A arte de cuidar
Eu sempre fui muito indecisa nas minhas escolhas! Sempre fiquem em dúvida se começava uma faculdade ou se ia ser voluntária na África, se gostava mais de verde ou de laranja, se queria Direito ou Medicina...
Sempre quis fazer tudo e não queria fazer nada; Quantas coisa eu comecei e não terminei, incontáveis vezes que comecei no inglês, no cursinho, na dieta, nos bloggs.. Nada me encantava ao ponto de me fazer continuar. Só tenho certeza de uma coisa, eu quero fazer o meu melhor para as pessoas, quero cuidar, ajudar.. Quero viver para os outros (não que minha vida seja ruim - é muito boa, por sinal)!
Quando decidi fazer Enfermagem, eu tinha uma visão bem distorcida do que era a profissão de um enfermeiro. "Eu não nasci pra dar banho em doente", dizia eu na minha ignorância.. Mesmo assim resolvi fazer, na 'falta de coisa melhor'.. Agora eu sei o quanto fui injusta com a profissão mais nobre que existe.
Florence Nightingale era uma menina rica, que nasceu na Itália, mas morava na Inglaterra, lá pras bandas de 1820. Florence era diferente das outras meninas de Londres, era inteligente, era indignada com a vida fútil que levava, não gostava de ser inútil, queria fazer algo para mudar a humanidade. Ficava entediada com as compras que fazia, com a mansão onde todos os empregados a serviam como uma princesa. Dizem que ninguém gosta da vida que leva, né?
Florence tentou se dedicar a matemática, e estudou escondida por anos, até ver que ainda não era o suficiente pra satisfazer sua necessidade de agir. Não era só um capricho de uma burguesa, era mais que isso.
Até que um dia, Florence conheceu a real pobreza.. a pobreza de saúde. Ficou escandalizada com as condições dos hospitais. Naquela época, só as bêbadas, prostitutas e mendigas aceitavam ser enfermeiras, não por vontade de ajudar, mas por medo do 'castigo divíno' pela vida que levaram. E os médicos.. os médicos só queriam saber do status que possuiam.
Depois de muita luta, muita briga em casa, muito sofrimento, Florence decidiu partir para a Guerra da Criméia, aos 34 anos, fazer o que ninguém tinha coragem, cuidar! As condições eram péssimas, 15 mil doentes, mutilados e feridos eram jogados no chão, ao longo de 6 km de desespero, corpos, lixo e bactérias. Só para entender a tamanha falta de condições: Os homens estavam com diarréia (devido a cólera) e só existiam duas 'valas', que eram esvaziadas uma vez por semana.
Mas Florence foi forte, superou o preconceito e amou os doentes, até os ultimos minutos de suas vidas. Ficou conhecida como a Dama do Lampião, pois andava pela madrugada entre os feridos (daí o lampião que é usado como símbolo da enfermagem).
Florence sobreviveu e morreu aos 90 anos, após ter cumprido sua missão de amar e cuidar, após ter mudado a visão da enfermagem e de ter treinado novas moças de família para ser enfermeiras.
Eu me apaixonei pela determinação de Florence, agora eu acredito que a nobreza dessa profissão só se deu por causa dela.
Quero ser enfermeira, quero cuidar, quero amar, quero um sorriso em meio as dores, quero poder amenizar o sofrimento.. Agora eu tenho certeza, encontrei minha missão e eu não tenho medo do que virá, não tenho medo dos fantasmas que irão me assombrar nessa minha longa jornada.
Ei, se eu tiver uma filha, o nome dela vai ser Florence.. tomara que ela venha com a força de vontade da mãe da enfermagem.