de tijolos a vida também vai tomando forma. Tudo levado ao forno quente...

Meus dias são como tijolos, às vezes saem bem trabalhados, por vezes deformados nos dias de muito frio, que vem acompanhados de tristeza.

As alegrias fazem com que os tijolos, virem obras primas e as tristezas fazem com que eles passem a ser meros borrões secos formados de lama.

Meus dias ultimamente estão recheados de dor. Mas não é uma dor que traz tristeza. Traz apenas saudade. E a saudade que me faz lembrar dias cheios de alegria, cheios de amor, e isso faz com que minha vida se ilumine.

Tristeza cheia de luz? Estranho mas não impossível. Pra mim não existe nada impossível. O impossível é apenas um detalhe que existe na vida e perfeitamente desprezível.

Como o famoso aleijadinho, que modelava seus dias com dores e um cinzel, transformando pedra-sabão em lindas esculturas, eu vou modelando minha vida com marteladas e facadas no coração, por causa da saudade do vivido e do que ainda não vivi. Assim meus tijolos, minhas obras, vão tomando forma.

Por vezes olho de longe para a obra prima que minha vida se tornou. Como todos os artistas plásticos, eu também passo por fases.

Observo minhas obras lindas, perfeitas e impecavelmente corretas, no prumo e no nível. Não me alegro tanto com estas.

Fico feliz, muito feliz realmente quando vejo que anterior às obras mais belas da minha vida, sempre há massas disformes e asquerosas, obras que não são nada mais do que borrões imperfeitos e escuros, que podem causar desde espanto até pavor.

Minha felicidade advém do fato de que elas foram apenas rabiscos para as obras primas que viriam.

É por meio das tristezas que lapido e supero as mesmas, transformando-as em esboços da felicidade e alegrias completas.

Faço , desfaço, formo e transformo.

Sou toda dor, saudade e amor.

Milena Campello
Enviado por Milena Campello em 17/02/2009
Código do texto: T1443475
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