Memórias de Maria Teresa - Num Carnaval
“Eu devia ter uns 8 anos. O filho da minha mãe adotiva, a quem eu chamava de tio por ter idade de ser meu pai, e sua segunda esposa me convidaram para uma matinê de carnaval num badalado clube da cidade. A esposa dele deu alarme quando pegou meu cabelo pra ornamentar: ‘Nossa mãe, a menina tá cheia de piolho!’- o que na verdade era um exagero. Como o meu ‘tio-irmão’ não perdia uma oportunidade sequer de me avacalhar, só me chamou então de ‘porca-pra-baixo’. Disse que era uma vergonha eu não cuidar direito da minha higiene pessoal.
Todas as crianças que eu conheci tiveram piolhos uma vez ou outra na vida, principalmente quando começavam a freqüentar escola. Eu me cuidava sim, mas a praga é resistente pra caramba e às vezes demora muito pra gente se livrar completamente desses parasitas. Talvez fosse mesmo uma fase, porque mais tarde nunca mais tive piolhos.
Mas o que ele falou - e como falou - me marcou, me magoou muito, principalmente por causa da inferioridade que eu sentia. ‘Pode deixar, tia, precisa me arrumar mais não... Eu não quero mais ir pro Carnaval.’ – disse enquanto tentava me desvencilhar dela.
Mas é claro que eles ficaram zangados comigo: ‘E ainda se ofende?? Deixa de besteira, menina!’ - ele me disse.
Ele contava comigo pra fazer companhia à filhinha dela, uns quatro anos mais jovem do que eu. Queria que eu fosse junto e brincasse com a menina pra que os dois pudessem curtir o Carnaval mais à vontade... Eu também sou tinhosa: bati o pé e não fui! Não tinha porque sair com eles, já que eu era ‘uma porca piolhenta’.”