FRANZ KAFKA (2)

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A Metamorfose e O Processo

“Talvez haja apenas um pecado capital: a impaciência. Devido à impaciência fomos expulsos do paraíso. Devido à impaciência não podemos voltar.” (Franz Kafka)

O conto A Metamorfose é uma das melhores obras literárias de todos os tempos. O protagonista é o jovem Gregor Samsa, um caixeiro-viajante, que um dia ao acordar, depois de uma noite de sono, vê-se transformado em um inseto. Ele está atrasado para o trabalho, precisa sair rapidamente da cama, mas não domina ainda seu novo corpo, agora rígido e com várias pernas. Consegue subir pelas paredes e sente uma irresistível vontade de comer as partes mofadas e, delas, se alimenta. Percebe que ainda pensa e sente como um ser humano.

Inconformado com o atraso de Gregor, seu chefe vai até sua casa, e, do lado de fora da porta, queixa-se do atraso de seu funcionário e do baixo rendimento que, ultimamente, vem apresentando no trabalho. Gregor responde, mas, devido à metamorfose, sua voz é a de um inseto e não se faz entender pelo gerente. Tenta falar com a família, porém, nem seu pai, nem sua mãe e sua irmã conseguem entendê-lo. Ao abrir a porta, seu chefe fica horrorizado. Samsa vive um verdadeiro pesadelo...

Kafka não é tão especifico quanto “a patente” do inseto. Ele apenas diz que era um bicho rastejante, de ventre marrom, um inseto daninho e nojento. O que nos leva a supor que (no Brasil) seria uma barata. No entanto, pode ser um inseto qualquer

A família o deixa isolado no quarto e só sua irmã se preocupa em levar-lhe diversos tipos de comida, tentando adivinhar qual lhe agradará. Sua mãe tem medo e nem quer vê-lo. Surgem as dificuldades financeiras. Seu pai aposentado, se vê obrigado buscar um emprego, e a sua irmã, também. Não sendo o suficiente, acabam por alugar um quarto da casa. Samsa sobrevive em seu quarto, cada vez mais afastado de tudo e de todos, embora, ainda, se preocupe com o destino de sua família.

Certo dia, quando sua irmã tocava violino para os hóspedes de sua casa, Gregor, encantado pela música, sai do quarto, onde, já muito doente, vivia trancado. Os hóspedes ao vê-lo se assustam e deixam a casa, enojados. Sua família, que até então, vinha dando mostras de despreocupação com o seu caso, agora, pensa no que fazer com ele. A própria irmã, que tanto o havia entendido, diz que já o toleraram bastante e já fizeram todo o possível. Afirma que o erro foi acreditar que Gregor pudesse voltar, de alguma maneira, a forma humana. Na manhã seguinte, a empregada o encontra, em seu quarto, morto. E por ser um inseto é jogado no lixo. A família se sente liberta de um peso e procura dar seguimento a sua vida. Começa a fazer novos planos, inclusive encontrar um bom marido para casar a menina.

O que Kafka nos quer dizer com a possibilidade de um ser humano poder, de um momento para outro, virar uma barata? Quer nos dizer que o pesadelo Samsa é um fato social. Diz-nos que o cidadão Gregor Samsa era um respeitado trabalhador, sustentáculo importante de sua família, que devido a uma doença que o incapacitou, tornou-se um peso morto para ela. Deixou de ser gente e transformou-se num mísero inseto, num parasita. Um problema cuja solução seria o seu internamento num asilo de inválidos. Convém lembrar que no mundo moderno qualquer um pode se encontrar na mesma situação do cidadão Samsa.

O Processo se tornou famoso porque foi tema de filme, dirigido por Orson Wells. Nesta obra, Kafka relata a história do Sr. Joseph K., procurador de um banco, que, ao acordar, após uma noite de sono, encontra sua residência e seu próprio quarto, cheio de gente a investigar com o objetivo de abrir contra ele um processo, apesar de não serem funcionários de Justiça. Josef K. não fazia idéia do que se tratava e ninguém, nem mesmo os que lhe investigavam, informavam qual a razão de semelhante processo. Apesar de não ter sido preso, é obrigado a comparecer várias vezes ao Tribunal de Justiça, sem culpa formada e sem saber qual a acusação de que é alvo. Inquieto, por desconhecer o que fez de errado, procura indagar de pessoas estranhas qual o motivo da denúncia para que dela possa se defender. Mas, em vão, não obtém respostas. No Tribunal fatos surpreendentes são acareados, e, um deles, é que Josef teve uma relação erótica com uma pessoa que não conhece!

A cada tentativa de defesa sente-se cada vez mais culpado, terminando por ser condenado a despeito de ignorar qual foi o seu crime. Um horrível pesadelo, interminável, esquisito, estranho e agressivo, mas, real, apesar de fantasmagórico. Infelizmente o desfecho é chocante. Josef K. é morto com uma brutal facada no peito. Absurdamente, em caráter oficial, foi feita a justiça! Do ponto de vista moral, o que se vê é o assassinato de um indivíduo de bom caráter.

Dizem os estudiosos do assunto que o crime do qual é acusado Sr. Joseph K. no conto O Processo, é uma alegoria ao pecado original. Um mito religioso, que teria ocorrido a milhões de anos do qual toda pessoa humana é acusada, sem saber por que e por quem foi condenado, base da angústia humana, numa extraordinária situação Kafkiana. ®Sérgio.

Leia Também: Franz Kafka – Grandes Prosadores. (clique no link)

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