HENRIQUETA LISBOA: A VOZ SENSÍVEL DE MINAS GERAIS
Henriqueta Lisboa, poeta e ensaísta mineira (Lambari 1904 – Belo Horizonte 1985), parte de sua vida morou na cidade de Campanha onde se dedicou ao magistério. Estudou, também, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, vindo a ensinar literatura nas universidades daquelas cidades. Consagrada, principalmente, pelos críticos Antônio Cândido (Rio de Janeiro 1918) e Alfredo Bosi (São Paulo 1936), Henriqueta recebeu diversos prêmios literários. Em 1971, pelo conjunto de sua obra a poeta foi agraciada com o Prêmio Brasília de Literatura. Henriqueta flertou, certo tempo, com o simbolismo, no entanto, cedeu à influência do modernismo não deixando de mão os temas que não se acorrentam a nenhuma escola literária. Bosi Escreveu, certa feita, que Henriqueta distinguiu-se como sutil tecedora de imagens capazes de dar uma dimensão metafísica a seu intimismo radical. Henriqueta foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras quebrando, a partir daí, a hegemonia masculina naquela Casa Literária. Tendo publicado seu primeiro livro aos 21 anos, dedicou parte de sua vida à literatura infantil. A poesia desta escritora mineira tem o doce sabor das velhas paisagens mineiras, levando-nos a sua lírica intimidade. Entre os prêmios recebidos destacam-se: Prêmio de Poesia Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, pelo livro Enternecimento, em 1931; Medalha e Diploma de O Malho como uma das cinco intelectuais brasileiras laureadas no plebiscito “Levemos a mulher à Academia de Letras”, em 1937; Prêmio de Poesia “Othon Bezerra de Mello”, da Academia Mineira de Letras, em 1955; Diploma de Personalidade de Minas Gerais no setor de literatura, em 1960; Cidadã Honorária de Belo Horizonte, em 1969. Livros publicados: Fogo-fátuo (1925); Enternecimento (1929); Velário (1936); Prisioneira da noite (1941); O menino poeta (1943); A face lívida (1945); À memória de Mário de Andrade (1945); Flor da morte (1949); Madrinha Lua (1952); Azul profundo (1955); Lírica (1958); Montanha viva (1959); Além da imagem (1963); Nova Lírica (1971); Belo Horizonte bem querer (1972); O alvo humano (1973); Reverberações (1976); Miradouro e outros poemas (1976); Celebração dos elementos: água, ar, fogo, terra (1977); Pousada do ser (1982) e Poesia Geral (1985). Fiquemos, portanto, com três raríssimas jóias produzidas pelo vasto universo da mente de Henriqueta:
Divertimento
O esperto esquilo
ganha um coco.
Tem olhos intranqüilos
de louco.
Os dentes finos
mostra. E em pouco
os dentes finca
na polpa.
Assim, com perfeito estilo,
sob estridentes
dentes,
o coco, em segundos, fica
todo oco.
É estranho
É estranho que, após o pranto
vertido em rios sobre os mares,
venha pousar-te no ombro
o pássaro das ilhas, ó náufrago.
É estranho que, depois das trevas
semeadas por sobre as valas,
teus sentidos se adelgacem
diante das clareiras, ó cego.
É estranho que, depois de morto,
rompidos os esteios da alma
e descaminhado o corpo,
homem, tenhas reino mais alto.
Noturno
Meu pensamento em febre
é uma lâmpada acesa
a incendiar a noite.
Meus desejos irrequietos,
à hora em que não há socorro,
dançam livres como libélulas
em redor do fogo.