O Cordel
Expostos nas feiras-livres do nordeste, pendurados em cordão ou cordéis, os livretos de contos populares, escritos com rima e métrica, contavam os fatos marcantes da região ou mesmo do país, dando assim o nome de literatura de cordel. Foi esse o primeiro estilo de literatura que conheci, na minha adolescência, quando os principais temas versavam sobre Lampião, Padre Cícero do Juazeiro, Frei Damião, políticos e coronéis do sertão.
O estilo literatura de cordel geralmente apresenta uma sátira dos seus personagens, tornando uma leitura bem humorada, pela expectativa do arremate final de cada verso. Os vendedores desses livretos faziam a leitura de forma cantada, atraindo ouvintes para os contos engraçados, constituindo assim o seu marketing de vendas.
Os mais apaixonados pelo estilo de cordel não só levavam esses livretos para casa, como também os decorava e recitava para os amigos, como se de sua autoria fosse. Fui também um desses plagiadores, sem entender o sentido do plágio, apenas com a intenção de divulgar aquelas histórias escritas de maneira bem engraçadas.
Mesmo depois de ter lido os principais clássicos da literatura brasileira, ao começar a escrever algo de autoria própria, optei pelo cordel para homenagear familiares e amigos, principalmente nas festinhas de aniversário ou em comemoração a alguma conquista pessoal ou profissional. Assim também o fiz quando resolvi falar um pouco das belezas de Maceió, a partir da minha aposentadoria. Tornando-me um viciado em caminhadas pela orla, teria de aflorar algo na mente, ao contemplar tantas belezas naturais.
Iniciei com o estilo de sextilhas, com sete sílabas poéticas e rimas alternadas. Posteriormente, pela maior facilidade das rimas, adotei também o estilo de quadras, com rimas também alternadas. Sempre me apresentei como um matuto de origem sertaneja, dizendo ter escolhido o estilo exatamente para melhor caracterizar a minha origem. Entretanto, como ainda predomina o preconceito entre os que se dizem civilizados, achando que o estilo é dos incultos, procurei me amparar nos maiores poetas brasileiros, para mostrar os fundamentos desse estilo adotado. Ao citar Gonçalves Dias, todos tiram o chapéu, rendendo-se pela riqueza poética de Canção do Exílio, onde há quadras e sextilhas, com versos de sete sílabas poéticas e também com rimas alternadas, assim como:
"Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá".
Assim, ninguém ousa criticar tão famoso poeta, que apesar do apelo a Deus em seu grande poema Canção do Exílio, morreu num naufrágio do navio em que voltava para a sua terra, "onde canta o sabiá".