EU AMO ESTA MULHER...

Escrever biografias é algo surpreendente e faz um bem tremendo para o ego, seja do escritor, seja para o vulto; se bem que também escrevemos biografias de canalhas, facínoras e monstros indesejáveis para a sociedade normal, mas isso é outra história. Eu gosto, sobretudo, de pesquisar e escrever sobre as boas pessoas que ainda estão desfrutando de nosso convívio, e se este alguém pertencer ao mundo musical, isso me deixa ainda mais extasiado.

A música deveria estar mais presente em minha vida, afinal de contas, eu conheço e convivi bem próximo a nomes de importância máxima para a cultura do Brasil; também tive a honra de escrever sobre grandes nomes da música internacional e de ter um artigo daqui do Irregular publicado na página oficial de uma destas estrelas, caso específico do Scorpions; mas hoje eu vou voar para Mindelo, lá nas ilhas de Cabo Verde na África atlântica, pertinho da Europa e ex- domínio português; em Cabo Verde se fala um dialeto próprio que muito se assemelha ao nosso português e é de lá que eu encontro com a Diva das Divas, a voz das vozes, a história incorporada numa mulher linda e cheia de luz chamada CESÁRIA ÉVORA. Costumo dizer que jamais alguém fará algo similar a suas músicas e jamais alguém se ousará a imitá-la, isso tudo por um motivo simples, Cesária Évora é singular, única, exclusiva e maravilhosamente TALENTOSA.

Cesária Évora, também conhecida como a “Diva de pés descalços”, nasceu em Mindelo – Cabo Verde em 27 de agosto de 1941; não há de negar que ela é a maior estrela de sua terra em toda a história do país; o gênero musical com o qual ela é majoritariamente relacionada é a "morna", típico em seu país, por isso também recebe o apelido de "Rainha da morna".

Cesária Évora nasceu no ano de 1941 na cidade de Mindelo, em Cabo Verde, tinha mais quatro irmãos; seu pai Justino da Cruz tocava cavaquinho, violão e violino e sua mãe, Dona Joana, trabalhava em cozinhas de brancos (ricos) que - particularmente - adoravam sua comida. Sua mãe, de personalidade pensativa, foi sua confidente por toda sua vida.

Quando criança Évora sempre estava fazendo amigos mais velhos que ela, os quais sempre a mantiveram com um olhar no futuro. Quando jovem foi viver com sua avó, que havia sido educada por freiras, e assim acabou passando por uma experiência que a ensinou a desprezar todas as mais severas morais.

Cesária (Cise para seus amigos) sempre cantava uma infinidade de canções e fazia apresentação aos domingos na praça principal da sua cidade acompanhada por seu irmão Lela no saxofone. Mas sua vida estava intrinsecamente ligada ao bairro Lombo, que havia sido ocupada pelo exército português. Lá ela aprendeu sobre a vida e cantou com compositores como Gregório Gonçalvez (um homem carismático e que adorava teatro de rua).

Aos 16 anos conheceu um marinheiro chamado Eduardo que a ensinou os tradicionais estilos de música caboverdeanas como a morna e a coladera. As mornas (que possivelmente provém de mourn e que significa lamento) são canções ligadas à tristeza, mágoa e desejos impossíveis de serem realizados. Évora começa a cantar em bares e hotéis, e com a ajuda de alguns músicos locais ganhas estímulo a desenvolver suas habilidades e logo já é proclamada a "Rainha da morna" por seus fãs. Ela se torna bastante famosa em Cabo Verde, mas internacionalmente seu reconhecimento ainda era pequeno.

Aos vinte anos foi convidada a trabalhar como cantora para o Congelo - companhia de pesca criada por capital local e português - e ficou emocionada ao poder fazer parte do que ela considerava uma notável empresa. Seu salário vinha de suas apresentações que eram basicamente em jantares. Fora esse tempo Cesária era de volta uma mulher comum.

Entre os amigos de Évora estava o compositor favorito dos caboverdeanos: B. Leza ("beleza"), o qual faleceu quando ela tinha apenas sete anos de idade. Ela ainda tem poucas lembranças de sua infância e sempre está falando de Eulinda, seu antigo vizinho e amigo que vivia perto de Lombo, porto que era vangloriado por bordéis que competiam com os de Amsterdam.

Em 1975, Cabo Verde adquiriu sua independência, mas seu novo líder Amilcar Cabral foi assassinado durante o tumulto causado com o fim de cinco séculos sob domínio de Portugal. Évora ainda era popular na época, mas sua fama não estava a levando em direção ao sucesso financeiro. Frustrada por questões pessoais e financeiras, aliados à dificuldade econômica e política de Cabo Verde, ela desistiu de cantar para sustentar sua família. Évora ficou sem cantar por dez anos, os quais ela descreve como seus "dark years". Durante esse tempo ela lutou contra o alcoolismo.

Césaria Évora retomou suas apresentações após ter sido encorajada por Bana (líder de banda e empresário cabo-verdiano exilado em Portugal). Ele fez convites à ela para realizar shows em Portugal, os quais ela aceitou e o fez com patrocínio de uma organização local de mulheres.

Em Cabo Verde um francês chamado Jose da Silva persuadiu-a para ir a Paris e lá Évora acabou gravando um novo álbum em 1988 "La diva aux pied nus" (a Diva dos pés descalços) - que é como se apresenta nos palcos. Ao contrário do que é divulgado, ela canta descalça simplesmente por gostar, por se sentir segura descalça, e não em solidariedade aos sem-teto e às mulheres e crianças pobres de seu país. Esse álbum foi aclamado pela crítica e Évora se encontrou numa dramática volta à música e que teve como ápice a gravação do álbum "Miss Perfumado" em 1992. Ela se tornou uma estrela internacional aos 47 anos de idade.

Com quase 70 anos, já gravou 17 álbuns fonográficos e acumula prêmios internacionais que já perdeu a conta; suas músicas são sucesso onde quer que sejam tocadas e seus shows são mais disputados do que os de grandes estrelas pops. Cesária Évora afirma que não é rica e que não quer enriquecer, mas quem a conhece afirma que a Diva de pés descalços tem uma vida confortável; mais do que merecida!

Em 2007 ela esteve mais uma vez pelo Brasil onde fez shows, participou de programas de televisão e visitou os muitos amigos que deixou por aqui, a exemplo do ex Ministro Gilberto Gil e da outra Diva, Marisa Monte. Por isso tudo e por tanto mais que não foi descrito aqui é que classifico Cesária Évora como uma Deusa viva da música mundial; seu renome, prestígio, história e a singeleza de suas canções a transformaram num mito que dificilmente será esquecida, mesmo após milhares de anos...!


Carlos Henrique Mascarenhas Pires
www.irregular.com.br

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 30/01/2009
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