Wein Vöch
Berlim, sanatório. A única coisa que ele sabia era de onde viera. Não sabia quem era, como chegou ali, porque chegou ali. Não tinha amigos, familiares, conhecidos. Ninguém. Completamente esquecido por todos. Era sempre tradado à base de muita força e injeções de sedativos pois tinha um comportamento muito agressivo, o suficiente para que ele não pudesse sair de onde estava internado. Chamavam-no de Wein. Wein Vöch.
Wein era um homem corpulento, já com seus, aparentes, 30 mal-vividos anos de idade. Um lampejo ou outro vinha à mente, muitas vezes sobre o grande Berliner Mauer, mas nada que pudesse dar a ele alguma resposta. Tinha características típicas de alemão, tais como seus olhos azuis, cabelos loiros e um temperamento de dar nos nervos a qualquer monge tibetano. Era um monstro e ogro o bastante para serem sempre necessários mais de dois médicos para sanar o pobre infeliz.
Certa vez, numa morna noite alemã, houve um escândalo no sanatório. Muitas pessoas morreram e também vários internados fugiram. Inclusive Wein. Os profissionais do local foram rendidos, por seres vestidos de preto, e mortos. Todos. Ao se apoderarem do local, esses estranhos invasores destruíram tudo o que era quebrável dentro do local. Quando acharam as fichas dos internos, olharam uma a uma. Mataram os mais fracos, morderam os mais fortes. Inclusive Wein, que chegou a perseguir, ainda com sangue escorrendo no pescoço, quem havia lhe feito tal atrocidade enquanto dormia. Lá pelo meio do mato, sentiu-se extremamente ruim, algo mudava nele. Encontrou uma gruta por onde passou uns dias.
E então, ele percebeu que o Sol lhe incomodava, que não poderia sair enquanto houvessem raios da estrela maior brilhando. Foi complicado para ele, muito. Só andava, então, pela noite. O que era vivo ele usava de refeição.
Certa vez, lá pelas tantas de sua viagem que mais parecia uma peregrinação sem fim, encontrou arruaceiros da noite fazendo esbórnia perto do lugar onde ele estava usando como refúgio, nas bordas de uma cidade. Ao se encontrar com o estranho, o grupo investiu contra Wein, que não deixou por menos e deu um pau neles. Ao tentar mordê-los, percebeu que seu sangue era ruim, tinha um gosto amargo, não era como o das outras criaturas que ele costuma usar como alimento. Então, um dos vampiros que havia apanhado, ainda não chão, disse sobre a existência de um lugar para eles, O Feudo. Wein, mesmo sem acreditar muito, seguiu o caminho que foi ensinado pelo companheiro de sangue ao solo e deixou-os ali à grã-ventura.
Ao chegar ao local, ficou sabendo de tudo: o que era, porque fazia aquilo, onde estava (em Las Sombras, mais precisamente); ganhou roupas, instruções, moradia. Tentou com um emprego, como vigia noturno, mas ele sentia um instinto mais forte que o levava para longe de sua obrigação e que o fazia se perder pela noite, fazendo barbáries.